São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DRAGÃO CONTROLADO

Inflação acumulada no período é de 5,26%, a mais baixa nesse tipo de comparação desde 1999

IPCA em 12 meses está abaixo da meta anual

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial de inflação, ficou em 0,37% em abril e, pela primeira vez no ano, a taxa de 12 meses (5,26%) convergiu para o centro da meta de 2004 -de 5,5%.
É a menor variação em 12 meses desde julho de 1999 (4,57%), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em março, o IPCA havia sido de 0,47%. No ano, o índice acumula uma alta de 2,23%.
Desde que o BC (Banco Central) instituiu o regime de metas de inflação, em 1999, uma taxa igual ou menor ao centro da meta só foi alcançada em 2000: o IPCA ficou em 5,67%, contra uma meta de 6%. No ano passado, a meta ajustada era de 8%. O índice ficou em 9,3%. O sistema de metas sempre prevê uma faixa de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Em 1999, o BC chegou a elevar o juro a 45% ao ano para conter o consumo, e conseqüentemente, a inflação, por causa da crise que levou à desvalorização do real.
Em 2003, a história foi parecida: com a disparada do dólar em 2002, a taxa foi elevada a 26,5% ao ano para tentar trazer a inflação de volta para a meta. Resultado: o PIB (Produto Interno Bruto) caiu 0,2% no ano passado.
Para a gerente de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, o que explica um índice anualizado tão baixo é a estabilidade do câmbio. "Os efeitos do choque cambial ficaram para trás", disse, acrescentando que a inflação está sob controle e que as altas de preços são "pontuais".
Segundo ela, a inflação de abril "foi basicamente de preços administrados [remédios, tarifas e combustíveis]". As maiores pressões vieram dos remédios -que subiram 3% (com impacto de 0,12 na taxa), por causa do aumento autorizado pelo governo de 5,7%.
Também puxaram a taxa para cima energia elétrica (1,21%, com impacto de 0,06%) e gás de cozinha (2,35%, com contribuição de 0,04 ponto). Os artigos de vestuário subiram 1,11%.
Por outro lado, uma deflação dos alimentos (-0,34%, com impacto negativo de 0,08 ponto percentual), embalada pela boa safra, ajudou a reduzir o IPCA. Tiveram quedas de destaque tomate, feijão carioca, arroz, frutas e carnes.
Ainda que num ritmo menor do que em março, o álcool caiu 4,20%. A gasolina cedeu 1,41%.

Risco petróleo
Apesar da queda da inflação, uma variável em especial preocupa especialistas ouvidos pela Folha: a alta recorde do preço do petróleo, que já se reflete em alguns aumentos no atacado.
Para Alexandre Sant'Anna, da administradora de recursos ARX Capital, a inflação dos preços livres (sensíveis ao aumento dos juros) caiu em abril, o que mantém espaço para o Banco Central optar por um corte de 0,25 ponto percentual neste mês. A taxa básica de juros está em 16% ao ano.
A gasolina, porém, poderá subir até 10% ao consumidor, se a Petrobras ajustar seus preços aos do mercado externo -há, segundo ele, uma defasagem na refinaria de cerca de 20%.
A própria Petrobras informou, no entanto, que ainda tem uma "gordura" para queimar antes de alinhar seus preços e que não há previsão de reajustes.
O economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, minimiza o possível aumento da gasolina. Diz que o próprio BC já incorporou na meta deste ano uma elevação de 9%.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.