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Compulsório é decisão do BC, reage Meirelles
Ele não comenta desejo de Lula de reduzir recolhimento
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA
Com toda a educação e usando apenas argumentos técnicos, o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
deixou no entanto bem claro
ontem que a redução dos compulsórios "é uma decisão do
BC".
Explicou bem didaticamente: "Por norma de governança,
o BC não comenta a política
monetária, o que significa o nível da taxa de juros e os compulsórios. Também não faz
previsão sobre taxa de câmbio".
As declarações de Meirelles
referem-se à informação divulgada pela Folha, no sábado, segundo a qual o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva já decidiu
diminuir o compulsório sobre
os depósitos bancários como
forma de reduzir os juros praticados no país.
A Folha adiantou também
que o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, já debateu o
tema com empresários em São
Paulo e, nesta semana, seria a
vez de levá-lo a Meirelles, que
retorna no sábado ao país.
Meirelles recusou-se também, sempre amparado nas
"normas de governança" do
BC, a dizer se já havia sido consultado sobre a redução dos
compulsórios.
O recolhimento compulsório
é um instrumento usado pelo
BC para controlar o volume de
dinheiro em circulação. Por
meio dele, a autoridade monetária recolhe a seus cofres uma
parte do dinheiro depositado
em contas correntes, cadernetas de poupança e CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
Reduzir os compulsórios significa, portanto, deixar mais
recursos em circulação na economia, o que, em tese ao menos, diminui o custo do dinheiro. Ou seja, reduzir o compulsório tem efeito similar ao de
reduzir a taxa de juros, medida
que o BC tem se recusado a fazer na velocidade desejada pelo
ministro da Fazenda.
A estada de Meirelles na Basiléia, sede do BIS (Banco de
Compensações Internacionais,
uma espécie de banco central
dos bancos centrais), só pode
ter servido para reforçar sua
posição de guardião da moeda.
Ganhou até uma defesa, sem
mencioná-lo especificamente,
do presidente do BCE (Banco
Central Europeu), o francês
Jean-Claude Trichet, atacado
pelo recém-eleito presidente
da França, o direitista Nicolas
Sarkozy, pela sobrevalorização
do euro ante o dólar, assim como Meirelles é atacado pela esquerda do PT e setores empresariais pelo real forte.
A Folha expôs a Trichet essa
paradoxal combinação de a direita e a esquerda, em países diferentes, unirem-se nas críticas aos respectivos BCs. Trichet respondeu: "O BCE é o
guardião da moeda para todas
as sensibilidades [políticas],
moeda que é multinacional ,
pois serve a 318 milhões de pessoas de 13 países".
À parte o fato de que o real
não é multinacional nem serve
a tantas pessoas assim, Meirelles poderia perfeitamente repetir o raciocínio de que a moeda brasileira também é "para
todas as sensibilidades", não
apenas para certos setores políticos ou econômicos. Ele mesmo, no entanto, aceita como
normal as críticas: "Compete
aos líderes políticos ou econômicos reclamar".
Na reunião fechada sobre a
economia global, realizada a
cada dois meses, Meirelles verteu otimismo sobre a economia
brasileira, citando dados conhecidos sobre crescimento do
país e da massa salarial e sobre
o fato de tanto a inflação como
a situação fiscal estarem sob
controle.
Ouviu, em troca, idêntico cenário otimista para a economia
mundial. "As notícias sobre o
crescimento global são muito
encorajadoras", resumiu Trichet. Mais: "As turbulências de
alguns meses atrás foram absorvidas pela economia global
e pelo sistema financeiro", afirmou, em óbvia alusão aos tremores no mercado acionário
chinês e imobiliário dos EUA.
Os banqueiros centrais reunidos na Basiléia também manifestaram o "sentimento", segundo Trichet, de que está havendo "mudança estrutural de
preços relativos", não apenas
fatores conjunturais.
Traduzindo do economês: os
preços elevados do petróleo,
por exemplo, e de muitas commodities vieram para ficar. Do
ponto de vista brasileiro, significa uma inversão total em um
cenário que o líder trabalhista
Leonel Brizola gostava de chamar de "perdas internacionais".
Ou seja, a produção de países
em desenvolvimento tinha
preços baixos, enquanto a dos
países desenvolvidos subia
sempre mais. Agora, é uma era
ou pelo menos um momento
de "ganhos internacionais",
brinca Meirelles.
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