São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

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Compulsório é decisão do BC, reage Meirelles

Ele não comenta desejo de Lula de reduzir recolhimento

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA

Com toda a educação e usando apenas argumentos técnicos, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deixou no entanto bem claro ontem que a redução dos compulsórios "é uma decisão do BC".
Explicou bem didaticamente: "Por norma de governança, o BC não comenta a política monetária, o que significa o nível da taxa de juros e os compulsórios. Também não faz previsão sobre taxa de câmbio".
As declarações de Meirelles referem-se à informação divulgada pela Folha, no sábado, segundo a qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já decidiu diminuir o compulsório sobre os depósitos bancários como forma de reduzir os juros praticados no país.
A Folha adiantou também que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já debateu o tema com empresários em São Paulo e, nesta semana, seria a vez de levá-lo a Meirelles, que retorna no sábado ao país.
Meirelles recusou-se também, sempre amparado nas "normas de governança" do BC, a dizer se já havia sido consultado sobre a redução dos compulsórios.
O recolhimento compulsório é um instrumento usado pelo BC para controlar o volume de dinheiro em circulação. Por meio dele, a autoridade monetária recolhe a seus cofres uma parte do dinheiro depositado em contas correntes, cadernetas de poupança e CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
Reduzir os compulsórios significa, portanto, deixar mais recursos em circulação na economia, o que, em tese ao menos, diminui o custo do dinheiro. Ou seja, reduzir o compulsório tem efeito similar ao de reduzir a taxa de juros, medida que o BC tem se recusado a fazer na velocidade desejada pelo ministro da Fazenda.
A estada de Meirelles na Basiléia, sede do BIS (Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais), só pode ter servido para reforçar sua posição de guardião da moeda.
Ganhou até uma defesa, sem mencioná-lo especificamente, do presidente do BCE (Banco Central Europeu), o francês Jean-Claude Trichet, atacado pelo recém-eleito presidente da França, o direitista Nicolas Sarkozy, pela sobrevalorização do euro ante o dólar, assim como Meirelles é atacado pela esquerda do PT e setores empresariais pelo real forte.
A Folha expôs a Trichet essa paradoxal combinação de a direita e a esquerda, em países diferentes, unirem-se nas críticas aos respectivos BCs. Trichet respondeu: "O BCE é o guardião da moeda para todas as sensibilidades [políticas], moeda que é multinacional , pois serve a 318 milhões de pessoas de 13 países".
À parte o fato de que o real não é multinacional nem serve a tantas pessoas assim, Meirelles poderia perfeitamente repetir o raciocínio de que a moeda brasileira também é "para todas as sensibilidades", não apenas para certos setores políticos ou econômicos. Ele mesmo, no entanto, aceita como normal as críticas: "Compete aos líderes políticos ou econômicos reclamar".
Na reunião fechada sobre a economia global, realizada a cada dois meses, Meirelles verteu otimismo sobre a economia brasileira, citando dados conhecidos sobre crescimento do país e da massa salarial e sobre o fato de tanto a inflação como a situação fiscal estarem sob controle.
Ouviu, em troca, idêntico cenário otimista para a economia mundial. "As notícias sobre o crescimento global são muito encorajadoras", resumiu Trichet. Mais: "As turbulências de alguns meses atrás foram absorvidas pela economia global e pelo sistema financeiro", afirmou, em óbvia alusão aos tremores no mercado acionário chinês e imobiliário dos EUA.
Os banqueiros centrais reunidos na Basiléia também manifestaram o "sentimento", segundo Trichet, de que está havendo "mudança estrutural de preços relativos", não apenas fatores conjunturais.
Traduzindo do economês: os preços elevados do petróleo, por exemplo, e de muitas commodities vieram para ficar. Do ponto de vista brasileiro, significa uma inversão total em um cenário que o líder trabalhista Leonel Brizola gostava de chamar de "perdas internacionais".
Ou seja, a produção de países em desenvolvimento tinha preços baixos, enquanto a dos países desenvolvidos subia sempre mais. Agora, é uma era ou pelo menos um momento de "ganhos internacionais", brinca Meirelles.


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