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Após decreto, país volta a ameaçar Bolívia
Petrobras chama de "seqüestro" de receita a medida que dá monopólio à estatal boliviana para exportar derivados de petróleo
Petrobras, que terá de vender produção à YPFB por preço abaixo do mercado, diz que recorrerá à Justiça e ameaça não investir no país
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro foi pego
de surpresa pelo impacto da regulamentação do decreto de
nacionalização dos derivados
de petróleo na Bolívia. O presidente da Petrobras, José Sérgio
Gabrielli, qualificou a decisão
de "seqüestro" de receita.
Ele disse que a estatal irá à
Justiça -na Bolívia e na Holanda- para garantir pagamento
adequado por suas duas refinarias e não deverá fazer investimentos adicionais no país.
A empresa entregou ontem
sua proposta final de preço e
aguardará por dois dias a resposta boliviana. A publicação
do decreto mudou a posição da
Petrobras: em vez de manter
uma posição minoritária, como
inicialmente previsto, a estatal
quer agora vender 100% das
ações aos bolivianos.
Em nota, a estatal disse que,
"com o objetivo de viabilizar
um acordo com a YPFB, a Petrobras apresentou oferta com
os valores mínimos compatíveis com a capacidade de geração de receita pelas refinarias".
"Do ponto de vista do governo, a publicação do decreto
causou consternação e desapontamento", afirmou o ministro Silas Rondeau (Minas e
Energia). "A regulamentação
estava prevista no decreto supremo. O problema todo é o impacto dessa regulamentação".
Rondeau disse que ficou sabendo do decreto pela imprensa.
A Petrobras disse que o decreto estabelece que a YPFB
(estatal boliviana) terá o monopólio da exportação dos derivados de petróleo produzidos nas
refinarias (leia ao lado). Elas receberão um valor fixo, abaixo
do de mercado, pelos produtos.
Em um dos produtos -chamado de "petróleo reconstituído"-, o valor fixo pago à Petrobras seria de US$ 30,35 por barril, enquanto, no mercado internacional, o valor é de US$ 55
por barril. "Evidentemente que
isso reduz enormemente o fluxo de caixa das refinarias e afeta fortemente nossa atividade
na Bolívia", disse Gabrielli.
Com a nova legislação, as
duas refinarias da Petrobras no
país serão nacionalizadas. Os
dois países negociam a indenização a ser paga. A Bolívia quer
pagar cerca de US$ 70 milhões,
e a Petrobras pede um valor
próximo de US$ 215 milhões.
A Petrobras foi dura ao qualificar a atitude do governo boliviano e usou os termos "expropriação" e "seqüestro". Na avaliação da empresa, o quadro
pós-decreto permite apenas os
investimentos necessários para
manter a produção de gás natural nos níveis que garantam a
exportação para o Brasil de
aproximadamente 30 milhões
de metros cúbicos por dia.
"Evidentemente, nesse quadro, dificilmente poderíamos
pensar em novos investimento
na Bolívia", disse Gabrielli.
"Nós temos que levar em conta
como estamos sendo tratados
na refinaria para a definição de
nossos investimentos na exploração. É o risco do negócio em
um país que está tratando da
refinaria com um seqüestro
forte, importante, do nosso fluxo de caixa", afirmou.
Depois, o executivo chegou a
admitir a hipótese de investimentos adicionais, mas com
uma taxa de retorno maior, para compensar o risco-Bolívia.
Itamaraty
O Ministério das Relações
Exteriores divulgou nota qualificando de unilateral o gesto do
governo boliviano. Segundo a
nota, o governo brasileiro "não
pode deixar de notar o impacto
negativo que este e qualquer
outro gesto unilateral pode ter
na cooperação entre os dois
países". Segundo o texto, a medida pode "inviabilizar" a negociação sobre as refinarias.
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