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COMÉRCIO
Atacadistas deixariam de ser intermediários e passariam a distribuir produtos e cuidar dos itens nos pontos-de-venda
Indústria quer modificar setor atacadista
FÁTIMA FERNANDES
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria e o seu tradicional
parceiro, o atacado, estão em crise. Responsáveis pela compra e
distribuição de produtos no pequeno comércio, os atacadistas,
que faturaram R$ 28,7 bilhões em
99, estão sendo obrigados a mudar a estratégia de operação.
A indústria quer que eles funcionem como uma espécie de
"terceiro braço", o que significa
distribuir os produtos e também
cuidar dos itens nos pontos-de-venda, deixando, assim, de ter só
a função de intermediários.
Essa pressão para as mudanças
se intensificou neste ano, a ponto
de a indústria e o atacado terem
iniciado debates para traçar formas de manter o negócio em pé.
Atualmente, existem menos de
1.300 atacadistas no país.
"O modelo do atacado que se vê
hoje no país fazia sentido quando
o setor funcionava como regulador de preços, na época da inflação. Hoje, a meta é eliminar elos
da cadeia para reduzir custos",
afirma Cláudio Felisoni de Angelo, coordenador do Provar (Programa de Varejo), da USP.
Os atacadistas estão começando
a testar alguns novos modelos de
atuação. Um deles transforma a
operação tradicional, que trabalha com milhares de itens e marcas, num distribuidor exclusivo
de uma ou algumas indústrias,
sem que haja conflito de marcas.
A empresa não pode, por exemplo, entregar leite em pó de duas
marcas diferentes, mas pode distribuir massa de tomate de uma
companhia e margarina de outra.
Cria-se, com isso, uma fidelidade
entre a indústria e o distribuidor.
O que também se estuda para o
setor é transformar o atacadista
num operador -a empresa passa
a cuidar da distribuição e da colocação dos produtos nos pontos-de-venda, mas o faturamento das
mercadorias é feito diretamente
da indústria para o comércio.
Por esse modelo, o pequeno varejista torna-se fiel ao atacadista,
que, por sua vez, presta mais serviços à loja de menor porte.
Apóia, por exemplo, processos
de informatização, planejamento
e reorganização de sortimentos
nos pontos-de-venda em troca de
fidelidade. O Ciro Atacadista e o
Tonin estão nesse caminho, informa Nelson Barrizzelli, consultor.
A possibilidade de os atacados
terem a sua marca própria também está em discussão. A Xereta,
fabricante de biscoitos e cereais,
de Marília (SP), está negociando
com quatro atacadistas um projeto de fabricação de produtos com
o nome do distribuidor.
"Eles gostaram da idéia, mas
exigem produtos de qualidade
com preço bem baixo, o que é difícil", diz Hélio Rodrigues, gerente da Xereta. "Para o projeto dar
certo, depende só deles."
Outra forma de manter o negócio é o distribuidor também se
transformar em dono de lojas. O
atacado Tonin, que tem sete lojas
para atender aos comerciantes,
inaugurou recentemente uma loja
em Ribeirão Preto (SP) para vender também para o consumidor.
"A concentração do varejo mudou o perfil da distribuição no
Brasil", afirma Luiz Antonio Tonin, proprietário do Tonin Super
Atacado. Segundo ele, meia dúzia
de grandes redes respondem quase pela metade da distribuição das
indústrias. Nesse cenário, diz, as
fábricas têm interesse em fortalecer a relação com o pequeno comércio e precisam, portanto, de
um novo modelo de distribuição.
Fora do páreo
A competição entre os atacadistas está acirrada. Muitos já saíram
do páreo. Em 97, existiam cerca
de 1.650 atacadistas no país. No
ano passado, esse número caiu
para menos de 1.300. A previsão
para daqui a cinco anos é que esse número caia para 800 a 900,
prevê Carlos Alberto Andrioli,
sócio-diretor da C.A.A. Consultores, especializada em varejo.
Segundo ele, vão sobreviver os
atacadistas que aceitarem a função de operadores e aqueles que
partirem para o auto-serviço. "A
indústria é que vai decidir como
será o perfil do atacado brasileiro
daqui para a frente."
Pelo levantamento da Abad,
associação que reúne os distribuidores, o faturamento dos atacadistas está em queda. Em 99, o
faturamento do setor, de R$ 28,7
bilhões, foi 2,7% menor do que o
de 98. A previsão dos especialistas do setor é que, mesmo com o
crescimento da economia, esse
número se mantenha neste ano.
Isso é resultado da concentração do varejo (as grandes redes
compram diretamente da indústria) e da própria pressão da indústria para que o atacado não
seja mais um intermediário nas
vendas, segundo especialistas
ouvidos pela Folha.
Até mesmo cadeias de pequeno
porte já eliminaram esses intermediários da operação. "Cerca
de 90% das nossas compras são
feitas diretamente dos fabricantes", diz Ado Perchom, gerente
de marketing da Good Bom, com
três lojas no interior de São Paulo.
A estimativa dos especialistas
em varejo é que existem hoje cerca de 53 mil lojas no país com até
quatro check-outs (caixa), que
representam 29,3% da distribuição de alimentos, sem contar as
lojas do tipo armazéns. É um percentual significativo, na análise
das indústrias, e que, portanto,
merece atenção.
"É por isso que precisamos de
um atacado que preste bons serviços e que seja de fato um parceiro da indústria", diz Enzo
Donna, diretor da Sofruta.
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