São Paulo, quarta-feira, 08 de junho de 2005

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AUTOMÓVEIS

Número representa 20% dos operários nos Estados Unidos; empresa teve prejuízo de US$ 1 bi no 1º trimestre

GM quer cortar 25 mil empregos em 3 anos

DANNY HAKIM
JENNIFER BAYOT
DO "NEW YORK TIMES"

A General Motors disse ontem que pretende cortar mais de 20% de sua força de trabalho operária nos Estados Unidos -cerca de 25 mil empregos- até o final de 2008. A ampla redução representa a maior leva de cortes de empregos na GM desde 1992 e deverá economizar cerca de US$ 2,5 bilhões por ano para a fabricante de carros em dificuldades, segundo a companhia.
Enfrentar esses custos "será um desafio e um incômodo, mas é claro que não enfrentá-los causará um risco significativo para a viabilidade da empresa em longo prazo", disse aos acionistas o presidente e principal executivo da GM, Rick Wagoner, na reunião anual da companhia.
O futuro da maior fabricante de carros do mundo e da indústria automobilística americana tornou-se cada vez mais nebuloso nos últimos meses. As fracas vendas de carros e caminhões, especialmente de veículos esportivos utilitários, de alta margem de lucro, causaram prejuízos de US$ 1,1 bilhão no primeiro trimestre -o pior resultado em 13 anos e um choque para os investidores. "Registramos um desempenho financeiro inaceitável", disse Wagoner ontem.
Desde então, duas das três maiores agências de classificação de crédito reduziram os papéis da dívida da companhia para a classificação de "junk" (investimento de alto risco) pela primeira vez, e as ações da GM foram negociadas em seu mais baixo nível em 12 anos, enquanto as vendas continuam estagnadas. Kirk Kerkorian, o especulador corporativo, também começou a comprar lotes de ações da companhia.
"Se tivéssemos a oportunidade de refazer os últimos cinco anos, provavelmente teríamos pensado um pouco mais em que cada produto fosse diferente e tivesse a chance de fazer sucesso, e um pouco menos em expansão das linhas de modelos", disse Wagoner, que é executivo-chefe da GM há cinco anos.
Os investidores não pareceram assustados com o anúncio de ontem e as ações da GM subiram 1,4%, ou US$ 0,43, para US$ 30,85, no pregão da tarde na Bolsa de Nova York.
No entanto, Wagoner ouviu muitas queixas de acionistas e ativistas sobre as dificuldades que a companhia enfrenta na reunião de ontem.
Além disso, a profundidade dos problemas da empresa e a extensão de sua capacidade excedente poderão exigir mais cortes, disse Kevin Tynan, principal analista de automóveis da Argus Research. Ele estimou que a companhia tem fábricas e pessoal para produzir mais de 6 milhões de veículos na América do Norte, mas produziu apenas 5 milhões em 2004.
"Esses 25 mil são uma espécie de medida simbólica na direção certa, mas não chegam nem perto do que acabará acontecendo, ou terá de acontecer", disse Tynan.
Wagoner não quis dizer quantas fábricas serão fechadas como parte dos cortes de empregos. Para evitar a perspectiva de greves, a GM deverá convencer a UAW (sindicato de trabalhadores automobilísticos) a aceitar sua proposta.
O sindicato concordou que a GM fechasse várias fábricas em suas negociações contratuais com a companhia em 2003. O atual contrato do sindicato com a GM, a Ford e a Chrysler expira em 2007.
"Nós trabalhamos muito proativamente com o sindicato nesse tipo de questão", disse Wagoner. "Vamos trabalhar com eles e encontrar uma solução que funcione para eles e para nós."

Saúde
A companhia também está atuando de maneira agressiva para reduzir os gastos com assistência à saúde dada aos funcionários, mas Wagoner disse que ainda não chegou a um acordo com o sindicato de trabalhadores automobilísticos. "Para ser franco, não tenho certeza absoluta de que vamos chegar", afirmou.
Ele não quis dizer o que acontecerá se as negociações fracassarem. "De qualquer maneira, está absolutamente claro que precisamos atingir uma redução significativa em nossa desvantagem nos custos de assistência à saúde, e rapidamente", disse Wagoner.
Paul Krell, um porta-voz da UAW, não quis fazer comentários, mas disse que o sindicato faria uma declaração ainda ontem.
A GM emprega atualmente 111 mil trabalhadores em suas fábricas de montagem e de peças nos Estados Unidos.
Os cortes de empregos planejados são um golpe para a economia da região centro-oeste dos EUA, especialmente para o Estado do Michigan, que tem um dos maiores índices de desemprego do país e vem lutando para compensar os problemas da indústria automobilística doméstica.
Wagoner disse ontem que a GM pretende gastar mais US$ 1 bilhão neste ano, assim como no próximo, ou cerca de US$ 8 bilhões por ano, para desenvolver novos carros e caminhões, sobretudo na América do Norte, e produzi-los mais rapidamente. Esses veículos devem ser vendidos por seus méritos, e não depender de grandes descontos, disse Wagoner, prometendo "diminuir a ênfase para incentivos ao longo do tempo".
A companhia também disse que está avaliando uma série de opções de reestruturação para sua divisão financeira, a General Motors Acceptance Corporation, para aliviar o custo de emprestar dinheiro agora que a GM foi classificada abaixo do nível de investimento por duas das três maiores agências de crédito.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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