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Governo cede a ruralistas para aprovar isenção de IR
Produtores nordestinos agora deverão ter benefício estendido a R$ 4 bilhões
Temor era que expirasse MP
que isentava estrangeiros
de pagar imposto nos
ganhos com títulos da dívida pública brasileira
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo aceitou conceder
mais benefícios aos produtores
rurais do Nordeste, a um custo
estimado em R$ 4 bilhões, para
aprovar a medida provisória
que isentou do Imposto de
Renda os ganhos de investidores estrangeiros com títulos da
dívida pública.
Por paradoxal que possa parecer, a negociação foi a fórmula encontrada para evitar que a
MP, cujo objetivo é atrair capital externo e alongar os prazos
da dívida federal, perca a validade ao completar 120 dias sem
ter sido votada pelo Congresso
-o prazo fixado na legislação
venceria na quinta-feira da
próxima semana.
O acerto mudou os humores
dos principais oposicionistas.
"A oposição deve ser responsável e aprovar a matéria, embora
ela tenha sido apresentada nessa forma mesquinha, de MP",
disse o líder do PSDB, Arthur
Virgílio (PSDB-AM).
"A matéria é controversa, e a
bancada do meu partido está liberada. Eu, pessoalmente, votarei a favor", disse o líder pefelista, Agripino Maia (RN).
Mas houve protestos: "Respeito os neoliberais que votam
a favor dessa medida, que é
muito grave", ironizou a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), candidata à Presidência.
Críticas
Depois de uma aprovação
apertada na Câmara dos Deputados, a MP estava parada desde o início de maio no Senado.
Era criticada pelos partidos à
esquerda, para os quais há benefício aos especuladores, e por
parlamentares ligados ao setor
empresarial, em razão de contribuir para a queda das cotações do dólar.
A saída encontrada pelo líder
do governo no Senado, Romero
Jucá (PMDB-RR), foi fazer
concessões em outra MP polêmica, também aprovada ontem, que bloqueava a pauta de
votações na Casa: a que renegocia as dívidas dos produtores
rurais nordestinos.
Editada em março pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
a medida foi um paliativo ao veto do Planalto a um projeto de
finalidade semelhante, mas
com benefícios muito superiores, aprovado pelo Congresso.
Pelo texto, defendido pelos
parlamentares ligados ao setor
agrícola, os produtores nordestinos teriam 25 anos, com quatro de carência, para pagar dívidas de todas as linhas existentes do crédito rural. Os juros, na
maior parte dos casos, seriam
negativos, ou seja, inferiores à
taxa de inflação.
As vantagens sofreram drástica redução na MP hoje em vigor, mas a Câmara restabeleceu
as condições anteriores ao votar a medida -o que levaria a
um novo veto presidencial.
Para evitar o impasse, os ruralistas concordaram em aprovar no Senado um texto com
vantagens superiores às oferecidas na proposta original do
Executivo, que, agora, passará
por novo exame da Câmara.
Foi dobrado o teto para o valor original das dívidas passíveis de renegociação, de R$ 50
mil para R$ 100 mil. Dívidas já
refinanciadas anteriormente
também poderão receber os benefícios.
(GUSTAVO PATU)
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