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Grande varejo ignora pólo de rua, diz estudo
Ao restringir expansão a shoppings, redes perdem oportunidade de conquistar público de menor renda, aponta pesquisa
Para professor da FGV, lojas poderiam ampliar mercado
se fizessem ajustes em seus formatos para se adaptar aos espaços disponíveis nas ruas
DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As redes varejistas adotam
estratégia equivocada e desperdiçam uma oportunidade valiosa ao limitar sua expansão aos
shopping centers. Elas deixam
de lado um mundo inteiro de
negócios fervilhantes em pólos
comerciais de rua, onde as vendas acontecem em grandes volumes e traduzem um alto potencial de mercado.
Essa é uma das conclusões de
estudo apresentado por Juracy
Parente, professor de varejo da
Fundação Getulio Vargas, em
seminário promovido na última semana pelo Centro de Excelência em Varejo.
O estudo aponta vários pólos
comerciais de rua freqüentados
pelo público de baixa renda em
regiões da capital paulista, como São Miguel Paulista, Pinheiros, Lapa, Santana e Penha. "Esses pólos freqüentados
pelo público de baixo poder
aquisitivo ficam muito longe
dos locais de acesso dos executivos que comandam as redes
varejistas. E, por não conviverem, não circularem por esses
locais, eles esquecem de sua
existência e enorme potencial
econômico", avalia Parente.
Ambientes sofisticados
Outra explicação é que as redes varejistas, principalmente
as de confecção, buscam atender à aspiração de seu público e,
por isso, vinculam a localização
de suas lojas a shopping centers, que oferecem ambientes
sofisticados e com bons serviços. Com isso, acabam limitando sua expansão ao número
existente desses empreendimentos.
Trata-se de uma leitura equivocada dos desejos do consumidor, segundo Parente. Pelo
volume de tráfego e a diversidade de negócios revelado na pesquisa, as redes poderiam ampliar seu público se fizessem
ajustes em seus formatos para
se adaptar aos espaços disponíveis nos pólos de rua.
"É curioso que grandes lojas
de departamento, que têm como público a classe C, concentrem 90% de suas lojas em
shoppings e ignorem a importância e o enorme potencial
existente nesses pólos de rua",
diz ele. "Talvez também haja
restrições em vincular suas
marcas a regiões não tão bonitas quanto as ambientações dos
shoppings."
Maioria
Os analistas concordam em
que o padrão arquitetônico e a
sofisticação dos shoppings são
agentes de inibição a públicos
das classes D e E, cujo potencial
de consumo ganha importância
pelo alto volume.
Estudo da Latin Panel aponta que o contingente populacional pertencente à classe D+E
-cuja renda familiar é de até
quatro salários mínimos- representa 44% da população do
país e 38% do consumo de 65
categorias de produtos.
Já a classe C, cuja renda é de
quatro a seis salários mínimos,
representa 33% da população e
34% do consumo. Somadas,
elas representam 77% da população e 72% do consumo.
Religião e família
A importância estratégica
dos pólos de rua, segundo Parente, é sinalizada pela concentração de lojas da especialista
em varejo popular Casas Bahia.
Só na região de Pinheiros existem cinco lojas da rede. "É uma
maneira de asfixiar a concorrência", avalia ele.
Veterana em consumo popular, a Unilever há anos descobriu a a importância estratégica
do segmento. O sabão em pó
Ala, desenvolvido e comercializado exclusivamente no Nordeste, região onde 66% da população pertence à classe D+E,
a mais alta concentração no
país, é um exemplo da atenção
que a companhia dedica ao
consumidor de baixa renda.
A diretora de "entendimento
de compra" da empresa, Adriana Muratore, destaca a importância de pesquisas para compreender as peculiaridades no
comportamento desse público
-como a crença religiosa e a
valorização da família.
Para ela, a compreensão desse consumidor passa por sutilezas fundamentais para que ele
seja conquistado e, mais importante, fidelizado.
"A questão de estabelecer
vínculo com ele é muito importante. Ao conceder crédito na
hora, a Casas Bahia, por exemplo, faz um vínculo imediato
com o cliente. E é isso que faz
com que ele evite a inadimplência: por valorizar e não querer
perder esse vínculo."
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