São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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Pessimismo sobre economia dos EUA derruba Bolsas

Com expectativa de que Fed adie para 2008 redução nos juros, investidor foge de ações e procura títulos do governo, de risco zero

Taxa de retorno de papéis do Tesouro supera 5%; mau humor pode ofuscar otimismo no Brasil após redução da Selic para 12%


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os juros dos títulos de dez anos do Tesouro dos EUA ultrapassaram ontem, pela primeira vez desde agosto de 2006, a barreira de 5% ao ano. A alta se deve à expectativa de que o Federal Reserve (o BC dos EUA) adie para 2008 eventual redução nas taxas no país.
O rendimento alto dos títulos públicos americanos, considerados de risco zero de calote, provocou ontem uma verdadeira fuga de recursos alocados em renda variável -com ganho de mais de 5% ao ano, esses papéis competem com algumas ações, especialmente as de novas empresas. O resultado foi o terceiro dia de baixa seguida nas Bolsas americanas.
O aumento dos juros dos títulos americanos se acentuou no final da tarde, quando o analista Bill Gross, da Pimco, afirmou que, pela primeira vez em 25 anos, o mercado de bônus caminha para altos ganhos.
Considerado uma lenda no mercado de renda fixa dos EUA, Gross acredita que o juro dos títulos do governo americano de dez anos possa chegar a 6,5% entre três e cinco anos. Até então, ele via um teto de 5,5% no juros desses papéis.
Durante a tarde, os títulos de dez anos do Tesouro americano foram negociados com retorno de 5,13%, mas encerraram o dia a 5,099% -em março, ainda estavam em 4,6%.
As ações mais prejudicadas foram as de novas empresas, várias delas negociadas na Nasdaq, que recuou 1,77%.
A Bolsa de Nova York, que na semana passada bateu novos recordes, teve desvalorização de 1,48% no índice Dow Jones e de 1,76% no S&P 500. Foi a maior baixa desde 13 de março, quando Wall Street foi derrubada pelos temores de quebra no setor imobiliário por conta de empréstimos de alto risco. Em três dias de baixa, o Dow Jones perdeu 410 pontos -3%.
As Bolsas de Valores européias também fecharam em queda ontem. Essa foi a quarta sessão consecutiva de recuo nas ações européias.
O índice de principais ações européias, o FTSEurofirst 300, caiu 1,1%. Em Londres, a queda foi de 0,27%, em Frankfurt, de 1,44%, e em Paris, de 1,46%.

Novos dados
A quinta-feira trouxe ainda novos dados que atestam pressão inflacionária potencial na economia americana. Os pedidos de seguro-desemprego, indicador que funciona como uma prévia da taxa de desemprego, recuaram pela segunda semana seguida. O dado foi recebido como sinal de mercado de trabalho forte apesar do desaquecimento na economia.
Os estoques no atacado cresceram bem abaixo do esperado, indicando expectativa menor de consumo. O Wal-Mart reportou vendas fracas em suas lojas com menos de um ano, e empresas do setor imobiliário também tiveram perdas.
No mercado de câmbio, a perspectiva de juros altos nos EUA neste ano levou o dólar a alta em relação ao euro, que foi negociado a US$ 1,3428 -valorização de 0,57%.

Brasil
O mau humor nos mercados americanos deve ofuscar hoje o otimismo com a queda da taxa Selic para 12% ao ano.
O que mais chamou a atenção dos analistas foi o placar de 5 votos a 2 pela redução nos juros -a expectativa era uma decisão mais apertada. Apesar do pessimismo internacional, hoje será dia de ajustes no mercado brasileiro, especialmente nos juros longos negociados na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
O título brasileiro Global 40, o papel de maior liquidez entre os países emergentes, foi negociado ontem com juros de 6% ao ano, pela primeira vez desde 13 de fevereiro, também por conta do aumento do retorno dos títulos americanos. O risco-país brasileiro permaneceu em 146 pontos, mesmo valor do dia anterior.


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