São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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Passagem aérea já subiu 11% neste ano

Reajuste até maio quase iguala toda a alta registrada no ano passado; escalada dos combustíveis desencadeou crise na aviação mundial

Presidente do sindicato das empresas aéreas afirma que novos repasses deverão ser aplicados se o petróleo seguir com ritmo forte de aumento


JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O preço das passagens aéreas já subiu 11,13% até maio. A alta em cinco meses já é praticamente igual ao aumento registrado em todo o ano passado, de 11,21%, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas). Para especialistas e representantes do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas), o consumidor está sendo prejudicado pela alta do preço do petróleo, que desencadeou uma crise na aviação mundial.
Segundo André Braz, economista da FGV, apenas em maio os preços subiram 7,25%, influenciados pela proximidade das férias de julho -período de alta temporada no Brasil e de demanda aquecida em vôos para Europa e EUA. "Desde a metade de 2007, as empresas começaram a reajustar os preços com maior intensidade", diz. Os dados incluem passagens domésticas e internacionais.
Segundo o balanço da TAM, a tarifa média cobrada pela empresa no primeiro trimestre deste ano foi de R$ 256, ante R$ 240 no mesmo período de 2007, um aumento de 6,67%.
No caso da Gol, a tarifa média nos primeiros três meses do ano foi de R$ 241, bem próxima da informada pela TAM. Foi um aumento de 32% na comparação com o mesmo período de 2007, quando a tarifa média da companhia ficou em R$ 182,6.
O presidente do Snea, José Marcio Mollo, diz que a alta no preços dos bilhetes está ligada à escalada do petróleo, que impulsiona o preço do querosene de aviação. "No ano passado, o combustível subiu 12%. Neste ano já está 31% mais caro".
O avanço da cotação do petróleo está mudando a composição de custos das empresas. Anteontem, o preço do barril em Nova York alcançou US$ 138,54 e subiu 8,41%, a maior alta em um único dia. Mollo diz que o combustível já representa hoje de 40% a 45% do total de custos. Antes era cerca de 30%. Para ele, a alta de preços pode estar longe do fim.
Em nota, a Gol admite a possibilidade de efetuar reajustes nos bilhetes e diz que seu custo operacional subiu. "Se o atual cenário de alta do preço do petróleo permanecer, é possível que seja necessário aumentar os preços das passagens."
A TAM já havia divulgado em maio a previsão de um aumento no yield (preço pago por quilômetro transportado) de 7% no mercado doméstico e 5% em dólar nos vôos internacionais.

Impactos
Segundo André Castellini, da consultoria Bain & Company, os resultados mais fracos das empresas reduziram a margem de manobra para absorção de aumento nos custos. "O gasto com petróleo foi compensado em parte pela valorização do real. O mercado vai crescer menos neste ano do que o previsto, apesar do desempenho favorável da economia."
A TAM lucrou R$ 2,6 milhões no primeiro trimestre, resultado 95,7% menor do que o de igual período de 2007. A Gol registrou prejuízo de R$ 74,1 milhões nos três primeiros meses.
Para o consultor em aviação Paulo Bittencourt Sampaio, a estratégia da Gol foi correta ao rever operações, mas a devolução de aeronaves Boeing-767 também é um fator de pressão sobre os preços. "Enquanto não devolver esses aviões, vai precisar reforçar a receita", disse. A empresa anunciou que fará vôos extras para Paris até o fim de agosto. Segundo Sampaio, o cenário de crise deve reduzir o ritmo de expansão da TAM nos vôos internacionais. "Eles não vão abrir novos destinos neste ano, vão acrescentar freqüências a partir do Rio", disse.
Tomando os balanços das duas companhias, nota-se que o yield (indicador que mostra quanto cada passageiro paga por quilômetro voado) da Gol foi de R$ 0,2407 no primeiro trimestre do ano, maior do que o da TAM, de R$ 0,2323.
Especialistas citam a forte concentração do mercado como um aspecto que facilita o repasse de preços. Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), TAM e Gol representam mais de 80% do mercado doméstico. Em abril, a demanda no setor cresceu 6,9%. Nos vôos internacionais, a TAM responde por uma fatia de 72,45% do mercado. A análise não inclui a participação das empresas estrangeiras.
Para Marcelo Guaranys, diretor da Anac, concentração não explica tudo. "O importante é saber se as empresas têm condições de concorrência. No caso do Brasil, não há nada que indique que não tenham".


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