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Passagem aérea já subiu 11% neste ano
Reajuste até maio quase iguala toda a alta registrada no ano passado; escalada dos combustíveis desencadeou crise na aviação mundial
Presidente do sindicato das empresas aéreas afirma que novos repasses deverão ser aplicados se o petróleo seguir com ritmo forte de aumento
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O preço das passagens aéreas
já subiu 11,13% até maio. A alta
em cinco meses já é praticamente igual ao aumento registrado em todo o ano passado,
de 11,21%, segundo a FGV
(Fundação Getulio Vargas). Para especialistas e representantes do Snea (Sindicato Nacional
das Empresas Aéreas), o consumidor está sendo prejudicado
pela alta do preço do petróleo,
que desencadeou uma crise na
aviação mundial.
Segundo André Braz, economista da FGV, apenas em maio
os preços subiram 7,25%, influenciados pela proximidade
das férias de julho -período de
alta temporada no Brasil e de
demanda aquecida em vôos para Europa e EUA. "Desde a metade de 2007, as empresas começaram a reajustar os preços
com maior intensidade", diz.
Os dados incluem passagens
domésticas e internacionais.
Segundo o balanço da TAM, a
tarifa média cobrada pela empresa no primeiro trimestre
deste ano foi de R$ 256, ante
R$ 240 no mesmo período de
2007, um aumento de 6,67%.
No caso da Gol, a tarifa média
nos primeiros três meses do
ano foi de R$ 241, bem próxima
da informada pela TAM. Foi
um aumento de 32% na comparação com o mesmo período de
2007, quando a tarifa média da
companhia ficou em R$ 182,6.
O presidente do Snea, José
Marcio Mollo, diz que a alta no
preços dos bilhetes está ligada à
escalada do petróleo, que impulsiona o preço do querosene
de aviação. "No ano passado, o
combustível subiu 12%. Neste
ano já está 31% mais caro".
O avanço da cotação do petróleo está mudando a composição de custos das empresas.
Anteontem, o preço do barril
em Nova York alcançou US$
138,54 e subiu 8,41%, a maior
alta em um único dia. Mollo diz
que o combustível já representa hoje de 40% a 45% do total
de custos. Antes era cerca de
30%. Para ele, a alta de preços
pode estar longe do fim.
Em nota, a Gol admite a possibilidade de efetuar reajustes
nos bilhetes e diz que seu custo
operacional subiu. "Se o atual
cenário de alta do preço do petróleo permanecer, é possível
que seja necessário aumentar
os preços das passagens."
A TAM já havia divulgado em
maio a previsão de um aumento no yield (preço pago por quilômetro transportado) de 7%
no mercado doméstico e 5% em
dólar nos vôos internacionais.
Impactos
Segundo André Castellini, da
consultoria Bain & Company,
os resultados mais fracos das
empresas reduziram a margem
de manobra para absorção de
aumento nos custos. "O gasto
com petróleo foi compensado
em parte pela valorização do
real. O mercado vai crescer menos neste ano do que o previsto,
apesar do desempenho favorável da economia."
A TAM lucrou R$ 2,6 milhões
no primeiro trimestre, resultado 95,7% menor do que o de
igual período de 2007. A Gol registrou prejuízo de R$ 74,1 milhões nos três primeiros meses.
Para o consultor em aviação
Paulo Bittencourt Sampaio, a
estratégia da Gol foi correta ao
rever operações, mas a devolução de aeronaves Boeing-767
também é um fator de pressão
sobre os preços. "Enquanto não
devolver esses aviões, vai precisar reforçar a receita", disse. A
empresa anunciou que fará
vôos extras para Paris até o fim
de agosto. Segundo Sampaio, o
cenário de crise deve reduzir o
ritmo de expansão da TAM nos
vôos internacionais. "Eles não
vão abrir novos destinos neste
ano, vão acrescentar freqüências a partir do Rio", disse.
Tomando os balanços das
duas companhias, nota-se que
o yield (indicador que mostra
quanto cada passageiro paga
por quilômetro voado) da Gol
foi de R$ 0,2407 no primeiro
trimestre do ano, maior do que
o da TAM, de R$ 0,2323.
Especialistas citam a forte
concentração do mercado como um aspecto que facilita o repasse de preços. Segundo a
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil), TAM e Gol representam mais de 80% do
mercado doméstico. Em abril, a
demanda no setor cresceu
6,9%. Nos vôos internacionais,
a TAM responde por uma fatia
de 72,45% do mercado. A análise não inclui a participação das
empresas estrangeiras.
Para Marcelo Guaranys, diretor da Anac, concentração
não explica tudo. "O importante é saber se as empresas têm
condições de concorrência. No
caso do Brasil, não há nada que
indique que não tenham".
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