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Professor de Harvard propõe menos imposto para mulher
Tributação por gênero proporciona vantagens econômicas e sociais, diz economista
Para pesquisador, proposta aumenta o PIB, diminui a carga tributária em geral e também muda as relações do trabalho doméstico
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Alberto Alesina, professor de
Economia da Universidade
Harvard, lançou, no fim do ano
passado, uma discussão que colocou em xeque sua respeitada
carreira acadêmica: as mulheres trabalhadoras deveriam pagar menos impostos do que os
homens. Dessa maneira, defende Alesina, não só seriam incentivadas a ir ao mercado de
trabalho, como o PIB (Produto
Interno Bruto) cresceria, os
impostos em geral recuariam e
as relações de trabalho dentro
da própria casa tenderiam a ser
mais justas, no longo prazo.
O tiroteio logo começou.
Acadêmicos acusaram-no de
ser "naïve", de trazer de volta
propostas radicais do feminismo e de voltar aos tempos pré-Revolução Francesa.
Alesina não só rebateu as críticas como viu a proposta ser
adotada como plataforma pelo
Partido Popular espanhol. Na
Itália, um parlamentar de esquerda e outro de direita uniram-se para formular uma lei
parecida. As discussões também começaram a ganhar corpo na Alemanha, na Áustria, na
França e na Dinamarca. Alesina concedeu à Folha a entrevista a seguir.
FOLHA - Como é a proposta?
ALBERTO ALESINA - Resume-se
em reduzir os impostos das
mulheres que trabalham, de
modo a aumentar sua participação na força de trabalho. Esse tipo de imposto também poderia fazer com que as obrigações entre o trabalho doméstico e o profissional fossem mais
bem distribuídas entre marido
e mulher porque, para a família,
ficaria mais lucrativo que a mulher saísse para trabalhar.
FOLHA - O senhor defende a idéia
de que, com as mulheres trabalhadoras pagando menos impostos, o
PIB tende a crescer. Por quê?
ALESINA - Em muitos países,
como nos latinos, onde a participação das mulheres na força
de trabalho é menor, o aumento do PIB poderia ser substancial. A tributação por gênero
pode ser uma política muito
mais eficaz do que cotas, ações
afirmativas, subsídios etc.
FOLHA - A proposta do imposto baseado em gênero não poderia causar o efeito oposto: aumentar o desemprego masculino e reduzir os salários médios em geral?
ALESINA - Não, esse é exatamente o ponto. Mesmo se for
cobrado um pouco mais de impostos dos homens, eles ainda
irão querer trabalhar. Mas, se
forem cortados os impostos das
mulheres, isso simplesmente
iria estimular muito a força de
trabalho, e os índices gerais de
emprego aumentariam.
FOLHA - Por que essa política deveria ser restrita a mulheres? A redução de impostos não poderia ser
usada com outras minorias?
ALESINA - O problema é que essas políticas implicam o rearranjo e a redistribuição das funções familiares. Há evidências
de que as mulheres são especialmente sensíveis ao corte de
impostos. Mas não há certeza
sobre outras minorias. O que
aconteceria com pessoas com
origens em raças diferentes?
FOLHA - Por que o senhor defende
que a mudança na tributação poderia também transformar o comportamento social?
ALESINA - No curto prazo, mudar a tributação pode levar
mais mulheres ao mercado de
trabalho. No longo, criar incentivos para a reorganização da
família. Os homens tenderiam
a tomar para si mais afazeres
domésticos, precisamente porque as mulheres terão de ter
tempo para trabalhar fora, e os
maridos se beneficiarão do aumento dos salários delas.
FOLHA - Quão grande deveria ser a
diferença entre os tributos pagos
por homens e mulheres?
ALESINA - Depende do país e do
mercado de trabalho. A diferença pode ser substancial.
FOLHA - Todos os países e culturas
precisam de impostos baseados em
gênero?
ALESINA - Culturas nas quais
homens e mulheres ocupam
essencialmente os mesmos papéis nas tarefas domésticas e
no mercado de trabalho não
precisam desse tipo de diferenciação, é claro. Mas a maioria
das culturas não é assim.
FOLHA - O efeito da tributação por
gênero poderia ser maior em países
em desenvolvimento, como o Brasil
e a China?
ALESINA - Nos países em desenvolvimento nos quais a participação feminina na força de trabalho é pequena, pode ajudar
ainda mais no crescimento econômico. Por outro lado, [o impacto pode ser menor] porque
nesses países geralmente há alta evasão de tributos.
FOLHA - Só as mulheres casadas
deveriam pagar menos imposto?
ALESINA - Talvez sim, talvez
não. Se você cortar tributos
apenas das mulheres casadas,
talvez estimule o casamento
por razões "erradas". Mulheres
sozinhas também tendem a ser
mais pobres. Assim, dar a elas
uma vantagem pode não ser
uma má idéia em termos de
proposta redistributiva.
FOLHA - Só as mulheres se beneficiariam dos impostos menores?
ALESINA - Não, também seus
maridos ganham diretamente.
A sociedade como um todo poderia ser beneficiada porque
mais pessoas trabalhariam e a
tributação pode ser menor em
média, precisamente porque
mais trabalhadores estariam
contribuindo. Com isso, cresceria o bem-estar geral e o PIB.
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