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Sindicatos disputam representação de 4 mi de expatriados
Entidades e centrais querem montar escritórios fora do país e defender direitos de brasileiros que trabalham no exterior
Ministério pretende criar a "Embaixada do Trabalhador" para atender contingente equivalente a duas vezes a população de Sergipe
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
De olho nos 4 milhões de brasileiros que estão fora do país, a
maior parte deles trabalhadores, segundo estimativa do Ministério das Relações Exteriores, centrais sindicais e associações nacionais querem ter
acesso a verba federal para
montar representações em países que abrigam comunidades
brasileiras numerosas. A meta
é defender direitos e prestar
serviços aos "expats".
Esse contingente de brasileiros, que já corresponde ao dobro da população de Sergipe
(2,04 milhões de habitantes,
segundo projeção do IBGE para 2006), é responsável pelo
envio, todos os anos, de bilhões
de dólares ao país.
O BC registrou, só em 2006, o
envio de US$ 4,8 bilhões, cifra
que inclui remessas de pessoas
físicas, transferências de patrimônio e doações. A maior parte
veio dos EUA e do Japão.
O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) considera, porém, que esse valor tenha chegado a US$ 7,3 bilhões
no ano passado, somadas as remessas formais e informais.
Se a previsão do BID estiver
próxima da realidade, os recursos enviados em 2006 seriam
suficientes para cobrir a folha
mensal de pagamentos do INSS
a 24,8 milhões de beneficiários.
A representação desse novo
"mercado" de trabalhadores já
é alvo de disputa entre algumas
entidades, divide opiniões de
especialistas e ganhou mais
força após o Ministério do Trabalho anunciar a intenção de
criar a "Embaixada do Trabalhador" -projeto em estudo
para ajudar brasileiros que trabalham fora do país.
"Uma das nossas propostas é
formalizar acordo com o governo para que cada central, ou um
conjunto de centrais, possa
montar representações em locais de grande concentração de
brasileiros e principalmente
em cidades onde essa mão-de-obra é quase escrava. As centrais entram com a experiência
sindical, e o governo, com a infra-estrutura e os recursos", diz
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.
Para viabilizar a ação dessas
entidades no exterior, a idéia é
fazer um convênio, que deverá
ser formalizado assim que for
assinada a medida provisória
de legalização das centrais sindicais. "Sugerimos a criação
dos escritórios, e o governo deu
o nome ao projeto. Mas a idéia é
manter o serviço independentemente do trabalho feito pelas
embaixadas", diz Paulinho.
Por ora, estudos
O governo informa que estuda como pretende atuar em defesa dos trabalhadores no exterior. "Pode ser algo em parceria
com embaixadas e consulados.
Ou em parceria com organizações da sociedade civil, como
comunidades brasileiras no exterior e centrais sindicais. Pode
ser ainda um portal virtual para
receber denúncias e motivar a
participação dos que emigraram", diz Paulo Sérgio de Almeida, presidente do Conselho
Nacional de Imigração, ligado
ao ministério.
O conselho aprovou há uma
semana uma mudança em seu
regimento e se transformou em
um órgão de "migrações" para
discutir políticas para os emigrantes e lançou uma cartilha.
Para o advogado Luis Carlos
Moro, que integra a Comissão
de Relações Internacionais do
Conselho Federal da OAB, a
idéia de o governo prestar serviços aos brasileiros no exterior
é interessante, desde que seja
em parceria com a estrutura do
Ministério das Relações Exteriores. "Mas entregar isso às
centrais é complicado, à medida que se transfere uma prestação de serviço público a entidades privadas que podem reger
as políticas adotadas de acordo
com seus interesses."
Recém-criada, a Associação
Nacional das Famílias dos Trabalhadores no Exterior (Anfate) quer representar não só os
brasileiros no exterior mas
seus familiares no Brasil. "Associações existem muitas. Poucas, porém, dão atenção a questões trabalhistas e previdenciárias, como pretendemos atuar.
Os trabalhadores que deixam o
país são tratados hoje como
uma mercadoria, que rende lucro em negócios que giram em
torno de sua ida a outros países.
É preciso mudar isso", diz Roberto Toyokatsu Akiyama, economista que ocupou o cargo de
secretário de Finanças de Suzano e preside a nova associação.
Para conseguir atuar politicamente, a Anfate se filiará à
UGT (União Geral dos Trabalhadores) -central que deve
ser fundada em julho pela
união de outras três e de dissidentes da Força. "Vamos buscar apoio do movimento sindical no exterior para defender os
brasileiros", diz Ricardo Patah,
que presidirá a UGT. Em maio,
integrantes da Anfate dizem ter
procurado a Força. Sem sentir
interesse da central pelo tema,
escolheram se filiar à UGT.
A Anfate tem projetos audaciosos, como buscar isenção ou
redução de taxas bancárias em
remessas de até US$ 500 mensais e tributação zero na entrada de recursos no país. Diz ainda que sua sustentação financeira virá de mensalidades de
sócios e de parcerias.
Na avaliação do juiz Cláudio
José Montesso, presidente da
Associação de Juízes do Trabalho, centrais e entidades podem
até oferecer serviços como
ONGs, mas não há base legal
que permita sua atuação no estrangeiro. "Podem até explorar
esse filão de representação,
mas as leis trabalhistas que valem são as dos países em que estão esses brasileiros."
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