São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2000


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PREÇOS
Serviços administrados foram os grandes responsáveis; tarifas de telefones subiram 313% e transportes públicos, 171%
Governo vitamina inflação depois do Real

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os preços de serviços administrados ou concedidos pelo governo foram os maiores responsáveis pela inflação no período pós-Real. Dos 16 itens que apresentaram as maiores altas de preços, mais da metade sofre algum tipo de regulação estatal.
A inflação acumulada no período de julho de 1994 a dezembro de 1999, segundo o IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), foi de 79%. No mesmo período, as tarifas de telefonia e transporte público subiram 313% e 171%, respectivamente.
Tarifas de água e esgoto, imposto predial, gás de botijão e taxas de cartório também estão entre os itens que mais subiram desde o início do plano de estabilização de 1994 (veja relação de aumentos no quadro ao lado).
São serviços ou produtos em que o governo participa, direta ou indiretamente, na formação de preços. A maioria é concessão pública e tem sua política de preços determinada por contratos firmados com o governo.
No setor privado, serviços de utilidade pública, como educação e saúde, figuram entre os itens com maiores aumentos.
Em certos casos, os aumentos são explicados pelo poder que os prestadores de serviços têm para impor reajustes. Os pais que pagam escolas privadas, por exemplo, resistem a trocar a escola dos filhos. Mesmo que não resistissem, é inviável fazê-lo toda vez que o preço da mensalidade sobe.
O raciocínio é o mesmo para serviços como planos de saúde e de seguros. Os mecanismos de mercado não funcionam perfeitamente nesses setores. As pessoas não podem trocar de plano de saúde, escola, banco ou seguradora com a mesma facilidade com que escolhem o supermercado em que fazem suas compras.

Ajustamento
Segundo Heron do Carmo, coordenador do IPC-Fipe, a economia brasileira passou por um processo de ajustamento de preços relativos sem precedentes.
Isso ocorre quando os preços de um setor da economia sobem mais que os dos outros setores. Com o ajustamento, o setor de serviços passou a abocanhar uma parcela maior da renda na economia brasileira.
Carmo lembra que, com o lançamento do Plano Real, muitos setores subiram os preços. "Havia a memória do fracasso dos planos anteriores e todos quiseram se resguardar", explica.
Ele acredita que a economia brasileira não deve mais passar por processos semelhantes. "O ajustamento terminou. Essa assimetria de preços não deve voltar a ocorrer na economia brasileira."
Os cálculos dos aumentos foram feitos até dezembro de 1999 para evitar distorções. Em janeiro deste ano a Fipe mudou a metodologia da pesquisa de preços.


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