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BANCOS
Michael Geoghegan, presidente da instituição, critica também o horário de atendimento e os compulsórios elevados
Juro é alto por causa da legislação, diz HSBC
ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL
Michael Geoghegan, presidente
do banco britânico HSBC no Brasil, diz que os obstáculos ao acesso
dos consumidores a juros mais
baixos em empréstimos bancários são a falta de flexibilidade da
legislação trabalhista e do horário
de atendimento ao público nas
agências, o nível ainda elevado
dos depósitos compulsórios, a
obrigatoriedade de empréstimos
direcionados, a lentidão do processo de recuperação de garantias
de clientes inadimplentes no crédito imobiliário e os altos custos
da segurança no país.
Paladino das mudanças estruturais para o aprimoramento da
atividade bancária no país, Geoghegan, que está há pouco mais
de três anos no Brasil, quer liderar
uma revolução no setor bancário.
Ele propõe a abertura das agências em qualquer hora do dia, inclusive nos finais de semana e feriados.
O HSBC teve lucro líquido de R$
111,9 milhões no primeiro semestre deste ano, alcançando a meta
de taxa anual de retorno superior
a 20% (foi de 23,61%) nas operações no Brasil, iniciadas em março de 1997 com a aquisição de ativos e passivos selecionados do
banco Bamerindus.
Mas o resultado no Brasil representa apenas 1,2% de lucro líquido global do grupo HSBC, que foi
de US$ 5,2 bilhões nos primeiros
seis meses deste ano.
"O importante é o futuro. O investimento do grupo HSBC no
Brasil é de longo prazo. Não viemos para cá para disputar uma
corrida de cem metros, mas uma
maratona."
A meta do HSBC é ter no Brasil
o mesmo sucesso obtido em
Hong Kong. "Quando o HSBC
chegou à Ásia, Hong Kong não tinha banco. Hoje, três em cada
quatro contas bancárias em Hong
Kong estão com o HSBC. O Brasil,
com 160 milhões de habitantes, é
um imenso mercado a ser explorado. Amanhã, o Brasil será a
Hong Kong de hoje para o
HSBC."
A seguir, os principais trechos
da entrevista concedida por Geoghegan.
Folha - Como o sr. avalia os resultados do grupo HSBC no Brasil no
primeiro semestre deste ano, que
representam apenas 1,2% dos resultados mundiais?
Michael Geoghegan - Ficaram
dentro da expectativa. Vemos o
restante de 2000 com otimismo.
Os resultados melhorarão gradualmente com a implantação do
conceito de administração do relacionamento com o cliente no
mercado de pessoas físicas. Isso
quer dizer que queremos que o
nosso cliente tenha somente uma
conta bancária. Estamos investindo R$ 500 milhões em tecnologia
e modernizando as nossas 980
agências em todos os Estados do
país. Na área de pessoas jurídicas,
estamos treinando executivos para lidar com as necessidades específicas do mercado.
Folha - Mas os resultados justificam o investimento no país?
Geoghegan - O grupo HSBC tem
quatro pilares: Hong Kong para a
Ásia, Londres para a Europa, Nova York para os Estados Unidos e
o Brasil para a América Latina. Os
quatro são fundamentais para o
sucesso do nosso plano estratégico de gerenciamento por valor. A
meta do grupo é duplicar o valor
das ações em um prazo de cinco
anos. No Brasil, estamos construindo um banco a longo prazo.
Não viemos para cá para disputar
uma corrida de cem metros, mas
uma maratona. Quando o grupo
foi fundado, em 1865, em Hong
Kong, não havia bancos lá. Hoje,
três em cada quatro pessoas têm
conta no HSBC.
Folha - O grupo HSBC obtém 51%
dos seu lucro na Ásia. O que falta
para os negócios do HSBC deslancharem no Brasil?
Geoghegan - Precisamos reduzir
a taxa de juros no Brasil. Os consumidores não estão tendo acesso
a juros mais baixos em empréstimos bancários, apesar das recentes reduções dos juros básicos e de
compulsórios pelo Banco Central,
porque os bancos ainda têm custos fixos muito altos no país.
Folha - O que pode ser feito?
Geoghegan - Deveríamos estudar o que aconteceu no México,
no Chile e na Ásia. No Chile, por
exemplo, os bancos oferecem crédito imobiliário com juros fixos e
prazo de 30 anos. A diferença é
que no Chile os bancos recuperam suas garantias em até nove
meses nos caso de inadimplência.
No Brasil, a lentidão da Justiça
impede a recuperação das garantias em até cinco anos.
Folha - Quais são os obstáculos à
queda mais rápida dos juros aos
consumidores?
Geoghegan - A legislação trabalhista do setor bancário é velha e
tem um custo muito alto, a jornada de trabalho de seis horas dos
bancários, que é uma conquista
de 40 anos, não tem mais nada a
ver com o ritmo moderno do setor bancário. O horário rígido de
funcionamento dos bancos é um
empecilho.
Folha - Por quê?
Geoghegan - A flexibilidade no
horário de abertura das agências
para o público é a regra em quase
todo o mundo. Se o meu cliente
de um grande centro urbano só
pode ir ao banco das 19h às 22h,
por que sou obrigado a abrir somente das 10h às 16h?
Os bancos deveriam ser livres
para abrir agências selecionadas,
principalmente aos sábados e domingos. Outro obstáculo no Brasil é a obrigatoriedade de empréstimos direcionados para a agricultura e para a habitação. A agricultura é subsidiada no mundo
inteiro, mas aqui, se houver inadimplência, o prejuízo fica com os
bancos. Os depósitos compulsórios estão baixando, mas não tem
país moderno no mundo com
compulsórios acima de 20%.
Além disso, os bancos têm elevados custos com segurança. As legislação obriga os bancos a gastar
mais com segurança do que em
outros países e, mesmo assim,
não conseguimos evitar os assaltos. Em 1999, o número de assaltos ocorridos nas agências do
HSBC no Brasil foi maior do que o
número de assaltos em nossas
agências no mundo inteiro.
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