São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2000


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BANCOS
Michael Geoghegan, presidente da instituição, critica também o horário de atendimento e os compulsórios elevados
Juro é alto por causa da legislação, diz HSBC

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Michael Geoghegan, presidente do banco britânico HSBC no Brasil, diz que os obstáculos ao acesso dos consumidores a juros mais baixos em empréstimos bancários são a falta de flexibilidade da legislação trabalhista e do horário de atendimento ao público nas agências, o nível ainda elevado dos depósitos compulsórios, a obrigatoriedade de empréstimos direcionados, a lentidão do processo de recuperação de garantias de clientes inadimplentes no crédito imobiliário e os altos custos da segurança no país.
Paladino das mudanças estruturais para o aprimoramento da atividade bancária no país, Geoghegan, que está há pouco mais de três anos no Brasil, quer liderar uma revolução no setor bancário. Ele propõe a abertura das agências em qualquer hora do dia, inclusive nos finais de semana e feriados.
O HSBC teve lucro líquido de R$ 111,9 milhões no primeiro semestre deste ano, alcançando a meta de taxa anual de retorno superior a 20% (foi de 23,61%) nas operações no Brasil, iniciadas em março de 1997 com a aquisição de ativos e passivos selecionados do banco Bamerindus.
Mas o resultado no Brasil representa apenas 1,2% de lucro líquido global do grupo HSBC, que foi de US$ 5,2 bilhões nos primeiros seis meses deste ano.
"O importante é o futuro. O investimento do grupo HSBC no Brasil é de longo prazo. Não viemos para cá para disputar uma corrida de cem metros, mas uma maratona."
A meta do HSBC é ter no Brasil o mesmo sucesso obtido em Hong Kong. "Quando o HSBC chegou à Ásia, Hong Kong não tinha banco. Hoje, três em cada quatro contas bancárias em Hong Kong estão com o HSBC. O Brasil, com 160 milhões de habitantes, é um imenso mercado a ser explorado. Amanhã, o Brasil será a Hong Kong de hoje para o HSBC."
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Geoghegan.

Folha - Como o sr. avalia os resultados do grupo HSBC no Brasil no primeiro semestre deste ano, que representam apenas 1,2% dos resultados mundiais?
Michael Geoghegan -
Ficaram dentro da expectativa. Vemos o restante de 2000 com otimismo. Os resultados melhorarão gradualmente com a implantação do conceito de administração do relacionamento com o cliente no mercado de pessoas físicas. Isso quer dizer que queremos que o nosso cliente tenha somente uma conta bancária. Estamos investindo R$ 500 milhões em tecnologia e modernizando as nossas 980 agências em todos os Estados do país. Na área de pessoas jurídicas, estamos treinando executivos para lidar com as necessidades específicas do mercado.

Folha - Mas os resultados justificam o investimento no país?
Geoghegan -
O grupo HSBC tem quatro pilares: Hong Kong para a Ásia, Londres para a Europa, Nova York para os Estados Unidos e o Brasil para a América Latina. Os quatro são fundamentais para o sucesso do nosso plano estratégico de gerenciamento por valor. A meta do grupo é duplicar o valor das ações em um prazo de cinco anos. No Brasil, estamos construindo um banco a longo prazo. Não viemos para cá para disputar uma corrida de cem metros, mas uma maratona. Quando o grupo foi fundado, em 1865, em Hong Kong, não havia bancos lá. Hoje, três em cada quatro pessoas têm conta no HSBC.

Folha - O grupo HSBC obtém 51% dos seu lucro na Ásia. O que falta para os negócios do HSBC deslancharem no Brasil?
Geoghegan -
Precisamos reduzir a taxa de juros no Brasil. Os consumidores não estão tendo acesso a juros mais baixos em empréstimos bancários, apesar das recentes reduções dos juros básicos e de compulsórios pelo Banco Central, porque os bancos ainda têm custos fixos muito altos no país.

Folha - O que pode ser feito?
Geoghegan -
Deveríamos estudar o que aconteceu no México, no Chile e na Ásia. No Chile, por exemplo, os bancos oferecem crédito imobiliário com juros fixos e prazo de 30 anos. A diferença é que no Chile os bancos recuperam suas garantias em até nove meses nos caso de inadimplência. No Brasil, a lentidão da Justiça impede a recuperação das garantias em até cinco anos.

Folha - Quais são os obstáculos à queda mais rápida dos juros aos consumidores?
Geoghegan -
A legislação trabalhista do setor bancário é velha e tem um custo muito alto, a jornada de trabalho de seis horas dos bancários, que é uma conquista de 40 anos, não tem mais nada a ver com o ritmo moderno do setor bancário. O horário rígido de funcionamento dos bancos é um empecilho.

Folha - Por quê?
Geoghegan -
A flexibilidade no horário de abertura das agências para o público é a regra em quase todo o mundo. Se o meu cliente de um grande centro urbano só pode ir ao banco das 19h às 22h, por que sou obrigado a abrir somente das 10h às 16h?
Os bancos deveriam ser livres para abrir agências selecionadas, principalmente aos sábados e domingos. Outro obstáculo no Brasil é a obrigatoriedade de empréstimos direcionados para a agricultura e para a habitação. A agricultura é subsidiada no mundo inteiro, mas aqui, se houver inadimplência, o prejuízo fica com os bancos. Os depósitos compulsórios estão baixando, mas não tem país moderno no mundo com compulsórios acima de 20%. Além disso, os bancos têm elevados custos com segurança. As legislação obriga os bancos a gastar mais com segurança do que em outros países e, mesmo assim, não conseguimos evitar os assaltos. Em 1999, o número de assaltos ocorridos nas agências do HSBC no Brasil foi maior do que o número de assaltos em nossas agências no mundo inteiro.


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