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ANP quer perfurar poços com a Petrobras
Grupo técnico da agência reguladora e da empresa deve criar programa para estudar áreas do pré-sal que pertencem à União
Para especialista, haverá questionamento sobre a proximidade da ANP com a companhia, que terá acesso a informações privilegiadas
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
A ANP (Agência Nacional do
Petróleo) afirmou que seu presidente, Haroldo Lima, enviou
ao presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, ofício para a
criação de um grupo técnico
para estudar as áreas petrolíferas na região do pré-sal.
O grupo será formado com
profissionais da agência e da
empresa e deverá criar um programa para perfuração, nos
próximos meses, de áreas que
ainda são da União.
Em nota, a Petrobras afirmou que recebeu o ofício da
ANP e na próxima semana indicará os representantes para
compor o grupo técnico.
Na quinta-feira, a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil)
anunciou que a ANP teria orçamento de R$ 1 bilhão para fazer
quatro perfurações nas áreas
da União que englobam as possíveis reservas do pré-sal.
Os dados obtidos com as perfurações permitirão, segundo a
ministra, identificar melhor o
potencial de cada área antes de
iniciar a exploração e a produção, dentro da nova legislação
que vem sendo criada para a
produção no pré-sal.
Pelas informações disponíveis sobre essa nova lei, quanto
maior o potencial estimado de
cada área, maior será a fatia do
governo e menor a da iniciativa
privada e a da Petrobras.
Especialistas entendem que
a perfuração de poços para dimensionar o pré-sal faça parte
das atribuições da ANP. Mas a
decisão de convocar a Petrobras pode gerar controvérsia.
A Lei do Petróleo, que criou a
agência, estabelece que é sua
atribuição "promover estudos
visando à delimitação de blocos" de petróleo.
"Interpretando a lei, as perfurações no pré-sal pela ANP
são aceitáveis. No entanto, perfuração é uma atividade de risco, e a ANP não deve assumir
riscos", diz o consultor David
Zylbersztajn, presidente da
agência entre 1998 e 2001.
Ex-superintendente de promoção de licitações da ANP, a
advogada Marilda Rosado concorda e avalia que a união com a
empresa será questionada.
"A Petrobras terá acesso a informações privilegiadas de
áreas petrolíferas da União, em
detrimento de outras empresas
de petróleo, antes de disputar
as áreas. Isso vai contra a lei em
vigor", afirma.
O R$ 1 bilhão que a ANP terá
para esses poços representa
quase tudo o que recebeu do
governo de 2004 a 2008.
No período, cerca de 90% dos
recursos que seriam, por lei,
destinados à ANP foram retidos pelo Tesouro para formação do superávit primário (economia do governo para pagar
juros da dívida pública).
A agência deixou de receber
R$ 12 bilhões, que deveriam ter
sido usados em pesquisas sobre
as bacias brasileiras. "O contingenciamento desse dinheiro
deixou o banco de dados defasado. A ANP já poderia saber
mais do que sabe sobre o pré-sal", diz Rosado.
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