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VAREJO
Com custos em dólar e sem poder reajustar valores, laboratórios retiram abatimentos que concediam a farmácias
Sem desconto, preço de remédio deve subir
CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor de medicamentos ensaia
transferir para o consumidor os
repasses de custos decorrentes da
contínua escalada do dólar.
A Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica)
sustenta que os preços do setor
acumulam defasagem entre 15% e
18% desde janeiro, data do único
reajuste oficial deste ano. Segundo a entidade, o congelamento de
preços dos medicamentos foi calculado com a cotação do dólar a
R$ 2,36. Com isso, as indústrias
alegam que têm absorvido o impacto da variação cambial.
Por conta da disparada do dólar, pelo menos um laboratório já
ameaçou interromper parte da
produção. A direção do laboratório Biosintética divulgou que pode suspender a fabricação de uma
série de medicamentos devido à
elevação dos custos dos insumos
importados. Cerca de 90% dos
sais (insumos) usados pelos laboratórios no Brasil vêm do exterior.
Com os preços controlados pelo
governo tanto no chamado preço
referencial de fábrica (aquele cobrado de varejistas) como pelo de
venda final, a alternativa usada
pelos laboratórios tem sido elementar: encurtaram os descontos
concedidos a distribuidores e redes de drogarias, que, por sua vez,
tratarão de minimizar ou cancelar
os descontos aos consumidores.
Dessa forma, em tese, o setor
não desrespeitaria determinação
de não vender a preços superiores
ao máximo estabelecido pela tabela fixada pela Câmara do Medicamento, órgão ligado ao Ministério da Saúde. Mas ainda que indiretamente também não estaria
deixando de promover reajustes.
O agravante é que os produtos
que começam a perder descontos
são justamente os de uso continuado -para doenças cardiopáticas, diabéticas e tratamento de
hipertensão. Por serem os de
maior consumo -e nos quais as
concorrência é mais acirrada-,
os laboratórios usam da política
de descontos para o varejo, obrigando-os a repassar aos consumidores, como forma de obter ganho em escala no mercado.
De acordo com a Abafarma (Associação Brasileira do Atacado
Farmacêutico), 5 dos 20 principais laboratórios instalados no
Brasil já reduziram os descontos
para as distribuidoras em pelo
menos dois pontos percentuais.
Feitas as contas em toda a cadeia, os reajustes dos preços para
o consumidor pode variar de 2%
a 3% nos próximos meses. ""As
distribuidoras trabalham com
margem operacional de 10%.
Com esse percentual, têm que fazer comprar, armazenar e tirar o
lucro. Se cortar dois pontos, tira
20% da margem operacional. Não
há como evitar o repasse", diz Jorge Fróes, presidente de Abafarma.
"Quem compra direto dos laboratórios são as grandes redes. As
farmácias independentes compram dos atacadistas, que reduziram os prazos para pagamento e
os descontos", diz Geraldo Monteiro, do sindicato das farmácias
de São Paulo, que representa cerca de 15 mil estabelecimentos.
Representantes das redes de farmácias argumentam que, devido
ao controle de preços do governo,
a margem bruta de lucro do setor
não supera 1,4%. "Se diminuírem
ainda mais a margem de lucro, as
redes não terão nem como cobrir
seus custos", diz Sérgio Menna
Barreto, presidente da Abrafarma
(Associação Brasileira das Redes
de Farmácia).
A algumas redes, entretanto, a
política de cortes de descontos
concedidos ainda não chegou. É o
caso da Drogasil. Segundo o diretor-geral da empresa, Cláudio Poberto Ely, as condições de desconto para a rede estão mantidas e
não há perigo de desabastecimento de medicamentos.
Outros impactos
Os serviços odontológicos também vão sofrer reajustes. Quase
todos os procedimentos -de
uma simples obturação a um implante dentário- dependem de
materiais importados que não
têm similares nacionais.
Alguns fornecedores de produtos odontológicos já anunciam
aumentos de até 30%.
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