UOL


São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÊMICA

Comitê analisará liberação do agrotóxico glifosato nas plantações de soja

Reunião tentará eliminar falhas sobre transgênicos

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O agricultor que plantar soja transgênica ainda corre risco de ser preso e ter a colheita destruída. O governo autorizou o cultivo das sementes geneticamente modificadas, mas não foi liberado o uso do agrotóxico glifosato, essencial nesse tipo de plantação.
Para resolver o problema, foi convocada para hoje uma reunião emergencial do CTA (Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxico), órgão responsável por autorizar o uso do produto.
O comitê, cujas decisões são por consenso, é composto por representantes dos ministérios do Meio Ambiente, da Saúde e da Agricultura. O primeiro, da ministra Marina Silva, foi contrário à edição da medida provisória que autorizou o uso das sementes de soja transgênica neste ano.
O glifosato, um herbicida de ação múltipla, só pode ser legalmente usado no Brasil antes de a soja brotar. Nos cultivos transgênicos, o produto precisa ser usado quando a planta já nasceu. Sem o uso do glifosato depois da eclosão da semente, não há vantagem competitiva em usar a planta geneticamente modificada.
No plantio convencional e no transgênico, o glifosato é aplicado antes da eclosão da planta -autorizado pelo CTA. Depois de a soja convencional nascer, o agricultor precisa usar um coquetel de herbicidas de ação seletiva para controlar as ervas daninhas. O uso do glifosato mataria a soja convencional.
A soja geneticamente modificada usada no Brasil, cuja patente mundial pertence à Monsanto, resiste ao glifosato. O controle das ervas daninhas, em tese, é simplificado, pois o produtor pode usar esse agrotóxico de ação múltipla.
Agricultores do Rio Grande do Sul, que plantam ilegalmente a soja transgênica desde 98, já usam de forma indevida o glifosato.
O CTA deve analisar a questão do glifosato pós-emergente em até 60 dias -costumam ser 180.

Relator nomeado
Integrante do lobby favorável à soja transgênica, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) será o relator da MP que liberou o plantio do produto na atual safra. A escolha foi do líder do partido, Nelson Pellegrino (BA), e do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP).
"A indicação é muito ruim. Ele está envolvido com o assunto, foi ao governo pressionar pela liberação e é do Estado interessado", disse o deputado João Alfredo (PT-CE), contra os transgênicos.
Pimenta foi um dos deputados que foram em junho aos EUA e à África do Sul a convite da Monsanto e da Embaixada americana.
Pellegrino minimizou o fato. "A MP já liberou o plantio. Essa discussão [transgênicos] vamos tratar quando a lei de biossegurança for enviada ao Congresso. Aí sim vamos indicar uma pessoa neutra, mas o deputado [Pimenta] foi designado com o compromisso claro de que vai ouvir o núcleo agrário e entidades ambientais."


Colaborou Fernanda Krakovics, da Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Luís Nassif: O desconto em folha
Próximo Texto: Fisco: Receita terá dados de despesas com cartões
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.