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LUÍS NASSIF
O Vioxx agravado
Relatório do Congresso
dos Estados Unidos concluiu que Saddam Hussein
não dispunha de armas de
destruição em massa. O governo Bush Jr. se defendeu sustentando que poderia vir a ter.
Quem é que pode saber?
A ata do Copom (Comitê de
Política Monetária) prenuncia chuvas, trovoadas e inflação em revoada. A inflação
cai. Mas poderá voltar ao futuro, sustenta o Banco Central. E, se não voltar, é porque
a taxa de juros funcionou. E
quem vai saber?
A política cambial adotada
de 1994 a 1998 quebrou o país,
emperrou o crescimento, inviabilizou a produção interna.
Mas, se não fosse ela, a inflação teria destruído o país. Não
é o que dizem? E quem vai saber, se a hipótese não foi testada?
O grande problema da economia é o chamado efeito
Vioxx agravado. Quando foram feitas as primeiras avaliações do remédio, constatou-se
que pacientes tratados com
Vioxx apresentavam maior irritação estomacal. Atribuiu-se
a diferença às pretensas virtudes do outro remédio para
prevenir esses efeitos. Só anos
depois constatou-se que o problema era com o Vioxx, mesmo.
Na economia, o problema é
agravado porque as relações
de causalidade não são definidas. O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega entregou a seu sucessor um país em
moratória, depois de recusar a
proposta de securitização da
dívida externa de seu antecessor, Luiz Carlos Bresser-Pereira. Quem se lembra disso?
Essa impossibilidade de conferir a priori os resultados da
política econômica e, a posteriori, o que teria sido a política
alternativa permite toda sorte
de manipulações.
Nas últimas colunas, tenho
tentado mostrar similaridades entre o momento atual e o
da República Velha. Outro
ponto em comum era o fato de
os detentores da liquidez terem exercido um papel tipo
Jack, o Estripador asséptico.
Enquanto os políticos, os políticos regionais em particular,
se digladiavam em torno de
verbas públicas escassas, os
donos da liquidez praticavam
uma suposta política de "interesse nacional".
Apropriavam-se apenas do
Ministério da Fazenda e do
Banco do Brasil -praticamente não existia sistema
bancário privado. Todas as
políticas de defesa dos preços
do café eram adotadas em nome do interesse nacional. Empréstimos eram tomados para
financiar a queima da lavoura, permitia-se excesso de produção remunerada, tudo em
nome do "interesse nacional".
Depois, apresentava-se a industrialização paulista como
resultado dessa defesa reiterada do "interesse nacional". E
não é possível avaliar o que teria sido o país se não houvesse
esse custo fantástico bancado
pelo conjunto da nação. Qual
o custo da concentração de riqueza no centro-sul, da impossibilidade do desenvolvimento de políticas regionais,
dos cortes na educação e saúde para garantir recursos para
as políticas de sustentação de
preços?
O mesmo ocorre agora, o
mesmo ocorreu com a apreciação do real. Não se consideram os custos da política de juros, dos cortes orçamentários,
do contingenciamento dos
fundos. Acena-se apenas com
o benefício de curto prazo de
debelar uma inflação que ninguém vê.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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