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VIZINHO EM CRISE
Governo deve descontar 30% do valor do débito com investidores; demais credores reclamam de discriminação
Argentina sela acordo com fundos de pensão
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
O governo argentino fechou ontem um acordo com os fundos de
pensão que garante a aceitação de
pelo menos 17% dos credores privados que levaram o calote desde
que o país decretou a moratória
da dívida pública, em dezembro
de 2001.
Os fundos de pensão representam 9,5 milhões de futuros aposentados argentinos que contribuíram para a previdência privada no país. Mas os demais credores argentinos que compraram títulos do governo reclamaram de
discriminação.
Os detalhes do acordo serão publicados hoje no "Diário Oficial"
da Argentina. Mas a imprensa local já adiantou que o governo deverá descontar 30% do que deve
aos fundos de pensão, que possuem 68% de seus ativos investidos em títulos públicos.
O problema é que existe um outro grupo de cerca de 500 mil argentinos que possuem títulos públicos para quem o desconto do
valor de face de cada bônus será
de 75%, conforme anunciou o governo em junho.
A diferença no pagamento deverá estar no tipo de título e na remuneração. "Isso é uma discriminação. O governo deveria tratar
todos iguais", disse Carlos Baez
Silva, presidente da Associação de
Poupadores da República Argentina (AARA).
Por oferecer condições mais favoráveis aos fundos de pensão, o
governo recebeu em troca a garantia de que essas empresas vão
retirar da Justiça os processos
contra a pesificação das contribuições, que foram feitas em dólares, e contra a aquisição compulsória de títulos do governo.
Em 1993, a Argentina substituiu
parcialmente o sistema público de
repartição (em que o trabalhador
ativo financia o aposentado) pelo
sistema privado de capitalização
individual (em que o trabalhador
paga um fundo privado e financia
sua própria aposentadoria).
A passagem para o sistema misto gerou perdas fiscais porque o
governo deixou de arrecadar.
Para financiar o custo de transição, o então ministro da Economia Domingo Cavallo baixou um
decreto em 2001 determinando
que os fundos de pensão investissem até 75% dos ativos líquidos
nesses papéis.
Estrangeiros
Os credores estrangeiros também estão descontentes com as
renegociação da dívida, embora já
tenham diminuído o tom das
ameaças. Até o mês passado, representantes desse grupo, representado pelo Comitê Global, afirmavam que não aceitariam a proposta do governo e prometiam levar as queixas à Justiça.
Na segunda-feira, porém, Nicola Stock, representante dos credores italianos, o maior grupo de estrangeiros, com 15,6% dos papéis
em moratória, disse que vai esgotar a negociação antes de apelar
para a Justiça.
Com a iminência da troca dos
bônus, tantos os títulos em moratória quanto os emitidos depois
do "default" tiveram uma valorização de 4% no mercado nesta semana.
Ontem, o Ministério da Economia anunciou que iniciará a troca
dos títulos no dia 15 de novembro.
Os credores terão cinco semanas
para aceitar a troca. Em julho, o
governo ofereceu pagar a dívida
corrigida até julho, o que soma
US$ 104 bilhões, mas com um
desconto de 75% sobre esse valor.
A proposta prevê a troca dos 152
diferentes tipos de títulos espalhados por sete países por três tipos
de papéis com diferente remuneração e prazos.
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