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Brinquedo troca pelúcia por eletrônicos
Importados dominam Natal e Dia da Criança, e empresas brasileiras lucram mais com produtos asiáticos de maior valor
Entrada de brinquedos com
maior tecnologia cresce
139%, enquanto compras
de bichinhos recuam 40%;
indústria prevê faturar R$ 1 bi
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil importou US$ 3,4 bilhões a menos em brinquedos
como bichos de pelúcia, carrinhos e bonecas de corda neste
ano, até agosto, na comparação
com 2005. Boa parte dessas
mercadorias -oriundas de fábricas da Ásia- entra no país a
preços mais elevados hoje, reflexo do cerco do fisco ao "importabando".
Ao mesmo tempo, há outro
movimento paralelo a esse no
setor. Existe hoje uma explosão
das importações de brinquedos
eletrônicos acabados da Ásia.
A entrada desses itens no
Brasil cresceu mais de 139% de
janeiro a agosto de 2006, em relação ao mesmo período do ano
passado, segundo dados da balança comercial.
São mercadorias com maior
valor agregado. Portanto, elas
ajudam a elevar a margem de
lucro sobre o produto vendido.
Os brinquedos estão sendo
trazidos do exterior pelos grupos brasileiros -que possuem
fábricas instaladas no país-
com o intuito de completar o
portfólio das marcas para a
venda no varejo.
Atualmente, além da importação da mercadoria acabada,
existe a compra dos chips eletrônicos de países asiáticos para a montagem local.
Os chips são componentes
usados em bonecas e carrinhos
de última geração. Esses produtos, com diferentes funções
(incluindo inteligência artificial), chegam a custar R$ 800
neste Dia da Criança.
Em 2006, a Estrela decidiu
reduzir o volume de mercadorias fabricadas no Brasil, abrindo espaço para a importação de
produtos acabados de empresas chinesas e "mantendo o padrão de qualidade", informa o
grupo, em nota explicativa no
balanço financeiro do segundo
trimestre.
Rentabilidade
A fabricante diz que isso será
"importante para recuperar a
rentabilidade do negócio". A
margem de lucro bruta da empresa passou de 20% em 2005
para quase 28% neste ano.
Na prática, a estratégia se assemelha à de grupos como a
Gulliver, marca brasileira que
vende no país bonecos de filmes como "Quarteto Fantástico" e "Homem-Aranha".
Foi o licenciamento de itens
produzidos na Ásia, em 2005,
que fez a empresa atingir R$ 40
milhões em faturamento no
ano passado, expansão de 20%
em relação ao período anterior.
Metade do que a Gulliver vende
no Brasil é importada do continente asiático.
"Estamos completando nossa linha com o que tem de inovação em tecnologia lá fora.
Cerca de 20% de nosso portfólio é formado por produtos com
eletrônica embarcada. Estamos acompanhando as mudanças no mercado mundial, que
segue essa tendência", diz Aires
Fernandes, diretor de marketing da Estrela.
Esse movimento atual da indústria fez aumentar os volumes embarcados de brinquedos eletrônicos da Ásia -na
contramão da queda nas importações de bichos de pelúcia
e carrinhos a fricção.
De janeiro a agosto, o volume
de bichinhos importados caiu
40% na comparação com 2005.
No caso de brinquedos para
construir (modelo semelhante
ao Lego), a quantidade importada caiu 22,6%. O valor encolheu 12,8%, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Ao mesmo tempo, brinquedos elétricos tiveram explosão
nos embarques ao Brasil.
Pelos dados do ministério, o
volume total passou de 452 mil
quilos de janeiro a agosto de
2005 para 944 mil quilos no
mesmo período de 2006. Em
unidades, a quantidade de brinquedos eletrônicos e elétricos
que entraram no país cresceu
139% -passou de 641 mil itens
para 1,5 milhão.
O novo setor
A expansão na fiscalização da
Receita Federal dos itens importados ilegalmente e o movimento de reestruturação dos
negócios de empresas brasileiras levaram o setor de brinquedos a uma expansão em 2006.
Grandes líderes de mercado
como Tec Toy, Grow e Estrela
reformularam sua linha de produtos, cortaram custos e reduziram pessoal.
Isso acontece cerca de dez
anos depois de a Abrinq, a associação das indústrias de brinquedos, ter acionado o sinal de
alerta após o primeiro grande
tombo nos resultados das empresas, em 1995.
A crise na época foi provocada pela invasão do "importabando" ou quinquilharias asiáticas de baixa qualidade e preço
muito baixo. "Aquilo acabou.
Estamos num outro momento", diz Synésio da Costa, presidente da Abrinq.
O quadro de vendas maiores
ganha destaque agora às vésperas daquele que deve ser o melhor Dia da Criança desde
2000, segundo as empresas.
A indústria brasileira deve
chegar, finalmente, a faturamento nominal de R$ 1 bilhão
em 2006, alta de pouco mais de
5% sobre o ano anterior, e expansão de 12% na produção
-taxa recorde, já que esse indicador cresce um dígito ao ano
desde o final dos anos 1990.
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