São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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Brinquedo troca pelúcia por eletrônicos

Importados dominam Natal e Dia da Criança, e empresas brasileiras lucram mais com produtos asiáticos de maior valor

Entrada de brinquedos com maior tecnologia cresce 139%, enquanto compras de bichinhos recuam 40%; indústria prevê faturar R$ 1 bi

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil importou US$ 3,4 bilhões a menos em brinquedos como bichos de pelúcia, carrinhos e bonecas de corda neste ano, até agosto, na comparação com 2005. Boa parte dessas mercadorias -oriundas de fábricas da Ásia- entra no país a preços mais elevados hoje, reflexo do cerco do fisco ao "importabando".
Ao mesmo tempo, há outro movimento paralelo a esse no setor. Existe hoje uma explosão das importações de brinquedos eletrônicos acabados da Ásia.
A entrada desses itens no Brasil cresceu mais de 139% de janeiro a agosto de 2006, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da balança comercial.
São mercadorias com maior valor agregado. Portanto, elas ajudam a elevar a margem de lucro sobre o produto vendido.
Os brinquedos estão sendo trazidos do exterior pelos grupos brasileiros -que possuem fábricas instaladas no país- com o intuito de completar o portfólio das marcas para a venda no varejo.
Atualmente, além da importação da mercadoria acabada, existe a compra dos chips eletrônicos de países asiáticos para a montagem local.
Os chips são componentes usados em bonecas e carrinhos de última geração. Esses produtos, com diferentes funções (incluindo inteligência artificial), chegam a custar R$ 800 neste Dia da Criança.
Em 2006, a Estrela decidiu reduzir o volume de mercadorias fabricadas no Brasil, abrindo espaço para a importação de produtos acabados de empresas chinesas e "mantendo o padrão de qualidade", informa o grupo, em nota explicativa no balanço financeiro do segundo trimestre.

Rentabilidade
A fabricante diz que isso será "importante para recuperar a rentabilidade do negócio". A margem de lucro bruta da empresa passou de 20% em 2005 para quase 28% neste ano.
Na prática, a estratégia se assemelha à de grupos como a Gulliver, marca brasileira que vende no país bonecos de filmes como "Quarteto Fantástico" e "Homem-Aranha".
Foi o licenciamento de itens produzidos na Ásia, em 2005, que fez a empresa atingir R$ 40 milhões em faturamento no ano passado, expansão de 20% em relação ao período anterior. Metade do que a Gulliver vende no Brasil é importada do continente asiático.
"Estamos completando nossa linha com o que tem de inovação em tecnologia lá fora. Cerca de 20% de nosso portfólio é formado por produtos com eletrônica embarcada. Estamos acompanhando as mudanças no mercado mundial, que segue essa tendência", diz Aires Fernandes, diretor de marketing da Estrela.
Esse movimento atual da indústria fez aumentar os volumes embarcados de brinquedos eletrônicos da Ásia -na contramão da queda nas importações de bichos de pelúcia e carrinhos a fricção.
De janeiro a agosto, o volume de bichinhos importados caiu 40% na comparação com 2005.
No caso de brinquedos para construir (modelo semelhante ao Lego), a quantidade importada caiu 22,6%. O valor encolheu 12,8%, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Ao mesmo tempo, brinquedos elétricos tiveram explosão nos embarques ao Brasil.
Pelos dados do ministério, o volume total passou de 452 mil quilos de janeiro a agosto de 2005 para 944 mil quilos no mesmo período de 2006. Em unidades, a quantidade de brinquedos eletrônicos e elétricos que entraram no país cresceu 139% -passou de 641 mil itens para 1,5 milhão.

O novo setor
A expansão na fiscalização da Receita Federal dos itens importados ilegalmente e o movimento de reestruturação dos negócios de empresas brasileiras levaram o setor de brinquedos a uma expansão em 2006.
Grandes líderes de mercado como Tec Toy, Grow e Estrela reformularam sua linha de produtos, cortaram custos e reduziram pessoal.
Isso acontece cerca de dez anos depois de a Abrinq, a associação das indústrias de brinquedos, ter acionado o sinal de alerta após o primeiro grande tombo nos resultados das empresas, em 1995.
A crise na época foi provocada pela invasão do "importabando" ou quinquilharias asiáticas de baixa qualidade e preço muito baixo. "Aquilo acabou. Estamos num outro momento", diz Synésio da Costa, presidente da Abrinq.
O quadro de vendas maiores ganha destaque agora às vésperas daquele que deve ser o melhor Dia da Criança desde 2000, segundo as empresas.
A indústria brasileira deve chegar, finalmente, a faturamento nominal de R$ 1 bilhão em 2006, alta de pouco mais de 5% sobre o ano anterior, e expansão de 12% na produção -taxa recorde, já que esse indicador cresce um dígito ao ano desde o final dos anos 1990.


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