São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

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Concentração pode dificultar redução das tarifas bancárias

Governo tenta forçar o setor a diminuir preços de tarifas, utilizadas pelos bancos para compensar queda dos juros

Cobrança por serviços já chega a 123% da folha de pagamento dos bancos; no começo do Plano Real, o percentual era de 40%

DA REPORTAGEM LOCAL

A compra do ABN Real chega no momento da maior queda-de-braço entre o governo e os bancos por conta das tarifas bancárias, que somaram R$ 23,286 bilhões apenas no primeiro semestre e se tornaram uma das maiores fontes de receita dos bancos. A junção ABN-Santander aumenta a concentração no setor e diminui o poder de barganha dos reguladores frente aos interesses comuns dos grandes bancos.
Na semana passada, a equipe econômica se reuniu com a Febraban para debater o assunto, mas as discussões não avançaram. Pior, ambos os lados saíram atirando. O presidente da Febraban, Fábio Barbosa, também presidente do ABN Real, disse que um eventual tabelamento "ameaça a expansão do crédito" no país.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo decidiu comprar a briga da portabilidade de dívidas, que permitiria ao cliente levar seu financiamento imobiliário de um banco para outro que oferecesse juro menor. Diante da proposta, os bancos exigem ser ressarcidos, pois afirmam que captaram dinheiro com um custo proporcional à receita futura, que deixariam de ter se o cliente mudar de instituição.
Para o advogado Jairo Saddi, professor do Ibmec-SP, o debate não poderia ter avançado por um caminho mais equivocado, uma vez que crédito e serviços bancários são negócios de natureza distintas. "O crédito é precificado por meio de juros e leva em conta o risco de inadimplência. Se o risco é alto, o juro é maior. Já a tarifa é cobrada por um serviço, que resolve um problema do cliente. É temerária a afirmação do presidente da Febraban", disse.
Segundo estudo da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista), as tarifas cobrem 123% das despesas com a folha de pagamento dos bancos. No início do Real, os serviços ficavam em 40% da folha.
Para o matemático Marcos Crivelaro, da Fiap, os bancos brasileiros repetem o modelo mexicano de aumento de tarifas para compensar a rentabilidade mais baixa com o juro menor. "Na fronteira com os EUA, o mesmo banco cobra uma tarifa altíssima no México para um serviço gratuito para os americanos", disse.
"A compra do ABN não afeta a concorrência, mas as práticas do sistema, sim. A concorrência acaba quando diminui a escolha do cliente. Se você for mal atendido em um restaurante, nunca mais volta. Com banco é diferente. Dá muito trabalho mudar. Discutir a portabilidade e a mobilidade bancária fará toda diferença", disse Saddi.


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