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Concentração pode dificultar redução das tarifas bancárias
Governo tenta forçar o setor a diminuir preços de tarifas, utilizadas pelos bancos para compensar queda dos juros
Cobrança por serviços já chega a 123% da folha de pagamento dos bancos; no começo do Plano Real, o percentual era de 40%
DA REPORTAGEM LOCAL
A compra do ABN Real chega
no momento da maior queda-de-braço entre o governo e os
bancos por conta das tarifas
bancárias, que somaram R$
23,286 bilhões apenas no primeiro semestre e se tornaram
uma das maiores fontes de receita dos bancos. A junção
ABN-Santander aumenta a
concentração no setor e diminui o poder de barganha dos reguladores frente aos interesses
comuns dos grandes bancos.
Na semana passada, a equipe
econômica se reuniu com a Febraban para debater o assunto,
mas as discussões não avançaram. Pior, ambos os lados saíram atirando. O presidente da
Febraban, Fábio Barbosa, também presidente do ABN Real,
disse que um eventual tabelamento "ameaça a expansão do
crédito" no país.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo decidiu comprar a briga
da portabilidade de dívidas, que
permitiria ao cliente levar seu
financiamento imobiliário de
um banco para outro que oferecesse juro menor. Diante da
proposta, os bancos exigem ser
ressarcidos, pois afirmam que
captaram dinheiro com um
custo proporcional à receita futura, que deixariam de ter se o
cliente mudar de instituição.
Para o advogado Jairo Saddi,
professor do Ibmec-SP, o debate não poderia ter avançado por
um caminho mais equivocado,
uma vez que crédito e serviços
bancários são negócios de natureza distintas. "O crédito é
precificado por meio de juros e
leva em conta o risco de inadimplência. Se o risco é alto, o
juro é maior. Já a tarifa é cobrada por um serviço, que resolve
um problema do cliente. É temerária a afirmação do presidente da Febraban", disse.
Segundo estudo da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista), as tarifas
cobrem 123% das despesas com
a folha de pagamento dos bancos. No início do Real, os serviços ficavam em 40% da folha.
Para o matemático Marcos
Crivelaro, da Fiap, os bancos
brasileiros repetem o modelo
mexicano de aumento de tarifas para compensar a rentabilidade mais baixa com o juro menor. "Na fronteira com os EUA, o mesmo banco cobra uma tarifa altíssima no México para um
serviço gratuito para os americanos", disse.
"A compra do ABN não afeta
a concorrência, mas as práticas
do sistema, sim. A concorrência
acaba quando diminui a escolha do cliente. Se você for mal
atendido em um restaurante,
nunca mais volta. Com banco é
diferente. Dá muito trabalho
mudar. Discutir a portabilidade
e a mobilidade bancária fará toda diferença", disse Saddi.
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