São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

CEF negocia compra de 20 carteiras de bancos

A Caixa Econômica Federal está perto de concluir a compra de 20 carteiras de empréstimos de cerca de dez bancos pequenos e médios.
A instituição deve desembolsar mais de R$ 1 bilhão nessa operação. A CEF tem um caixa de R$ 100 bilhões à disposição.
Apesar de o nome dos bancos ser mantido em sigilo, o que se sabe é que são instituições que apresentam apenas alguns problemas de liquidez devido à paralisia das linhas de crédito internacionais.
Não é só a Caixa Econômica Federal que está adquirindo essas carteiras de crédito para socorrer os bancos pequenos e médios. Os grandes bancos também estão em negociações dessas carteiras. Os nomes, no entanto, também estão sendo mantidos em sigilo.
Os grandes bancos privados se interessaram em comprar essas carteiras de crédito para aproveitar o desconto concedido no compulsório pelo Banco Central.
Na segunda-feira, o presidente Lula editou medida provisória dando carta-branca para o Banco Central ter direito a comprar carteira de crédito dos bancos pequenos e médios. O objetivo da medida é ajudar os bancos de pequeno porte que foram abatidos pelo congelamento das linhas de crédito.
Ao explicar a medida, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que o objetivo é socorrer os bancos que estejam em dificuldade imediata. Ele informou também que não via, pelo menos até aquele momento, necessidade de exercer essa prerrogativa.
Muitos especialistas interpretaram essa medida como um sinal de que os grandes bancos não tinham se interessado em comprar as carteiras de crédito dos bancos pequenos. Havia algumas dificuldades técnicas para a operacionalização do negócio. O que se apurou é que as negociações estão em pleno andamento.
Apesar de todas as medidas reforçando os poderes do Banco Central, mesmo assim o mercado ficou bastante pessimista ontem, o que pode levar a autoridade monetária a tomar novas medidas.

Werlang sugere redução do compulsório e pausa nos juros

O Banco Central deveria baixar o compulsório e dar uma pausa ou subir pouco os juros na próxima reunião do Copom para reduzir o problema de contração de liquidez no sistema financeiro, na opinião de Sérgio Werlang, vice-presidente do Itaú e ex-diretor do Banco Central.
Segundo ele, o problema vivido hoje de restrição ao crédito tem o mesmo efeito de uma alta dos juros pelo Banco Central. O custo do dinheiro subiu e os prazos de financiamento encurtaram. Pelas suas contas, essa contração de liquidez equivale a uma elevação da Selic dos atuais 13,75% para 14,3%.
Werlang diz que as medidas adotadas pelo Banco Central nos últimos dias estão na direção correta, mas ele não arrisca dizer se serão suficientes ou não para injetar liquidez no mercado.
"Não sei se as medidas serão suficientes ou não, mas acho que talvez o Banco Central devesse oferecer um pouco mais em linhas em dólar, já que está com um nível folgado de reservas, e liberar um pouco mais o compulsório."
O Brasil é o país com a maior taxa de compulsório do mundo, de 53% sobre os depósitos à vista. Werlang acha que essa alíquota poderia cair uns dez pontos percentuais, o que daria um alívio para o mercado e diminuiria o problema de contração de liquidez.

LANCE LIVRE
Pela primeira vez desde 2002, a lista dos 50 chineses mais ricos registrou queda de quase um terço nas riquezas no último ano. O relatório Hurun, que elenca os milionários, divulgado ontem, aponta que a crise financeira global já começa a derreter fortunas na China, segundo o "Financial Times". Outra novidade no ranking é a entrada do astro da NBA, o jogador de basquete Yao Ming, 28, que passa a fazer parte da lista, na posição 987, como o rico mais jovem do grupo.

PAPEL DE PRESENTE
As vendas do varejo para o Dia da Criança caíram 1,3% entre os dias 3 e 5 na comparação com 5 a 7 de outubro de 2007, informou a Serasa. Para o órgão, as eleições prejudicaram o movimento do varejo em todo o país. São Paulo foi exceção, pois muitos eleitores deixaram de viajar no fim de semana para votar e aproveitaram para fazer compras. As vendas no município subiram 1,8% no período.

CALENDÁRIO
Patrick de Larragoiti Lucas, presidente da SulAmérica Seguros e Previdência, afirma que o mercado de seguradoras brasileiro deve sentir os impactos da crise no próximo ano. "Neste ano, a previsão de crescimento está mantida em 10% e em 2009 será inferior." Segundo Larragoiti, o mercado brasileiro vai levar mais tempo para receber reflexos das turbulências porque é muito conservador.

HOLOFOTES
A crise econômica internacional aumentou o interesse de jornalistas pela cobertura da reunião anual do FMI (Fundo Monetário Internacional), realizada nesta semana. O órgão informou que a quantidade de cadastros para a imprensa da América Latina é a maior dos últimos cinco anos.

NA ESPERA
A volatilidade da cotação do dólar congelou as vendas de pacotes de viagens internacionais. "Nosso problema não é a subida do dólar, mas a instabilidade do mercado", diz Leonel Rossi, da Abav (associação de agências de viagens). Segundo ele, as pessoas pararam de comprar temporariamente os pacotes para aguardar o mercado se estabilizar. No entanto, isso não deve afetar o resultado do ano. "Já vendemos 50% dos pacotes previstos para o final de ano. Acho que não teremos dificuldade em vender o resto. Se alguém deixar de ir para o exterior, vai fazer viagens domésticas. E mais estrangeiros virão para cá."

CONSUMIDOR

APENAS 4% CITAM CRISE COMO FATO MAIS SURPREENDENTE DO MÊS
A crise econômica ainda surpreende pouco os consumidores brasileiros, segundo dados do INC (Índice Nacional de Confiança) ACSP/Ipsos. Apenas 4% deles apontaram notícias relacionadas à crise como as que mais lhes chamaram a atenção em setembro. Crimes e notícias policiais foram os fatos que mais surpreenderam, com 39% das menções. Apesar de não citarem a crise, os consumidores das grandes cidades estão menos confiantes na economia. O INC das nove regiões metropolitanas continuou a trajetória de queda iniciada em abril e atingiu 132 pontos em setembro.

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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