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OPINIÃO ECONÔMICA
O jogo da economia e do direito
GESNER OLIVEIRA
O presidente Lula descobriu que há cidades limpas
na África. E que é prudente fazer
um acordo com o FMI mesmo
contrariando os petistas radicais
e as promessas de campanha.
Tais fatos não são novos e não deveriam causar surpresa, como de
resto não há muita novidade na
conjuntura econômica brasileira.
Em contraste com a conjuntura,
as instituições do país estão em
mudança. Embora lento, tal processo terminará por alterar a vida
econômica do país.
A aproximação do direito e da
economia ilustra uma das alterações em curso. Não é uma mudança formal. Algo que possa ser
feito por decreto ou portaria. Trata-se de uma mudança cultural.
Uma parcela crescente das novas gerações de economistas e advogados tem uma cabeça diferente. O economista está mais consciente dos aspectos institucionais,
ou pelo menos deveria estar, sobretudo à luz da literatura recente de desenvolvimento. O advogado está mais atento ao fato econômico e transita com maior frequência nas áreas da economia.
Nesta semana o advogado e
economista Marcelo Cagliari defendeu tese de doutoramento na
Universidade de São Paulo em tema tipicamente aplicado na teoria econômica. O trabalho discute
a aplicação da teoria dos jogos ao
direito internacional.
Não é por acaso que a teoria dos
jogos é um natural ponto de encontro entre a economia e o direito. O problema central envolve interação estratégica entre indivíduos, empresas, países ou coalizões envolvendo governos nacionais e organizações não-governamentais.
A teoria dos jogos acabou tendo
aplicação muito mais ampla do
que imaginava seu criador e Prêmio Nobel de 1994, John Nash. A
organização industrial e o comércio internacional são as áreas de
utilização mais frequente desse
instrumental.
No trabalho de Cagliari, por
exemplo, a negociação entre países que têm interesse na liberalização da agricultura, como Brasil
e Argentina, e a União Européia é
discutida à luz do chamado jogo
do covarde.
O jogo do covarde não tem nada a ver com gafes presidenciais
ou com alguma referência menos
elogiosa a ex-presidentes. Trata-se de uma situação em que dois
jogadores adotam uma posição
negocial inflexível na expectativa
de que o outro jogador ceda, fazendo o papel do covarde.
Ocorre que em determinadas
circunstâncias nenhum dos lados
cede e o resultado é negativo para
todos. Qualquer semelhança com
aquilo que pode acontecer em
Miami, na Alca, ou em Genebra,
na negociação da Rodada de Doha da OMC, não é mera coincidência.
Há vários outros exemplos no
estudo e inúmeras outras possibilidades de aplicação. Os problemas de coordenação nos processos de falência de uma empresa
ou mesmo de um país foram explorados por outros autores.
A teoria dos jogos tem suas limitações como toda teoria, mas ajuda a pensar diferentes problemas
de maneira útil e criativa. Contribui especialmente para entender
que tipo de incentivos pode levar
os jogadores a adotar essa ou
aquela estratégia e consequentemente a obter determinados resultados.
A aproximação dos profissionais do direito, economia e áreas
afins é um fato em vários países. É
urgente promovê-la no Estado
nacional, a começar pelas procuradorias dos órgãos públicos e pela magistratura. Sem o que não
haverá modernização da economia brasileira.
Gesner Oliveira, 47, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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