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Anac quer veto a empresas em dificuldades
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Antes de desmoronar como
um castelo de cartas, a antiga
diretoria da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) vinha
discutindo informalmente
agregar mais uma competência: a fiscalização da saúde financeira das companhias aéreas, para detectar problemas
cedo e evitar que viessem a
quebrar, deixando dívidas
enormes e milhares de passageiros desprotegidos.
A idéia, também discutida no
Snea (Sindicato Nacional das
Empresas Aéreas), era proibir
companhias com patrimônio
líquido negativo de voar. A elas,
seria dada uma margem de segurança de seis meses, para
reestruturação e saneamento.
Se não tivessem sucesso, perderiam a concessão. A discussão ficou de herança para a nova diretoria, que será presidida
pela economista Solange Paiva,
atual secretária de Aviação Civil do Ministério da Defesa.
Na avaliação do mercado, hoje centralizado na TAM e na
Gol, a exigência de patrimônio
líquido positivo teria impedido
que a situação financeira da Varig, da Vasp, da Transbrasil e,
agora, da BRA chegasse a um
nível de deterioração irreversível, com milhões de reais e de
dólares impagáveis e prejuízo
para os consumidores.
A BRA ocupava 4,6% do mercado e, de acordo com nota distribuída ontem pela Anac, a
companhia, mesmo em dificuldades, vendeu em torno de 65
mil bilhetes até fevereiro,
4.200 em vôos internacionais.
As duas principais companhias e a OceanAir assumiram
o compromisso de ceder suas
vagas disponíveis com os passageiros da BRA que precisem
voltar para casa. Mas o governo
sabe que o tempo é curto. Nenhuma delas terá disponibilidade no período de férias, entre
dezembro e fevereiro.
Há, além disso, o temor não
confessado publicamente de
que a OceanAir também não tenha fôlego para se manter e
crescer, apesar de o governo jogar suas fichas nisso para tentar contornar o que já é chamado de "duopólio" de TAM e Gol.
O mercado está em crise por
diferentes fatores, inclusive pelo amadorismo da Anac, mas
um dos principais deles é econômico: o desequilíbrio entre
oferta e procura, com a coincidência da quebra da Varig com
um reaquecimento da economia e da aviação civil no país.
Atualmente, a Anac tem
competência, por exemplo, para fiscalizar a checagem rotineira dos pilotos, as revisões
obrigatórias das aeronaves, a
procedência das peças de reposição e, enfim, as malhas aéreas, para averiguar regularidade e pontualidade.
Era de conhecimento geral
no mercado que a BRA não
cumpria a maioria dessas exigências, mas a assessoria da
Anac disse ontem que a fiscalização foi reforçada, depois de
detectado um aumento no número de manutenções não-programadas e de queixas de
atrasos e cancelamentos. No
dia 18 de outubro, proibiu a empresa de vender passagens internacionais por esses motivos.
Colaborou JOHANNA NUBLAT, da Sucursal de Brasília
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