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G20 deixa de lado medidas para o câmbio
Comunicado final de reunião na Escócia nem cita debate sobre a subvalorização de moedas como o dólar e o yuan
Gordon Brown sugere taxar operações financeiras, mas G20 decide que países criarão uma "cesta de opções" a ser analisada apenas em abril
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À ESCÓCIA
A excessiva sobrevalorização
do real, principal preocupação
conjuntural do governo brasileiro, não aparece nem tangencialmente no comunicado final
da reunião de ministros da Fazenda e presidentes de bancos
centrais, encerrada ontem em
Saint Andrews, na Escócia.
Aliás, a palavra "câmbio" não
é mencionada em nenhuma linha. Não quer dizer que o tema
não tenha sido discutido. Foi
levantado pelo ministro Guido
Mantega, tal como anunciara à
Folha. Mas Mantega não especificou países cujas moedas estão subvalorizadas (são essencialmente o dólar e o yuan chinês, a ele indexado).
Preferiu dizer que é preciso
encarar o problema dos desníveis cambiais, em especial de
moedas que são reservas mundiais (caso do dólar).
Os norte-americanos reconhecem a subvalorização de
sua moeda, mas dizem que necessitam dela, por enquanto,
para alavancar sua incipiente
recuperação, já que facilita as
exportações.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comentou outro tipo de desequilíbrio, aquele entre os países
que consomem demais (leia-se:
EUA) e aqueles que exportam
ou poupam demais (a China
principalmente, mas não só).
"Não eliminaremos os desequilíbrios e não criaremos bases para um desenvolvimento
sustentado sem resolver essa
situação", disse Meirelles a
seus colegas. Discurso adequado, na medida em que o principal eixo das discussões de ontem era a "Moldura para o
Crescimento Forte, Sustentável e Equilibrado", lançada na
cúpula de Pittsburgh (EUA), há
um mês e meio.
O debate sobre os dois desequilíbrios (o cambial e o buraco
entre consumidores e exportadores) foi jogado para o ano
que vem, no marco do cronograma definido ontem para o
que Alistair Darling, o ministro
anfitrião, chamou de mecanismos para "assegurar que a próxima década seja uma década
de crescimento".
O cronograma funciona assim:
1 - Até janeiro, os países do
G20 estabelecem seus programas e projeções para suas próprias molduras.
Em tese, são neles que aparecerão propostas para corrigir
ambos os desequilíbrios.
2 - Em abril, com o assessoramento do FMI e do Banco
Mundial, faz-se uma análise da
"consistência coletiva" das políticas nacionais ou regionais,
para verificar se são compatíveis com os objetivos comuns.
3 - Na cúpula do G20 no Canadá, em junho, os chefes de
governo terão à mão "uma cesta de opções políticas para alcançar os objetivos".
4 - Por fim, em outra cúpula,
na Coreia do Sul, em novembro, haverá a sintonia fina das
avaliações e serão desenvolvidas "recomendações políticas
mais específicas".
Meirelles fez questão de enfatizar ontem que o FMI e o
Banco Mundial apenas apoiam
as análises, mas que as decisões
pertencem ao G20.
O cuidado do presidente do
BC se explica: o Brasil, assim
como outros emergentes, queria que o próprio G20, e não o
Fundo, ficasse como o xerife
das políticas a serem adotadas.
Como não havia muita novidade no pacote em discussão,
virou notícia o discurso de
abertura do primeiro-ministro
britânico, Gordon Brown, em
que ele propôs o que parecia
ser uma espécie de IOF global
sobre transações financeiras.
As TVs e as agências, até então sem assunto, deram destaque a esse item, mas o destaque
não sobreviveu ao comunicado
final, em que ele não aparece
nem remotamente.
Na verdade, Brown sugeriu a
taxa como uma de quatro fórmulas possíveis para fazer com
que os bancos paguem por
eventuais futuros pacotes de
socorro, em vez de o peso recair sobre o contribuinte, como
está acontecendo agora.
"Não tem nenhuma semelhança com o IOF do Brasil",
disparou Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional.
Strauss-Kahn informou que o
Fundo está estudando várias
fórmulas para fazer com que os
bancos paguem por seus excessos, mas só em abril terá propostas acabadas.
A informação é recolhida no
comunicado final, que diz que
serão analisadas "as opções sobre como o setor financeiro poderá contribuir para pagar os
prejuízos associados com as intervenções governamentais
para consertar o sistema bancário".
Meirelles não se emocionou
tanto quanto os jornalistas
com a ideia de taxar os bancos,
pela simples razão de que o
Brasil já tem essa espécie de seguro, na forma do Fundo Garantidor de Crédito, que, lembrou o presidente do Banco
Central, teve "papel fundamental" na crise, entre outras
razões, por permitir a garantia
de depósitos e a compra de carteiras de crédito de instituições
pequenas e médias.
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