São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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Petista acha que Brasil "reconquistou" Argentina

COLUNISTA DA FOLHA

A viagem do presidente eleito ao Chile e Argentina consolidou a intenção de apresentar aos americanos a idéia de uma negociação comercial entre Mercosul e EUA, paralelamente à Alca. O receio do PT, antes, era o de não ser acompanhado pela Argentina, principal sócio do Brasil no Mercosul.
Receio desfeito: "Há uma convergência nacional (na Argentina) em torno do Mercosul e da parceria com o Brasil", avalia Aloizio Mercadante.
Se há tal convergência, a eleição na Argentina não alterará a disposição para alinhar-se com o Brasil nas negociações comerciais que se acelerarão em 2003 (além da Alca, há o diálogo com a União Européia e a rodada da Organização Mundial do Comércio).
O entendimento Brasil/Argentina foi tão amplo que permitiu às partes passar para iniciativas concretas, já com data marcada: no dia 14 de janeiro, ministros e parlamentares dos dois países se reúnem para discutir o aprofundamento das relações bilaterais.
Pretende-se ir muito além do comércio (exatamente a área mais delicada), para discutir, por exemplo, a integração militar.
Os dois países estão de olho não apenas nas convencionais manobras conjuntas, mas também na utilização da área militar para driblar restrições a subsídios feitas pela OMC. Os EUA abusam da brecha nas regras internacionais que permite aos governos subsidiar gastos com defesa.
Recuperar o Mercosul, via um entendimento mais profundo com a Argentina, é apenas o ponto de partida para o sonho dourado do PT: integrar, sob liderança do Brasil, a América do Sul.
Para dar mais solidez ao sonho, Lula vai designar o historiador Marco Aurélio Garcia como assessor especial para a integração sul-americana, com escritório no Palácio do Planalto.
Marco Aurélio, ex-secretário de Relações Internacionais do PT e hoje secretário de Cultura da Prefeitura paulistana, fará o papel que os embaixadores Gelson Fonseca, primeiro, e Eduardo Santos, depois, desempenharam no governo FHC: a assessoria internacional do presidente, mas, no caso, com foco na América do Sul.
A idéia de uma América do Sul integrada não é nova: foi lançada em 1993, no governo Itamar Franco, quando FHC era o ministro de Relações Exteriores. Até agora, não saiu da fase de negociações e, agora, o PT torce, discretamente, para que o acordo EUA/Chile acabe não sendo fechado até 31 de dezembro, a mais recente data-limite posta nas negociações, que se arrastam desde 1994.
Se não houver acordo até o fim do ano, acreditam os petistas, será mais fácil atrair o Chile para o Mercosul, apesar das reticências evidentes das autoridades chilenas, fáceis de explicar, de resto: a tarifa de importação média no Chile não passa de 6% contra o dobro da média brasileira.


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