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China oferece US$ 10 bi ao pré-sal, diz Lobão
Ministro afirma que os chineses podem exigir uma parcela da produção de petróleo como contrapartida a empréstimo
Petrobras examinará redução "não muito grande" dos preços do combustível por causa da queda do petróleo, diz ministro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Leia a seguir os principais
trechos da entrevista do ministro de Minas e Energia, Edison
Lobão, concedida na sexta-feira em Brasília.
(VALDO CRUZ e HUMBERTO MEDINA)
FOLHA - A comissão interministerial está na reta final do fechamento
das propostas do novo modelo de
exploração de petróleo no país?
EDISON LOBÃO - Estamos fechando provavelmente na próxima terça-feira. Em seguida, o
presidente deseja abrir um debate público. Ainda não sabe
como será, se vai chamar sindicatos, universidades, instituições para falar sobre a matéria
ou se simplesmente transfere
para o Congresso Nacional.
FOLHA - Pelo que tem sido divulgado, o governo vai manter as regras
atuais de concessão para áreas já licitadas e, nas ainda não concedidas,
criar uma nova empresa e implantar
a partilha de produção. É isso?
LOBÃO - Essa é uma das alternativas. Temos várias. A criação da estatal é, talvez, a proposta, no meu entendimento,
que obtém maiores adesões.
FOLHA - Com partilha?
LOBÃO - É. Agora, a santidade
dos contratos terá de ser mantida. Não podemos rompê-los.
FOLHA - Mesmo com essa crise
mundial e o preço do petróleo despencando, a Petrobras tem condição
de manter o ritmo de seus investimentos?
LOBÃO - Tem. Há previsão de
investimento superior a US$
100 bilhões, que em vez de encolher pode até aumentar. Se
necessário, o governo aportará
recursos seus, das reservas, poderá aumentar o capital.
FOLHA - Que reserva?
LOBÃO - Da reserva externa.
Pode emprestar à Petrobras dinheiro das reservas externas.
FOLHA - Isso está em discussão?
LOBÃO - Isso é uma possibilidade, não há nenhuma impossibilidade.
FOLHA - Especialistas e dirigentes
da Petrobras alertam que, em 2009,
a geração de caixa diminuirá com a
recessão mundial e queda no petróleo. E que a fonte externa de financiamento secou. Diante disso, dizem
que a estatal pode manter os investimentos, mas terá de alongá-los
para evitar problemas de caixa.
LOBÃO - Não trabalhamos com
essa hipótese de alongamento.
Você diz que o financiamento
externo secou. Não secou. A
China está oferecendo à Petrobras US$ 10 bilhões num primeiro momento. Recebemos
representante de um príncipe
dos Emirados Árabes, que também quer investir na Petrobras.
Temos várias alternativas, empréstimos internos, externos, o
Orçamento da República, a
possibilidade de usar parte das
reservas externas do país.
FOLHA - Mas tem analista prevendo o barril abaixo de US$ 30.
LOBÃO - Não contemplo essa
hipótese de o petróleo cair a esse nível. É praticamente impossível. Basta os produtores reduzirem a produção, o que é fácil.
FOLHA - Qual o piso do preço do
barril para a viabilidade do pré-sal?
LOBÃO - Caindo a menos de
US$ 30 passa a ser negativo. A
quanto se produz petróleo hoje
no Brasil? Algo em torno de
US$ 20 e poucos. Se cai abaixo
disso, dá prejuízo. Alguém quer
ter prejuízo? Não. Então, basta
reduzir a produção, o que é
bom para a humanidade, porque preserva o estoque.
FOLHA - Como foi a obtenção do dinheiro chinês?
LOBÃO - A conversa foi da Petrobras, e o ministro tem que
participar. Os chineses pedem
a participação do ministério.
São US$ 10 bilhões para investimentos na Petrobras, empréstimo para o pré-sal.
FOLHA - Com contrapartida de exportação de uma parte direta a eles?
LOBÃO - Se fizerem essa exigência, é razoável. Temos que
vender mesmo para alguém.
FOLHA - E as refinarias premium,
no Maranhão e Ceará, voltadas à exportação? Especialistas dizem que,
com a queda do crescimento mundial, a demanda por refinarias cai.
LOBÃO - A Petrobras tem dito
com freqüência, eu tenho dito,
a Dilma [Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil], o presidente já disse também, que essas refinarias serão construídas
no prazo previsto. A do Maranhão começa no próximo ano,
no segundo semestre. É a mais
importante, de 600 mil barris.
FOLHA - Com o petróleo na casa
dos US$ 40/50 o barril, podemos esperar uma redução dos preços de
combustíveis no Brasil?
LOBÃO - A influência do preço
[do barril de petróleo] no Brasil
é pequena, porque nós produzimos tudo o que consumimos.
Por isso que não houve elevação interna quando o preço bateu perto de US$ 150 o barril.
Essa é uma questão que a Petrobras vai examinar ao longo
do tempo, mas, de qualquer forma, não se deve esperar uma
redução muito grande, porque
aí, sim, poderia criar embaraços a ela.
FOLHA - Segundo o senhor diz, a
criação da empresa estatal é quase
consenso no governo. Um dos motivos seria o governo ter mais controle
sobre as pesquisas, para saber o que
existe no pré-sal?
LOBÃO - Essa é uma das preocupações. Porque o governo
pretende ser realmente o dono
das ações e o dono da riqueza
que está ali. No sistema atual,
quando você faz o leilão, o petróleo passa a ser da empresa
que ganhou a licitação. Aqui,
não. Passa a ser da estatal, que
pertence ao povo.
FOLHA - Continua a idéia de que essa nova estatal não será operadora?
LOBÃO - Não será operadora
em nenhuma circunstância. As
operadoras serão a própria Petrobras e as demais. Em geral
não se inventa nada. É mais ou
menos o modelo da Noruega.
FOLHA - Esse novo modelo valeria
só para o pré-sal?
LOBÃO - Na comissão interministerial há quem defenda só
para o pré-sal e há quem defenda para toda a possibilidade
que possa surgir no Brasil em
matéria de exploração de petróleo. Isso nós vamos decidir
na próxima reunião.
FOLHA - O senhor está com um discurso otimista, mas a Vale demitiu
1.300 pessoas. Esse quadro não o
preocupa?
LOBÃO - O quadro de demissões pelo mundo afora é infinitamente maior. O que a Vale está fazendo é um ajuste na sua
folha de pessoal, necessário
nesta hora.
FOLHA - Não seria o caso, neste
momento, de a Petrobras seguir a
mesma receita?
LOBÃO - Ela está tomando medidas amplas, extensas. Consultou seus funcionários, pediu
que dessem sugestões sobre
contenção de gastos e recebeu
inúmeras sugestões.
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