São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MONTADORAS

No ano passado, foi produzido 1,79 milhão de carros, com alta de 6,3% em relação ao desempenho de 2000

Produção de veículo cresce, mas lucro cai

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As montadoras brasileiras produziram 1,79 milhão de veículos em 2001, número 6,3% maior que o do ano anterior. O resultado é próximo da meta do setor, que estimava a produção de 1,8 milhão de unidades, mas foi atingido à custa da redução da margem de lucro das empresas.
O aumento foi alcançado mesmo com a queda de vendas e produção no segundo semestre, resultado das diversas crises que tiveram impacto na economia brasileira: a crise argentina, o racionamento de energia, a recessão norte-americana e os efeitos dos atentados de 11 de setembro.
No primeiro semestre de 2001, foram vendidos 795 mil veículos no atacado (vendas das montadoras para os revendedores), contra 720 mil do segundo semestre.

Promoções
Para evitar que as vendas despencassem nos últimos meses do ano, as montadoras apelaram para promoções, que incluíram de redução de preços a melhores condições de financiamento.
A estratégia deu certo. As vendas no atacado, que caíram 22% em setembro e outros 15% em outubro, tiveram queda de apenas cerca de 5% nos últimos dois meses do ano, sempre em relação ao mesmo mês de 2000. No ano, as vendas tiveram alta de 7,3% em relação a 2000.
O resultado, no entanto, foi o que Ricardo Luiz Carvalho, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) chamou de "queda na qualidade das vendas". Para fazer as promoções e manter um nível mínimo de vendas, as montadoras tiveram que reduzir a margem de lucro.
"O segundo semestre foi sustentado pelas promoções. Mas as promoções têm vida curta. Mais cedo ou mais tarde elas terão que acabar ou ser feitas em um nível que traga margens mais adequadas e razoáveis para a indústria", prevê Carvalho, da Anfavea.
O consultor Mário Sozzi, da Deloitte Consulting, no entanto, diz acreditar que as promoções vão tornar-se parte do dia-a-dia das empresas do setor. "O que vimos foi uma corrida das montadoras para buscar um mercado retraído. Essa busca vai ser cada vez mais frequente", avalia.
Ele explica: a capacidade de produção das montadoras é maior que a procura no mercado brasileiro. Nos últimos anos, novas empresas, modernas e competitivas, entraram no mercado. Hoje, são doze as empresas instaladas no país. "Isso reforça a competição. Daqui para frente, não vai ser muito diferente do que temos hoje. É tendência", diz.

Capacidade ociosa
O setor automotivo tem capacidade para produzir 3 milhões de veículos no Brasil e outros 1,5 milhão na Argentina. Como muitas das plantas são complementares, analistas estimam que a capacidade ociosa na região esteja em quase 45%. No Brasil, segundo o presidente da Anfavea, a capacidade ociosa gira em torno de 38%.
"O setor costuma operar com uma capacidade ociosa grande, entre 27% e 30%. Mas 45% é um número muito alto", diz David Wong, consultor-gerente da Bozz Allen & Hamilton.
A maioria dos fabricantes de veículos não publica balanços com os resultados financeiros no Brasil, nem comenta ou divulga os números. Mas os analistas são unânimes: todos devem ter fechado o ano no vermelho.
O desempenho do setor em 2001 foi divulgado ontem pela Anfavea, que informa mensalmente o volume de produção, vendas e exportação da indústria automotiva brasileira.
As exportações do setor chegaram a US$ 4,1 bilhões, uma alta de 4,4% em relação aos US$ 3,9 bilhões de 2000. Para 2002, a associação prevê um crescimento das exportações em torno de 10%.
Carvalho, presidente da Anfavea, ainda prevê crescimento nas vendas de 3% e na produção de 5%. Para fazer as projeções, a associação supõe um cenário de estabilidade, sem os choques de 2001 e com uma tendência de queda da taxa de juros.
Ainda segundo Carvalho, a projeção de aumento de 10% nas exportações é conservadora. Em 2001, o crescimento de 4,4% ocorreu a despeito da imposição de tarifas de importação mais altas no México, hoje o destino mais importante das vendas externas das montadoras brasileiras, e da recessão argentina, segundo principal destino das vendas do setor.
Os executivos da Anfavea dizem acreditar que as restrições de comércio com a Argentina e com o México serão reduzidas este ano.
No caso do México, as negociações para redução da tarifa de importação, hoje em mais de 23% para os carros brasileiros, estão em fase de conclusão. Segundo a Anfavea, os argentinos, com a desvalorização, tem todo o interesse em eliminar as restrições.


Texto Anterior: Chuvas dobram nível no lago da usina de Furnas
Próximo Texto: Manter vendas no 2º semestre teve custo alto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.