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MONTADORAS
No ano passado, foi produzido 1,79 milhão de carros, com alta de 6,3% em relação ao desempenho de 2000
Produção de veículo cresce, mas lucro cai
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
As montadoras brasileiras produziram 1,79 milhão de veículos
em 2001, número 6,3% maior que
o do ano anterior. O resultado é
próximo da meta do setor, que estimava a produção de 1,8 milhão
de unidades, mas foi atingido à
custa da redução da margem de
lucro das empresas.
O aumento foi alcançado mesmo com a queda de vendas e produção no segundo semestre, resultado das diversas crises que tiveram impacto na economia brasileira: a crise argentina, o racionamento de energia, a recessão
norte-americana e os efeitos dos
atentados de 11 de setembro.
No primeiro semestre de 2001,
foram vendidos 795 mil veículos
no atacado (vendas das montadoras para os revendedores), contra
720 mil do segundo semestre.
Promoções
Para evitar que as vendas despencassem nos últimos meses do
ano, as montadoras apelaram para promoções, que incluíram de
redução de preços a melhores
condições de financiamento.
A estratégia deu certo. As vendas no atacado, que caíram 22%
em setembro e outros 15% em outubro, tiveram queda de apenas
cerca de 5% nos últimos dois meses do ano, sempre em relação ao
mesmo mês de 2000. No ano, as
vendas tiveram alta de 7,3% em
relação a 2000.
O resultado, no entanto, foi o
que Ricardo Luiz Carvalho, presidente da Anfavea (Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) chamou de
"queda na qualidade das vendas".
Para fazer as promoções e manter
um nível mínimo de vendas, as
montadoras tiveram que reduzir
a margem de lucro.
"O segundo semestre foi sustentado pelas promoções. Mas as
promoções têm vida curta. Mais
cedo ou mais tarde elas terão que
acabar ou ser feitas em um nível
que traga margens mais adequadas e razoáveis para a indústria",
prevê Carvalho, da Anfavea.
O consultor Mário Sozzi, da Deloitte Consulting, no entanto, diz
acreditar que as promoções vão
tornar-se parte do dia-a-dia das
empresas do setor. "O que vimos
foi uma corrida das montadoras
para buscar um mercado retraído. Essa busca vai ser cada vez
mais frequente", avalia.
Ele explica: a capacidade de produção das montadoras é maior
que a procura no mercado brasileiro. Nos últimos anos, novas
empresas, modernas e competitivas, entraram no mercado. Hoje,
são doze as empresas instaladas
no país. "Isso reforça a competição. Daqui para frente, não vai ser
muito diferente do que temos hoje. É tendência", diz.
Capacidade ociosa
O setor automotivo tem capacidade para produzir 3 milhões de
veículos no Brasil e outros 1,5 milhão na Argentina. Como muitas
das plantas são complementares,
analistas estimam que a capacidade ociosa na região esteja em quase 45%. No Brasil, segundo o presidente da Anfavea, a capacidade
ociosa gira em torno de 38%.
"O setor costuma operar com
uma capacidade ociosa grande,
entre 27% e 30%. Mas 45% é um
número muito alto", diz David
Wong, consultor-gerente da Bozz
Allen & Hamilton.
A maioria dos fabricantes de
veículos não publica balanços
com os resultados financeiros no
Brasil, nem comenta ou divulga
os números. Mas os analistas são
unânimes: todos devem ter fechado o ano no vermelho.
O desempenho do setor em
2001 foi divulgado ontem pela
Anfavea, que informa mensalmente o volume de produção,
vendas e exportação da indústria
automotiva brasileira.
As exportações do setor chegaram a US$ 4,1 bilhões, uma alta de
4,4% em relação aos US$ 3,9 bilhões de 2000. Para 2002, a associação prevê um crescimento das
exportações em torno de 10%.
Carvalho, presidente da Anfavea, ainda prevê crescimento nas
vendas de 3% e na produção de
5%. Para fazer as projeções, a associação supõe um cenário de estabilidade, sem os choques de
2001 e com uma tendência de
queda da taxa de juros.
Ainda segundo Carvalho, a projeção de aumento de 10% nas exportações é conservadora. Em
2001, o crescimento de 4,4% ocorreu a despeito da imposição de tarifas de importação mais altas no
México, hoje o destino mais importante das vendas externas das
montadoras brasileiras, e da recessão argentina, segundo principal destino das vendas do setor.
Os executivos da Anfavea dizem
acreditar que as restrições de comércio com a Argentina e com o
México serão reduzidas este ano.
No caso do México, as negociações para redução da tarifa de importação, hoje em mais de 23%
para os carros brasileiros, estão
em fase de conclusão. Segundo a
Anfavea, os argentinos, com a
desvalorização, tem todo o interesse em eliminar as restrições.
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