São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2004

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MERCADO

C-Bond, principal papel da dívida do país no exterior, fecha sem deságio, em meio a otimismo com emergentes

Título brasileiro passa de 100% pela 1ª vez

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

O C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, alcançou ontem cotação recorde. Fechou negociado a US$ 1,00125, ou seja, a 100,125% de seu valor de face, em alta de 0,63% em relação ao dia anterior. Os números equivalem a dizer que o título foi negociado sem deságio.
Durante as negociações, o C-Bond atingiu a máxima de 100,250% de seu valor de face. O valor de fechamento do papel é o maior registrado desde seu lançamento, em 1994.
A valorização do título ajudou a diminuir a taxa do risco Brasil, que caiu 12 pontos e ficou em 411 pontos básicos ontem. No ápice das turbulências pré-eleitorais de 2002, o C-Bond chegou a 48,9% do seu valor de face. O risco-país da época subiu para 2.436 pontos.
O desempenho do papel brasileiro está atrelado à boa fase dos países emergentes. Prova disso é que o risco-país das economias emergentes está em queda.
Esse ânimo tem sido alimentado pela baixa taxa de juros de 1% praticada pelo Fed (banco central dos EUA). Ao olhar esse cenário, os investidores resolveram se lançar nos mercados emergentes à procura de remunerações mais elevadas. A fase de calmaria e crescimento dessas economias também colaborou para isso.
Desde o início de 2003, o C-Bond acumula valorização de 49,4%. Os títulos, lançados em 1994, carregam o estigma de serem "bradies", bônus emitidos em 1994 na reestruturação da dívida externa brasileira.
O novo arranjo da dívida foi consequência da moratória decretada durante o governo do ex-presidente José Sarney (1985-1990). Os papéis são lastreados nos títulos do Tesouro dos EUA.
Considerados como um dos papéis mais importantes entre os emergentes, a sua cotação serve como um indicador do nível de risco percebido e aceito pelos investidores internacionais.
Os C-Bonds têm vencimento em 15 de abril de 2014, mas em 15 de abril deste ano está previsto o pagamento da primeira parcela referente à amortização.
A consultoria Global Invest calcula que esse valor ficará em torno de US$ 310 milhões. A quantia só seria desembolsada se o Brasil não decidir recomprar os títulos ou trocar pela emissão de novos bônus. A superação da barreira dos 100% do valor de face oferece ao governo brasileiro a possibilidade de recomprar esses papéis do mercado após o dia 15 de abril. A adoção desse mecanismo é desaconselhada por Fernando Bau, da Global Invest: "O nível de reservas internacionais do Brasil é muito baixo, por isso não seria prudente", disse à Folha.
Ao ultrapassar os 100% do valor de face, o governo brasileiro também tem o direito de trocar os C-Bonds pela emissão de outros papéis, como os globais.
"Obviamente será bom para o governo trocar esses bônus por outros, para deixar de ter "bradies". Mas acredito que ainda é cedo. Faria mais sentido esperar até a metade do ano. Até lá, os investidores terão mais indícios de que a economia brasileira está crescendo. Isso vai facilitar as negociações para o Brasil ", disse José Barrionuevo, diretor de estratégia de mercados emergentes do Barclays Capital. Já Enrique Alvares, da consultoria Idea Global.com, argumenta que o governo deve trocar os títulos tão logo possível: "O Brasil tem que aproveitar o momento. O mercado se mostra aberto à compra de novos bônus lançados por emergentes".


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