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MERCADO
C-Bond, principal papel da dívida do país no exterior, fecha sem deságio, em meio a otimismo com emergentes
Título brasileiro passa de 100% pela 1ª vez
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
O C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, alcançou
ontem cotação recorde. Fechou
negociado a US$ 1,00125, ou seja,
a 100,125% de seu valor de face,
em alta de 0,63% em relação ao
dia anterior. Os números equivalem a dizer que o título foi negociado sem deságio.
Durante as negociações, o C-Bond atingiu a máxima de
100,250% de seu valor de face. O
valor de fechamento do papel é o
maior registrado desde seu lançamento, em 1994.
A valorização do título ajudou a
diminuir a taxa do risco Brasil,
que caiu 12 pontos e ficou em 411
pontos básicos ontem. No ápice
das turbulências pré-eleitorais de
2002, o C-Bond chegou a 48,9%
do seu valor de face. O risco-país
da época subiu para 2.436 pontos.
O desempenho do papel brasileiro está atrelado à boa fase dos
países emergentes. Prova disso é
que o risco-país das economias
emergentes está em queda.
Esse ânimo tem sido alimentado pela baixa taxa de juros de 1%
praticada pelo Fed (banco central
dos EUA). Ao olhar esse cenário,
os investidores resolveram se lançar nos mercados emergentes à
procura de remunerações mais
elevadas. A fase de calmaria e
crescimento dessas economias
também colaborou para isso.
Desde o início de 2003, o C-Bond acumula valorização de
49,4%. Os títulos, lançados em
1994, carregam o estigma de serem "bradies", bônus emitidos
em 1994 na reestruturação da dívida externa brasileira.
O novo arranjo da dívida foi
consequência da moratória decretada durante o governo do ex-presidente José Sarney (1985-1990). Os papéis são lastreados
nos títulos do Tesouro dos EUA.
Considerados como um dos papéis mais importantes entre os
emergentes, a sua cotação serve
como um indicador do nível de
risco percebido e aceito pelos investidores internacionais.
Os C-Bonds têm vencimento
em 15 de abril de 2014, mas em 15
de abril deste ano está previsto o
pagamento da primeira parcela
referente à amortização.
A consultoria Global Invest calcula que esse valor ficará em torno de US$ 310 milhões. A quantia
só seria desembolsada se o Brasil
não decidir recomprar os títulos
ou trocar pela emissão de novos
bônus. A superação da barreira
dos 100% do valor de face oferece
ao governo brasileiro a possibilidade de recomprar esses papéis
do mercado após o dia 15 de abril.
A adoção desse mecanismo é desaconselhada por Fernando Bau,
da Global Invest: "O nível de reservas internacionais do Brasil é
muito baixo, por isso não seria
prudente", disse à Folha.
Ao ultrapassar os 100% do valor
de face, o governo brasileiro também tem o direito de trocar os C-Bonds pela emissão de outros papéis, como os globais.
"Obviamente será bom para o
governo trocar esses bônus por
outros, para deixar de ter "bradies". Mas acredito que ainda é cedo. Faria mais sentido esperar até
a metade do ano. Até lá, os investidores terão mais indícios de que
a economia brasileira está crescendo. Isso vai facilitar as negociações para o Brasil ", disse José
Barrionuevo, diretor de estratégia
de mercados emergentes do Barclays Capital. Já Enrique Alvares,
da consultoria Idea Global.com,
argumenta que o governo deve
trocar os títulos tão logo possível:
"O Brasil tem que aproveitar o
momento. O mercado se mostra
aberto à compra de novos bônus
lançados por emergentes".
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