São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

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Dobra investimento externo no país

Brasil é destaque em balanço da Unctad de investimento externo em 2007, puxado por setor de commodities

Apesar da crise financeira, investimentos externos nos EUA, líder do ranking, crescem 10% atraídos pelo desvalorização do dólar

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Apesar da instabilidade criada pela crise no mercado imobiliário dos EUA, o volume global de IED (Investimento Estrangeiro Direto) atingiu em 2007 a marca recorde de US$ 1,5 trilhão, com destaque para o Brasil, com alta de quase 100%, segundo balanço divulgado ontem pela Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento).
Para 2008, a organização prevê mais investimentos nos setores de mineração e energia, devido à contínua demanda por recursos naturais.
No mês passado, o Banco Central do Brasil já havia anunciado um fluxo recorde de IED no país. Segundo o BC, entre janeiro e novembro o ingresso de recursos foi de US$ 33,7 bilhões, o dobro do ocorrido no mesmo período de 2006.
O documento da Unctad indica que o Brasil, ao lado de Chile e México, liderou a lista de países latino-americanos com maior ingresso de IED em 2007. O aumento no Brasil foi de 99,3% em relação a 2006.
A entrada de capital na região cresceu 50% em relação a 2006, alcançando US$ 126 bilhões. Segundo a Unctad, o aumento recorde se deveu principalmente a novos investimentos e expansões. "Essa tendência foi resultado do forte crescimento econômico da região e dos elevados lucros das empresas na esteira do aumento nos preços das matérias-primas", diz a Unctad. "A indústria de base explica grande parte do ingresso de IED no Brasil."
Já para o BC, o fator que mais pesou na recuperação dos investimentos foi a onda global de fusões e aquisições. O BC calculou que 20% do ingresso de capital registrado em 2007 foi de operações que superaram a casa de US$ 1 bilhão. No ano anterior essas grandes transações haviam respondido por apenas 5% do total.
Segundo a Unctad, em 2008 deve haver forte investimento no setor de mineração, "apesar de algumas projeções econômicas desfavoráveis e o potencial aperto nas regras para o investimento em recursos naturais".
"A alta demanda por recursos naturais ao redor do mundo -e, como resultado, a abertura de novas oportunidades potencialmente lucrativas no setor primário -deve estimular o IED nas indústrias de extração", afirma o órgão da ONU.
Ao analisar os números finais do ano, os economistas da organização observaram que a crise do "subprime" (hipotecas de alto risco) nos Estados Unidos não enfraqueceu o volume mundial de investimentos diretos nem mesmo em território americano, onde houve aumento de 10%. Com US$ 192 bilhões, os EUA mantêm-se como o maior recipiente mundial de IED.
"Mesmo com a desaceleração da economia dos Estados Unidos, a depreciação do dólar pode ter ajudado a manter os altos níveis de IED no país, em particular de países com moedas valorizadas, como da Europa e da Ásia", diz o balanço.
Para Brad Durham, diretor da consultoria americana EPFR Global, a perspectiva para o IED em 2008 é mais pessimista. "A mudança dramática de humor no fim do ano, com aperto no crédito global, temores de recessão em boa parte do mundo desenvolvido e uma desaceleração nas fusões e aquisições, me leva a crer que haverá uma redução no fluxo de IED em 2008", disse Durham à Folha.


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