São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

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Bird vê risco de "bolha" em emergentes

Banco Mundial diz que corte excessivo de juros por BCs de países ricos pode acabar "superestimulando" economias

Organismo prevê que crescimento de países em desenvolvimento deve impedir maior desaceleração da economia mundial

DA REDAÇÃO

O crescimento ainda vigoroso dos países em desenvolvimento deve impedir uma maior desaceleração da economia global neste ano, diz o Banco Mundial. Mas a instituição alerta, em relatório divulgado ontem, para os riscos de os bancos centrais dos países ricos reagirem "exageradamente" à atual crise financeira, cortando juros e "superestimulando" a economia.
Para o organismo, esse cenário seria "particularmente perigoso" aos próprios emergentes, como o Brasil. Segundo o Bird, a maior liquidez decorrente do corte da taxa de juros nos países desenvolvidos pode acabar deslocando alto volume de recursos para as regiões emergentes de alto crescimento, criando as mesmas condições de excesso de investimento que inflam preços e que acabaram levando à quebradeira no mercado imobiliário norte-americano, epicentro da crise atual.
"Os mercados de commodities podem ficar mais comprimidos, vão crescer as pressões inflacionárias e os desequilíbrios financeiros irão aumentar, em vez de diminuir. Esse cenário plantaria as sementes de uma desaceleração muito mais aguda no médio prazo e mostra o desafio atual das autoridades monetárias de países ricos e em desenvolvimento", afirma o documento "Perspectivas Econômicas Globais 2008", do Banco Mundial, que aponta o leste da Ásia (região de China, Tailândia e Vietnã) como um dos possíveis afetados pela crise.
O organismo diz ainda que um corte excessivo na taxa de juros pelas autoridades monetárias dos EUA -ou mesmo a recessão da economia americana- pode provocar uma desvalorização ainda maior do dólar. Isso beneficiaria "pelo menos temporariamente" os países cujas moedas estão atreladas à americana, mas prejudicaria as exportações de empresas para os Estados Unidos.
Mas o "principal impacto" da queda do dólar, diz o Bird, seria o aumento de incertezas e da volatilidade dos mercados financeiros, o que resultaria em queda nas exportações e no crescimento do investimento em toda a economia global.
O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) reduziu a taxa de juros básica nas suas últimas três reuniões, em um corte total de 1 ponto percentual, para 4,25%. E analistas já apostam em um corte de até 0,50 ponto percentual no encontro do final deste mês.
De acordo com o Bird, a economia mundial crescerá 3,3% neste ano -ante 3,6% no ano passado-, devido ao menor avanço do PIB dos países mais ricos, que deve se desacelerar de 2,6%, em 2007, para 2,2%. O impacto seria ainda maior, explica a instituição, se não fosse a expansão dos países emergentes, que devem continuar crescendo acima de 7% neste ano, puxada especialmente por China e Índia.
Para o Brasil, a previsão é a de que o país crescerá 4,5% neste ano e no próximo, o que deixará o país mais uma vez abaixo da média dos emergentes, cujos avanços devem ficar em 7,1% e 7%, respectivamente. No ano passado, o PIB do país se expandiu em 4,8%, segundo estimativa do Bird.
Mesmo excluindo a China e a Índia (colegas do Brasil nos Brics, grupo que também inclui a Rússia), o Brasil continua crescendo menos que a média dos países em desenvolvimento, que devem se expandir em 5,3% em 2008 e em 5,2% no ano que vem.
A boa notícia é que o Banco Mundial prevê que o avanço do PIB brasileiro será igual ao o da média da América Latina e Caribe neste ano, o que não acontece desde 2002, ainda no governo FHC, quando a economia do país se expandiu em 2,7%, mas a da região se desacelerou em 0,5%, segundo dados da Cepal. Ainda assim, o crescimento brasileiro será apenas o 15º maior entre os 26 países da região. Para o ano que vem, a situação não é muito diferente, com o Brasil crescendo mais que a região, mas ficando com apenas o 12º maior avanço.


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