São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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Brasil vende menos a ricos que a países em desenvolvimento

Pela primeira vez na história, países desenvolvidos perdem primazia das exportações, com 48,9% do total exportado

Furlan diz que empresário expandiu mercado ajudado por viagens de Lula e que país perdeu o pudor de fazer lobby para empresas


GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Pela primeira vez na história, o Brasil exportou mais a países em desenvolvimento do que a países desenvolvidos. No ano passado, o valor das exportações do Brasil para os países em desenvolvimento somou US$ 67,8 bilhões. Para os desenvolvidos, US$ 67,2 bilhões.
Do total de US$ 137,5 bilhões exportados pelo país no ano passado, praticamente a metade, 49,3%, destinou-se aos países em desenvolvimento, e 48,9%, para os desenvolvidos. O restante, 1,8%, é de "operações especiais", como consumo de bordo em navios e aviões.
Em 2005, os países ricos respondiam por 50,6% das exportações brasileiras, e os em desenvolvimento, 47,7%.
Para analistas, os principais motivos para a mudança são: 1) os países em desenvolvimento estão crescendo e comprando mais, principalmente alimentos e produtos básicos, importantes itens da pauta exportadora; 2) os países ricos protegem seus mercados a muitos desses produtos; 3) os produtos manufaturados que o Brasil exportava mais aos ricos perderam mercado pelo real forte.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirma que esses números mostram que a classe empresarial brasileira se mobilizou em busca de novos mercados: "As empresas descobriram que existem outros mercados a explorar além dos tradicionais".
Furlan acha que essa é uma tendência irreversível. Os países em desenvolvimento guardam muito mais semelhanças com o Brasil do que os desenvolvidos, o que, segundo Furlan, facilita as negociações.
Outro fator é a pauta bastante diversificada de produtos do Brasil -o item mais relevante da pauta (material de transportes) responde por só 15% do total das vendas. O país tem condições de atender a diversos mercados, ao contrário de países dependentes de um produto, como Chile (cobre), Venezuela (petróleo) e Rússia (gás).
Apesar da mudança, as vendas aos países desenvolvidos também cresceram -US$ 7,4 bilhões de 2005 para 2006. Aos em desenvolvimento, cresceram mais: US$ 11,4 bilhões.
Esses dados mostram também, diz Furlan, que o Brasil não discrimina mercados. "Não há ideologia nisso, e não podemos desprezar nenhum mercado. Vendedor não escolhe cliente." Ele também atribui ao governo contribuição pelos resultados. Em primeiro lugar, ao grande número de viagens internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ajudaram a abrir mercados.
Mais importante do que isso, no entanto, para Furlan, foi a mudança cultural de não haver mais dificuldade para o governo fazer lobby para empresas sediadas no Brasil, de capital nacional ou estrangeiro: "No passado, esse lobby era considerado pecaminoso".


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