|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil critica protecionismo "rico" na OMC
Organismo promove reunião para discutir crescente onda de medidas que distorcem comércio mundial
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil inicia hoje uma
ofensiva para liderar na OMC
(Organização Mundial do Comércio) a reação dos países
emergentes contra a crescente
onda protecionista que se alastra pelos EUA e pela União Europeia, sob o pretexto de se defender da crise internacional.
O embaixador brasileiro na
OMC, Roberto Azevedo, alega
que há "um sentimento geral
de alerta contra o protecionismo" e antecipou que fará um
discurso contundente na reunião da organização hoje, em
Genebra, contra medidas tomadas pelos países ricos.
Ele vai conclamar a retomada da Rodada Doha de liberalização comercial, como antídoto às tentativas protecionistas.
Seria, segundo ele, uma solução
global para evitar aventuras nacionais que possam prejudicar
o conjunto de países.
"A reunião será um esforço
para mostrar que o pacote [da
Rodada Doha] que está na mesa
não é ruim. Ao contrário, é muito bom, especialmente à luz da
crise que estamos todos vivendo", disse, por telefone.
O impasse mais recente na
Rodada Doha ocorreu no ano
passado, coincidindo com o início da crise. Naquele momento,
duas negociações consideradas
cruciais, em agricultura e bens
industriais, estavam praticamente concluídas, mas o acordo caiu na última hora.
Se ambas tivessem sido fechadas, os EUA, por exemplo,
estariam atrelados a um teto de
subsídios de US$ 14,5 bilhões.
Sem elas, e com a crise, a expectativa é que o país ultrapasse os
US$ 20 bilhões, com prejuízos
em cadeia para todos os exportadores, caso do Brasil.
Na última sexta-feira, o Itamaraty distribuiu nota ameaçando explicitamente tomar
medidas práticas contra os
EUA por decisões protecionistas incluídas no pacote de estímulo econômico em tramitação no Congresso.
No texto, diz que vê a iniciativa "com preocupação" e avalia
com o setor privado "os possíveis impactos da medida sobre
as exportações brasileiras para
os EUA, bem como, se for o caso, as ações necessárias para
enfrentá-las".
Será esse o tom do embaixador na reunião da OMC, advertindo que o protecionismo não
se limita ao aumento de tarifas
de importação, como querem
fazer crer os países ricos: "Protecionismo não é só subir tarifa, é qualquer medida de governo que proteja ou estimule artificialmente um setor nacional.
Subsídio é tão protecionista
quanto tarifa, e os países ricos
têm a tendência de fazer "pacotes de resgate" com esse efeito
negativo", disse.
Segundo ele, antecipando
parte do discurso que deve fazer hoje, "protecionismo é contagioso, se alastra com grande
velocidade e é muito difícil de
reverter". Explicou que medidas protecionistas acabam sendo expandidas tanto internamente, porque os demais setores pressionam por isonomia,
como internacionalmente,
porque criam uma reação em
cadeia: os demais países tendem a fazer o mesmo.
A reunião de hoje será presidida pelo diretor-geral da
OMC, Pascal Lamy, que lerá
um texto de oito páginas sobre
a crise e medidas que países
vêm tomando em todas as áreas
para tentar minorar os seus
efeitos. Seu tom também será
fortemente antiprotecionista.
Texto Anterior: CVM apura controlador de fato da Telecom Italia Próximo Texto: Obama adia anúncio de resgate a bancos Índice
|