São Paulo, Terça-feira, 09 de Fevereiro de 1999
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MEMÓRIA
Leon Feffer morreu domingo; sua empresa foi pioneira na produção de celulose de eucalipto; filho assume cargo
Fundador da Cia. Suzano morre aos 96

Fabiano Acconi - 07.ago.95/Folha Imagem
Leon Feffer, presidente da Cia. Suzano de Papel e Celulose, que morreu domingo em São Paulo


da Reportagem Local

Leon Feffer, diretor-presidente da Cia. Suzano de Papel e Celulose, morreu domingo à noite, em São Paulo, vítima de insuficiência renal. Ele tinha 96 anos. Max Feffer, seu filho, assumirá o cargo na empresa.
Nascido em 27 de novembro de 1902, em Rovno, na Rússia, Leon Feffer chegou ao Brasil em 1920, após 31 dias de viagem, junto com a mãe, um irmão e duas irmãs. Seu pai já estava no Brasil desde 1910.
Três anos após chegar ao país, Feffer fundou, em 15 de junho de 1923, a empresa Leon Feffer, voltada ao comércio de papéis. Morava na rua Bresser, no Brás (centro de São Paulo), e usava o porão da casa para armazenar papéis. Para visitar os clientes, usava o bonde.
Como a casa era pequena para guardar o estoque de papel, decidiu alugar uma loja na rua Rangel Pestana, no mesmo bairro, para vender sua mercadoria no atacado e no varejo.
Sua capacidade de visão levou-o, em 1941, de distribuidor a fabricante de papéis. Para isso, inaugurou sua primeira fábrica no bairro do Ipiranga (zona sul).
Mas a escassez de celulose de pinus importada -matéria-prima usada na fabricação de papel- trouxe o primeiro grande obstáculo à empresa.
Em 1951, seu filho Max, já ocupando o cargo de vice-presidente da empresa, resolveu pesquisar o eucalipto para substituir o produto importado. Em 1956, com o sucesso da pesquisa, a empresa inicia, de forma pioneira no país, a produção de papel com uso de 100% de fibra de eucalipto.
A nova tecnologia revolucionou o setor. Com isso, o Brasil passou de importador a exportador de celulose. Hoje, cinco décadas depois, o Brasil é o único país do mundo a fabricar papel com 100% de fibra de eucalipto.
Hoje, o grupo Suzano atua em diversas áreas além do setor de papel e celulose, como petroquímica e telecomunicações. Além da Suzano, fazem parte do grupo a Bahia Sul Celulose, Igáras Papéis e Embalagem, Politeno, Polibrasil, Petroflex e Copene.

Outras atividades
Apesar de suas atividades no comando da empresa, Leon Feffer dedicava tempo a outras atividades. Em 1940, foi presidente do Colégio Renascença, uma escola da comunidade judaica. Em 1956 já exercia o cargo de cônsul de Israel em São Paulo.
Ele costumava dizer que "não se vive só de pão e não se vive só daquilo que se faz para si; deve-se fazer alguma coisa para os outros".
Procurado por jovens da comunidade que pediam ajuda para iniciar um clube como "A Hebraica" da Argentina, Feffer comprou a idéia e fundou o maior clube judaico do mundo. Em 1959, iniciou a construção do hospital Albert Einstein, no bairro do Morumbi (zona sul).
Ao final de 1990, em entrevista à Folha sobre como solucionar os problemas econômicos do país, Feffer usou uma frase em hebraico: "O que faz o tempo nenhuma inteligência fará". Segundo ele, a frase era perfeita para o país: "Vamos dar tempo para que o governo corrija alguns problemas e o país volte a entrar nos eixos". Se estivesse vivo hoje provavelmente diria a mesma coisa.
Em 1995, o empresário foi considerado pela revista "Forbes" como o quinto brasileiro mais rico, com patrimônio de US$ 1,6 bilhão.

Filho assume empresas
Leon Feffer já havia decidido que o filho Max assumiria a comando das empresas do grupo quando ele morresse -a transição já estava decidida desde os anos 70. Agora, Max passa o ocupar o carpo de diretor-presidente da Suzano (ele vinha exercendo o cargo de vice-presidente executivo).
A empresa tem capacidade instalada para produzir 555 mil toneladas por ano de papéis e 420 mil toneladas de celulose ECF (livre de cloro elementar). São três fábricas: duas em Suzano (Grande São Paulo) e uma no Ipiranga. É considerada a segunda maior fabricante integrada da América Latina.
Max foi secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia de São Paulo entre 1976 e 1979. É presidente da Associação Novo Teatro de São Paulo desde sua fundação,
no ano passado, um projeto pioneiro de construção de um grande teatro de ópera, comparado aos melhores do mundo. É casado e tem quatro filhos.


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