|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Gradualismo é coerente com regime de metas
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Copom decidiu manter o
processo de redução gradual
dos juros, como vem fazendo desde que começou o processo de
aperto monetário: em doses homeopáticas, pelo menos se comparadas com as de outros ciclos
de aperto e afrouxamento monetário.
A economia já dá sinais de que
se recupera do tombo provocado
em boa parte pela alta de juros
promovida pelo BC a partir de setembro de 2004.
Na segunda-feira, pesquisa da
Fiesp mostrou que a indústria
paulista cresce há três meses consecutivos e, pela primeira vez em
um ano, reverte a tendência de
queda da taxa de crescimento em
doze meses.
Não é exatamente um "espetáculo de crescimento" do setor industrial. Mas a taxa parece ter encontrado um piso e começou a
subir, o que sugere que a partir de
agora a indústria tomará mais fôlego. É justamente por conta desses sinais que o BC deve continuar
com seu gradualismo, inaugurado em setembro do ano retrasado
e não abandonado desde então.
Por um lado, diz quem defende
a política monetária feita pelo
Brasil, em regime de metas inflacionárias movimentos bruscos
dos juros podem comprometer a
credibilidade do Banco Central.
Se a economia reagir muito fortemente, os preços tendem a subir
e o Copom será obrigado a subir
novamente os juros. Movimentos
mais lentos dão tempo ao BC para
avaliar melhor a resposta ao estímulo da queda dos juros, evitando mudanças de direção indesejáveis e que acabam causando frustração.
Mas há outro problema que começa a fazer parte da lista de pequenas dores de cabeça de quem
decide o futuro dos juros no Brasil. O cenário externo não será tão
cor-de-rosa como no ano passado. O apetite por risco não será o
mesmo. Está em curso, no mercado internacional, um grande movimento de realocação de carteiras e o dinheiro começa a fluir para destinos distintos daqueles para onde foram em 2005.
O ano passado foi relativamente
positivo para os países emergentes. 2006 pode não ser negativo,
mas parece que caminha mais para a neutralidade. Mário Mesquita, economista chefe do ABN Amro lembra que, pela primeira vez
em muitos anos, há convergência
entre as medidas de política monetária do G3, ou seja, do Japão,
da Europa e dos EUA.
Os juros estão em alta nas três
grandes praças mundiais. Por
conta disso, o clima para investimento e o fluxo de capitais devem
mudar. Mesquita dá um exemplo:
investidores levantavam recursos
no mercado japonês para aplicá-los no mundo emergente, operação que pode deixar de fazer sentido com a alta dos juros no Japão.
O Brasil está, portanto, reduzindo os juros em momento em que
o mundo presencia alta nas taxas
de juros. Não é exatamente um
problema, lembra Mesquita, mas
"um fator de cautela", que pode
fazer o BC continuar cauteloso,
mantendo o gradualismo.
Os juros no Brasil ainda são extremamente altos se comparados
com os dos demais países. Assim,
o diferencial de juros entre ativos
brasileiros e os dos demais países
deve continuar grande. Mas os juros em alta lá fora e em baixa aqui,
ele cairá mais rápido.
O dólar, lembra Mesquita, deve
parar de despencar. É difícil prever uma reviravolta muito dramática do câmbio, mas ele não
deverá mais contribuir para controlar os preços, por meio do barateamento dos importados.
A economia brasileira voltou a
crescer e o cenário externo começa a dar sinais de que não será tão
positivo. O aquecimento econômico faz o BC avaliar o quanto as
reduções de juros já feitas ainda
estimularão a economia. O cenário externo deve induzir a um
pouco mais de cautela. Cautela
que, para o Copom, acaba se traduzindo em redução ainda gradual da taxa de juros.
Texto Anterior: Receita ortodoxa: Sem consenso, BC corta juro em 0,75 ponto Próximo Texto: Redução da taxa Selic alivia pouco os juros cobrados do consumidor Índice
|