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São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

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LUÍS NASSIF

O pai do programa nuclear

O maior programa tecnológico brasileiro, em abrangência e continuidade, começou em junho de 1978 e terminou no governo Fernando Collor, por mero preconceito e desinformação. Durante esse período, mobilizou 5.000 cientistas e técnicos, envolveu 18 universidades, possibilitou ao país domínio da técnica do laser, do enriquecimento de urânio e da propulsão nuclear.
Diretor do programa nuclear paralelo brasileiro, o cientista Rex Nazareth largou tudo em 1990, prestou concurso para o Instituto Militar de Engenharia, no Rio, onde, perto dos 70 anos, mantém o entusiasmo de um jovem e a visão de um sábio em relação ao planejamento estratégico do país e, nele, do papel da ciência e da tecnologia.
O programa nuclear paralelo surgiu quando o Acordo Nuclear com a Alemanha naufragou com a explosão dos preços do petróleo, arrebentando com a balança comercial do país.
Em 1978, o então presidente, Ernesto Geisel, mandou constituir um grupo de trabalho, no âmbito do Conselho de Segurança Nacional, incumbido de encontrar uma alternativa. Constituíam o grupo a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), o INB (futura Nuclebrás) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Rex era diretor-executivo da CNEN e foi convidado a ser o coordenador do programa atômico.
A Marinha tinha larga experiência gerencial adquirida na construção das suas fragatas. A Aeronáutica já dominava o laser. O Instituto Militar de Engenharia, do Exército, tinha excelência na área química e fora o embrião do primeiro curso de Engenharia Nuclear. Do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas) de São Paulo, veio a colaboração essencial da equipe do físico Marcelo Damy.
O grupo trabalhou sete dias por semana, durante 12 anos, de 1979 a 1990. Todos os objetivos eram muito amarrados entre os diversos grupos, com todos voltados para o domínio efetivo do ciclo e do uso pacífico da energia nuclear.
O país ganhou muito com isso. A Marinha conquistou o domínio na propulsão nuclear e, com um pouco mais de verba, terminará o primeiro submarino nuclear brasileiro. A Aeronáutica aprimorou mais ainda seu domínio sobre a tecnologia do laser. O Exército conseguiu desenvolver ainda mais sua capacitação em química.
O setor privado deu contribuição imprescindível. Quando foi necessário produzir ácido fluorídrico com alto grau de pureza, foi o empresário Antônio Ermírio de Moraes quem ordenou que uma de suas empresas o fizesse.
Quando Collor assumiu, o programa foi descontinuado. Restou o conhecimento acumulado, mas disperso. Hoje Rex leciona no IME, uma instituição exemplar na formação de tecnólogos, trabalhando com tecnologia de segurança. Não raras vezes tira dinheiro do bolso para que um aluno possa completar suas pesquisas. Os órgãos incumbidos de combater o crime organizado fariam bem se visitassem o IME e aproveitassem muitos dos produtos desenvolvidos por lá.
Espírito essencialmente prático, Rex Nazareth é daqueles cariocas de antigamente, dotado da visão estratégica que dificilmente se encontrava no Brasil de antigamente e, muito menos, nos tempos atuais.
Seu nome voltou a ser cotado para a presidência da CNEN.
É um grande brasileiro.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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