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LUÍS NASSIF
O pai do programa nuclear
O maior programa tecnológico brasileiro, em abrangência e continuidade, começou
em junho de 1978 e terminou no
governo Fernando Collor, por
mero preconceito e desinformação. Durante esse período, mobilizou 5.000 cientistas e técnicos,
envolveu 18 universidades, possibilitou ao país domínio da técnica do laser, do enriquecimento de
urânio e da propulsão nuclear.
Diretor do programa nuclear
paralelo brasileiro, o cientista
Rex Nazareth largou tudo em
1990, prestou concurso para o
Instituto Militar de Engenharia,
no Rio, onde, perto dos 70 anos,
mantém o entusiasmo de um jovem e a visão de um sábio em relação ao planejamento estratégico do país e, nele, do papel da
ciência e da tecnologia.
O programa nuclear paralelo
surgiu quando o Acordo Nuclear
com a Alemanha naufragou com
a explosão dos preços do petróleo, arrebentando com a balança
comercial do país.
Em 1978, o então presidente,
Ernesto Geisel, mandou constituir um grupo de trabalho, no
âmbito do Conselho de Segurança Nacional, incumbido de encontrar uma alternativa. Constituíam o grupo a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), o INB (futura Nuclebrás) e
o CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico). Rex era diretor-executivo da CNEN e foi convidado a ser o coordenador do programa atômico.
A Marinha tinha larga experiência gerencial adquirida na
construção das suas fragatas. A
Aeronáutica já dominava o laser. O Instituto Militar de Engenharia, do Exército, tinha excelência na área química e fora o
embrião do primeiro curso de
Engenharia Nuclear. Do Ipen
(Instituto de Pesquisas Energéticas) de São Paulo, veio a colaboração essencial da equipe do físico Marcelo Damy.
O grupo trabalhou sete dias por
semana, durante 12 anos, de 1979
a 1990. Todos os objetivos eram
muito amarrados entre os diversos grupos, com todos voltados
para o domínio efetivo do ciclo e
do uso pacífico da energia nuclear.
O país ganhou muito com isso.
A Marinha conquistou o domínio na propulsão nuclear e, com
um pouco mais de verba, terminará o primeiro submarino nuclear brasileiro. A Aeronáutica
aprimorou mais ainda seu domínio sobre a tecnologia do laser. O
Exército conseguiu desenvolver
ainda mais sua capacitação em
química.
O setor privado deu contribuição imprescindível. Quando foi
necessário produzir ácido fluorídrico com alto grau de pureza, foi
o empresário Antônio Ermírio de
Moraes quem ordenou que uma
de suas empresas o fizesse.
Quando Collor assumiu, o programa foi descontinuado. Restou
o conhecimento acumulado, mas
disperso. Hoje Rex leciona no
IME, uma instituição exemplar
na formação de tecnólogos, trabalhando com tecnologia de segurança. Não raras vezes tira dinheiro do bolso para que um aluno possa completar suas pesquisas. Os órgãos incumbidos de
combater o crime organizado fariam bem se visitassem o IME e
aproveitassem muitos dos produtos desenvolvidos por lá.
Espírito essencialmente prático, Rex Nazareth é daqueles cariocas de antigamente, dotado
da visão estratégica que dificilmente se encontrava no Brasil de
antigamente e, muito menos, nos
tempos atuais.
Seu nome voltou a ser cotado
para a presidência da CNEN.
É um grande brasileiro.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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