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CONJUNTURA
Apesar do considerável progresso, documento do Fundo chama a atenção para as fraquezas da economia do país
Brasil ainda está vulnerável, alerta o FMI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O FMI (Fundo Monetário Internacional) ainda vê sinais de vulnerabilidade na economia brasileira. Enquanto o mercado financeiro vive um clima de euforia
com as recentes quedas do dólar e
do risco-país, o FMI aponta a elevada dívida pública e o baixo crescimento econômico como motivos de preocupação.
A avaliação consta de documento aprovado pela diretoria do
FMI há duas semanas. No trabalho, os diretores do Fundo consideram que o novo governo fez
"considerável progresso" tanto na
economia como na área social, ao
mesmo tempo em que manteve
"disciplinadas políticas fiscal e
monetária".
Ainda assim, o FMI alerta para
as fraquezas da economia brasileira. "Os acontecimentos de 2002
demonstraram que o Brasil continua vulnerável a mudanças no
humor dos investidores. Fontes
dessa vulnerabilidade incluem o
tamanho e o perfil da dívida pública, as necessidades de financiamento externo e o lento crescimento econômico", diz o documento.
No ano passado, segundo o
FMI, "o Brasil enfrentou uma
queda repentina no fluxo de capital externo, devido a preocupações relativas ao curso da política
econômica no futuro e à sustentabilidade da dívida".
Em outras palavras: alegando
preocupações com o rumo que a
economia brasileira tomaria após
as eleições presidenciais, investidores deixaram de aplicar seus
dólares no país. Isso provocou
forte desvalorização do real, que
levou, entre outras coisas, à disparada da inflação. Mais inflação levou a maiores juros, que frearam
a economia. O país cresceu 1,5%
em 2002.
Nos últimos dias, esse movimento retrocedeu, e o Brasil, que
antes sofria com o mau humor
dos investidores, agora se beneficia de seu otimismo. O dólar, que
era cotado a mais de R$ 3,50, caiu
para menos de R$ 3,20. O risco-país, que mede a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil,
recuou aos níveis observados antes das eleições.
De acordo com o documento, o
recente otimismo dos mercados
reflete a confiança no "compromisso do governo em manter a
disciplina fiscal e dar continuidade às reformas estruturais".
Apesar dos elogios, o FMI dá a
entender que o Brasil não se deve
deixar levar pelo humor dos mercados, seja ele bom ou mau. Em
vez disso, a atenção deveria ser dirigida a problemas estruturais: o
endividamento do governo, a dependência de capital externo e a
estagnação da economia.
Em relação à dívida do governo,
uma das preocupações diz respeito ao seu tamanho. Hoje, o endividamento do setor público (União,
Estados, municípios e estatais) representa aproximadamente 56%
do PIB (Produto Interno Bruto).
Quanto maior a dívida, maiores
as dúvidas em relação à capacidade de o governo continuar
honrando seus compromissos.
Além do tamanho, o FMI mostra preocupação com o perfil do
endividamento. A maior parte da
dívida pública é corrigida pela variação do câmbio e pela taxa Selic,
que hoje está em 26,5% ao ano.
Com isso, toda instabilidade que
atinja o mercado financeiro acaba
levando a um crescimento dessa
dívida.
A dependência externa se nota
no total de dólares que o país precisa captar todo ano, por meio de
empréstimos e investimentos, para fechar suas contas. Em 2002,
eram necessários US$ 38 bilhões,
dos quais só foram obtidos US$
27 bilhões. O restante veio de empréstimos concedidos pelo FMI.
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