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São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

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CONJUNTURA

Apesar do considerável progresso, documento do Fundo chama a atenção para as fraquezas da economia do país

Brasil ainda está vulnerável, alerta o FMI

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O FMI (Fundo Monetário Internacional) ainda vê sinais de vulnerabilidade na economia brasileira. Enquanto o mercado financeiro vive um clima de euforia com as recentes quedas do dólar e do risco-país, o FMI aponta a elevada dívida pública e o baixo crescimento econômico como motivos de preocupação.
A avaliação consta de documento aprovado pela diretoria do FMI há duas semanas. No trabalho, os diretores do Fundo consideram que o novo governo fez "considerável progresso" tanto na economia como na área social, ao mesmo tempo em que manteve "disciplinadas políticas fiscal e monetária".
Ainda assim, o FMI alerta para as fraquezas da economia brasileira. "Os acontecimentos de 2002 demonstraram que o Brasil continua vulnerável a mudanças no humor dos investidores. Fontes dessa vulnerabilidade incluem o tamanho e o perfil da dívida pública, as necessidades de financiamento externo e o lento crescimento econômico", diz o documento.
No ano passado, segundo o FMI, "o Brasil enfrentou uma queda repentina no fluxo de capital externo, devido a preocupações relativas ao curso da política econômica no futuro e à sustentabilidade da dívida".
Em outras palavras: alegando preocupações com o rumo que a economia brasileira tomaria após as eleições presidenciais, investidores deixaram de aplicar seus dólares no país. Isso provocou forte desvalorização do real, que levou, entre outras coisas, à disparada da inflação. Mais inflação levou a maiores juros, que frearam a economia. O país cresceu 1,5% em 2002.
Nos últimos dias, esse movimento retrocedeu, e o Brasil, que antes sofria com o mau humor dos investidores, agora se beneficia de seu otimismo. O dólar, que era cotado a mais de R$ 3,50, caiu para menos de R$ 3,20. O risco-país, que mede a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil, recuou aos níveis observados antes das eleições.
De acordo com o documento, o recente otimismo dos mercados reflete a confiança no "compromisso do governo em manter a disciplina fiscal e dar continuidade às reformas estruturais".
Apesar dos elogios, o FMI dá a entender que o Brasil não se deve deixar levar pelo humor dos mercados, seja ele bom ou mau. Em vez disso, a atenção deveria ser dirigida a problemas estruturais: o endividamento do governo, a dependência de capital externo e a estagnação da economia.
Em relação à dívida do governo, uma das preocupações diz respeito ao seu tamanho. Hoje, o endividamento do setor público (União, Estados, municípios e estatais) representa aproximadamente 56% do PIB (Produto Interno Bruto). Quanto maior a dívida, maiores as dúvidas em relação à capacidade de o governo continuar honrando seus compromissos.
Além do tamanho, o FMI mostra preocupação com o perfil do endividamento. A maior parte da dívida pública é corrigida pela variação do câmbio e pela taxa Selic, que hoje está em 26,5% ao ano. Com isso, toda instabilidade que atinja o mercado financeiro acaba levando a um crescimento dessa dívida.
A dependência externa se nota no total de dólares que o país precisa captar todo ano, por meio de empréstimos e investimentos, para fechar suas contas. Em 2002, eram necessários US$ 38 bilhões, dos quais só foram obtidos US$ 27 bilhões. O restante veio de empréstimos concedidos pelo FMI.


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