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CRISE NO AR
Varig perde participação em seu principal mercado, mas TAM e Gol não ocupam espaço deixado pela aérea nacional
Estrangeiras já dominam rotas externas
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com menos aviões e debilitada
financeiramente, a Varig vem
perdendo participação de mercado em destinos importantes nos
vôos internacionais, frente que a
aérea, hoje em recuperação judicial, pretende priorizar daqui em
diante. Ganham com isso principalmente as companhias estrangeiras, que atualmente possuem
uma fatia do mercado internacional maior do que as brasileiras.
Apesar do crescimento da TAM
e da Gol nos vôos para o exterior,
que permitiu a reação das companhias nacionais nos últimos anos,
a expansão não foi suficiente para
compensar a queda sofrida pela
Varig: em 2001, todas as brasileiras somadas tinham 51,5% do
mercado internacional. No primeiro semestre do ano passado,
elas possuíam 44,8%, deixando a
maior parte do mercado, 55,2%,
para as estrangeiras.
"É um risco. O mercado brasileiro significa muito pouco do total voado pelas aéreas estrangeiras. Se elas mudarem de idéia em
relação a voar determinados trechos, ficamos vulneráveis", afirma o analista especializado no setor Carlos Albano, do Unibanco.
Além da queda de participação,
conseqüência da frota menor, a
insatisfação dos passageiros afeta
a imagem da Varig nos vôos para
o exterior. Cancelamentos e atrasos de vôos, aviões antigos, poltronas com problemas e falta de
produtos mesmo na classe executiva (leia texto nesta página) vêm
minando a fama de excelência
que a Varig conquistou nos vôos
para fora do país -no início dos
anos 1990, a empresa chegou a
transportar 50% dos passageiros
do mercado internacional (incluindo as aéreas estrangeiras).
No início do ano passado, o percentual de passageiros transportados pela aérea estava por volta
de 30% do mercado internacional, recuo que ocorreu com a perda de "market share" da Varig em
alguns destinos nobres. Em 2001,
por exemplo, a companhia aérea
tinha 34% do mercado nos vôos
para a França. O percentual caiu
para 20% nos primeiros seis meses do ano passado.
A participação foi abocanhada
principalmente pela Air France e
pela TAM. Há cinco anos, a companhia francesa tinha 47,8% de
mercado, e passou para 55,7% no
ano passado. A TAM, no mesmo
período, cresceu de 18,03% para
24,3%, ultrapassando a Varig.
É o mesmo movimento observado nos vôos para os EUA: no
primeiro semestre de 2001, a Varig possuía 23% de participação
nesse destino, quase encostando
na American Airlines, que, na
época, tinha 24,5% de participação. O percentual da brasileira recuou para 15%, enquanto o "market share" da American aumentou para 32,9%. A TAM, a Delta e
a Continental também ganharam.
Outros exemplos de destinos
para os quais a Varig vem perdendo "market share" de 2001 para cá
são Argentina, Chile e Espanha.
"Se você não se mexe, perde
mercado. Foi o que aconteceu
com a Varig. O mercado cresceu,
mas ela não investiu para acompanhar esse crescimento", observa Albano.
Quando se olha apenas a participação das aéreas nacionais nos
vôos internacionais, ela também
vem perdendo mercado -nesse
caso, o DAC informa dados mais
recentes: o "market share" da Varig caiu de 79% em março do ano
passado para 69,9% no mesmo
mês deste ano.
No mercado doméstico, a Varig
já foi ultrapassada pela TAM e pela Gol em "market share": atualmente, ela tem menos de 20% de
participação nos vôos nacionais.
Em outros destinos, nos quais a
Varig tem parceria com companhias estrangeiras, como Alemanha e Itália, a participação da
companhia brasileira aumentou.
Mas, na média, ela vem transportando menos passageiros em
relação ao total do mercado. No
primeiro semestre de 2001, a aérea tinha uma fatia de 37,5% de
passageiros transportados em todos os vôos internacionais, incluindo nacionais e estrangeiras.
O percentual veio caindo ano a
ano e chegou a 31,6% nos primeiros seis meses de 2005, segundo
os últimos dados do DAC.
Risco
É exatamente nos vôos internacionais que estaria o problema em
uma eventual paralisação das atividades da Varig -possibilidade
que chegou a ser aventada pela
própria aérea na semana passada.
No mercado interno, TAM e
Gol têm condições de absorver
sua demanda e passariam a voar,
segundo cálculos de analistas especializados no setor, com 84%
de seus assentos ocupados (atualmente a média de ambas é 69%).
No caso das freqüências para o
exterior, entretanto, haveria a necessidade de investimentos, como
treinamento de pilotos, aviões e
abertura de bases em outros países, com custos em dólar. Tudo isso demanda tempo e disposição
de assumir riscos. Por isso, a avaliação é que seriam mesmo as aéreas estrangeiras, a princípio, que
absorveriam o choque de uma
eventual paralisação da Varig.
Dólar atrativo
Com a demanda por vôos internacionais crescendo no Brasil e
passagens mais acessíveis devido
ao dólar desvalorizado, as companhias aéreas estrangeiras e as nacionais vêm investindo para aumentar suas freqüências ligando
o Brasil ao exterior.
A Air France, por exemplo, terá
dois novos vôos semanais a partir
de novembro ligando São Paulo a
Paris. "O fato de a Varig perder
participação nos permite ganhar
mercado, mas não é essa a razão
pela qual investimos aqui. O mercado brasileiro está crescendo e
tem uma posição-chave na América Latina", afirma a diretora-geral do grupo Air France-KLM no
Brasil, Isabelle Birem.
A portuguesa TAP, que tinha 18
freqüências semanais em 2002,
vai passar para 47 a partir do segundo semestre se conseguir a
aprovação integral que pediu.
As nacionais também vêm pedindo autorizações: o Ministério
do Turismo quer elevar para 900
as freqüências semanais de vôos
internacionais -hoje, são 710.
Recentemente, a Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil) autorizou 7 freqüências da TAM para
Londres, 21 para TAM e Gol
-por aérea- para a Argentina e
3 para a Varig voar à Colômbia.
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