São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

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CRISE NO AR

Varig perde participação em seu principal mercado, mas TAM e Gol não ocupam espaço deixado pela aérea nacional

Estrangeiras já dominam rotas externas

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com menos aviões e debilitada financeiramente, a Varig vem perdendo participação de mercado em destinos importantes nos vôos internacionais, frente que a aérea, hoje em recuperação judicial, pretende priorizar daqui em diante. Ganham com isso principalmente as companhias estrangeiras, que atualmente possuem uma fatia do mercado internacional maior do que as brasileiras.
Apesar do crescimento da TAM e da Gol nos vôos para o exterior, que permitiu a reação das companhias nacionais nos últimos anos, a expansão não foi suficiente para compensar a queda sofrida pela Varig: em 2001, todas as brasileiras somadas tinham 51,5% do mercado internacional. No primeiro semestre do ano passado, elas possuíam 44,8%, deixando a maior parte do mercado, 55,2%, para as estrangeiras.
"É um risco. O mercado brasileiro significa muito pouco do total voado pelas aéreas estrangeiras. Se elas mudarem de idéia em relação a voar determinados trechos, ficamos vulneráveis", afirma o analista especializado no setor Carlos Albano, do Unibanco.
Além da queda de participação, conseqüência da frota menor, a insatisfação dos passageiros afeta a imagem da Varig nos vôos para o exterior. Cancelamentos e atrasos de vôos, aviões antigos, poltronas com problemas e falta de produtos mesmo na classe executiva (leia texto nesta página) vêm minando a fama de excelência que a Varig conquistou nos vôos para fora do país -no início dos anos 1990, a empresa chegou a transportar 50% dos passageiros do mercado internacional (incluindo as aéreas estrangeiras).
No início do ano passado, o percentual de passageiros transportados pela aérea estava por volta de 30% do mercado internacional, recuo que ocorreu com a perda de "market share" da Varig em alguns destinos nobres. Em 2001, por exemplo, a companhia aérea tinha 34% do mercado nos vôos para a França. O percentual caiu para 20% nos primeiros seis meses do ano passado.
A participação foi abocanhada principalmente pela Air France e pela TAM. Há cinco anos, a companhia francesa tinha 47,8% de mercado, e passou para 55,7% no ano passado. A TAM, no mesmo período, cresceu de 18,03% para 24,3%, ultrapassando a Varig.
É o mesmo movimento observado nos vôos para os EUA: no primeiro semestre de 2001, a Varig possuía 23% de participação nesse destino, quase encostando na American Airlines, que, na época, tinha 24,5% de participação. O percentual da brasileira recuou para 15%, enquanto o "market share" da American aumentou para 32,9%. A TAM, a Delta e a Continental também ganharam.
Outros exemplos de destinos para os quais a Varig vem perdendo "market share" de 2001 para cá são Argentina, Chile e Espanha.
"Se você não se mexe, perde mercado. Foi o que aconteceu com a Varig. O mercado cresceu, mas ela não investiu para acompanhar esse crescimento", observa Albano.
Quando se olha apenas a participação das aéreas nacionais nos vôos internacionais, ela também vem perdendo mercado -nesse caso, o DAC informa dados mais recentes: o "market share" da Varig caiu de 79% em março do ano passado para 69,9% no mesmo mês deste ano.
No mercado doméstico, a Varig já foi ultrapassada pela TAM e pela Gol em "market share": atualmente, ela tem menos de 20% de participação nos vôos nacionais.
Em outros destinos, nos quais a Varig tem parceria com companhias estrangeiras, como Alemanha e Itália, a participação da companhia brasileira aumentou.
Mas, na média, ela vem transportando menos passageiros em relação ao total do mercado. No primeiro semestre de 2001, a aérea tinha uma fatia de 37,5% de passageiros transportados em todos os vôos internacionais, incluindo nacionais e estrangeiras. O percentual veio caindo ano a ano e chegou a 31,6% nos primeiros seis meses de 2005, segundo os últimos dados do DAC.

Risco
É exatamente nos vôos internacionais que estaria o problema em uma eventual paralisação das atividades da Varig -possibilidade que chegou a ser aventada pela própria aérea na semana passada.
No mercado interno, TAM e Gol têm condições de absorver sua demanda e passariam a voar, segundo cálculos de analistas especializados no setor, com 84% de seus assentos ocupados (atualmente a média de ambas é 69%).
No caso das freqüências para o exterior, entretanto, haveria a necessidade de investimentos, como treinamento de pilotos, aviões e abertura de bases em outros países, com custos em dólar. Tudo isso demanda tempo e disposição de assumir riscos. Por isso, a avaliação é que seriam mesmo as aéreas estrangeiras, a princípio, que absorveriam o choque de uma eventual paralisação da Varig.

Dólar atrativo
Com a demanda por vôos internacionais crescendo no Brasil e passagens mais acessíveis devido ao dólar desvalorizado, as companhias aéreas estrangeiras e as nacionais vêm investindo para aumentar suas freqüências ligando o Brasil ao exterior.
A Air France, por exemplo, terá dois novos vôos semanais a partir de novembro ligando São Paulo a Paris. "O fato de a Varig perder participação nos permite ganhar mercado, mas não é essa a razão pela qual investimos aqui. O mercado brasileiro está crescendo e tem uma posição-chave na América Latina", afirma a diretora-geral do grupo Air France-KLM no Brasil, Isabelle Birem.
A portuguesa TAP, que tinha 18 freqüências semanais em 2002, vai passar para 47 a partir do segundo semestre se conseguir a aprovação integral que pediu.
As nacionais também vêm pedindo autorizações: o Ministério do Turismo quer elevar para 900 as freqüências semanais de vôos internacionais -hoje, são 710. Recentemente, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) autorizou 7 freqüências da TAM para Londres, 21 para TAM e Gol -por aérea- para a Argentina e 3 para a Varig voar à Colômbia.



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