São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

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COMÉRCIO EXTERIOR

Exportadores aproveitam valorização da moeda em março para antecipar fechamento de contratos

Dólar gera corrida a crédito de exportação

NEY HAYASHI DA CRUZ
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A combinação da queda do ex-ministro Antonio Palocci Filho e o aumento da taxa de juros de longo prazo nos EUA provocaram apenas uma pequena alta no dólar em março, mas que foi suficiente para levar a um forte aumento na procura por linhas de financiamento à exportação.
No mês passado, o Banco do Brasil -que possui cerca de 35% desse mercado- liberou o valor recorde de US$ 1,21 bilhão em ACC (Adiantamento de Contratos de Câmbio) e ACE (Adiantamento por Cambiais Entregues), principais modalidades de crédito para exportação.
Segundo o BB, a maior procura dos exportadores por crédito ocorreu porque muitos exportadores quiseram aproveitar o dólar momentaneamente em alta de março, quando a cotação chegou a passar de R$ 2,20, na expectativa de que, de abril em diante, o real voltasse a se valorizar.
"Houve uma pequena variação no câmbio, e as empresas aproveitaram para antecipar [o fechamento de seus contratos]", diz o diretor de Comércio Exterior do BB, Nilo Panazollo. Esses empréstimos são corrigidos pela variação do dólar, ou seja, são vantajosos em períodos em que a expectativa é de queda na cotação da moeda.
De acordo com analistas de mercado, em 2005 houve um represamento dessas operações de crédito por causa do baixo valor do dólar: os exportadores ficavam na expectativa de pico no valor da moeda americana para assinar os contratos. Com a acomodação do atual patamar da taxa de câmbio, desde o fim do ano passado, o volume de operações ficou estável.
Segundo a AEB (Associação dos Exportadores do Brasil), a combinação de liquidez de crédito no mercado, câmbio desvalorizado e taxa de juros alta estimula grandes exportadores a contratar essas operações para fazer arbitragem -empresas captam recursos a juros baixos por ACC/ACE e os aplicam em renda fixa no Brasil, para ganhar com juros altos.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, o pico das operações de ACC e de ACE em março não implica necessariamente uma maior procura de crédito por novos exportadores, já que essas operações geralmente são contratadas por exportadores tradicionais.
"Tudo o que as empresas precisam provar quando obtêm empréstimos é que embarcaram o produto. Para quem tem fluxo de exportação, é perfeitamente possível fazer o empréstimo para aplicar os recursos, o que é normal e legal, além de ajudar os exportadores a compensar perdas com a variação do câmbio."
O BB nega que tenha ocorrido um aumento nas operações de arbitragem, mas concorda com a idéia de que, com os elevados juros praticados no Brasil, créditos como o ACC e o ACE -em que a taxa pode chegar a menos de 10% ao ano, dependendo do perfil da empresa que recebe o empréstimo- se tornam mais vantajosos.
"Mesmo que os juros internacionais estejam em alta, o custo de uma linha externa é menor do que o de uma linha interna", afirma Panazollo.
Para Eduardo Cotrim, diretor de Tesouraria da Modal Asset Management, o reflexo da alta do dólar nas operações de ACC e ACE ocorre porque as exportações no Brasil são muito concentradas. Cerca de 40 grandes corporações são responsáveis por 43% dos embarques, segundo a Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior).
"Essas empresas se sofisticaram e possuem mesas de operação para acompanhar os movimentos do mercado, por isso podem aproveitar melhor as oportunidades de mercado", diz Cotrim.
Embora em proporção menor do que as indústrias que exportam manufaturados, os exportadores de produtos básicos também podem ter adiantado empréstimos para garantir o dólar alto antes de embarcar seus produtos, segundo Cotrim, já que a maior parte da safra agrícola brasileira se concentra entre os meses de maio e agosto.
Além de mais empréstimos, os exportadores aproveitaram a desvalorização do real em março para também comprar dólares no mercado à vista. No mês passado, essas aquisições chegaram a US$ 12,3 bilhões, total que superou até o valor das mercadorias embarcadas para o exterior no mesmo período, que foi de US$ 11,3 bilhões -o maior já registrado no país em um único mês.
Esse tipo de comportamento, segundo analistas de mercado, mostra que muitos exportadores aproveitaram o dólar alto de março para vender os dólares referentes à venda de produtos que ainda nem foram embarcados, numa tentativa das empresas de aproveitar a momentânea desvalorização do real para aumentar lucros.
Esse tipo de comportamento também pode ser entendido como um sinal de que a cotação do dólar não deve apresentar altas muito fortes no curto prazo, pois, sempre que isso acontecer, a ação dos exportadores no mercado de câmbio tenderá a conter a desvalorização do real.


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