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COMÉRCIO EXTERIOR
Exportadores aproveitam valorização da moeda em março para antecipar fechamento de contratos
Dólar gera corrida a crédito de exportação
NEY HAYASHI DA CRUZ
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A combinação da queda do ex-ministro Antonio Palocci Filho e
o aumento da taxa de juros de
longo prazo nos EUA provocaram apenas uma pequena alta no
dólar em março, mas que foi suficiente para levar a um forte aumento na procura por linhas de financiamento à exportação.
No mês passado, o Banco do
Brasil -que possui cerca de 35%
desse mercado- liberou o valor
recorde de US$ 1,21 bilhão em
ACC (Adiantamento de Contratos de Câmbio) e ACE (Adiantamento por Cambiais Entregues),
principais modalidades de crédito
para exportação.
Segundo o BB, a maior procura
dos exportadores por crédito
ocorreu porque muitos exportadores quiseram aproveitar o dólar
momentaneamente em alta de
março, quando a cotação chegou
a passar de R$ 2,20, na expectativa
de que, de abril em diante, o real
voltasse a se valorizar.
"Houve uma pequena variação
no câmbio, e as empresas aproveitaram para antecipar [o fechamento de seus contratos]", diz o
diretor de Comércio Exterior do
BB, Nilo Panazollo. Esses empréstimos são corrigidos pela variação
do dólar, ou seja, são vantajosos
em períodos em que a expectativa
é de queda na cotação da moeda.
De acordo com analistas de
mercado, em 2005 houve um represamento dessas operações de
crédito por causa do baixo valor
do dólar: os exportadores ficavam
na expectativa de pico no valor da
moeda americana para assinar os
contratos. Com a acomodação do
atual patamar da taxa de câmbio,
desde o fim do ano passado, o volume de operações ficou estável.
Segundo a AEB (Associação dos
Exportadores do Brasil), a combinação de liquidez de crédito no
mercado, câmbio desvalorizado e
taxa de juros alta estimula grandes exportadores a contratar essas
operações para fazer arbitragem
-empresas captam recursos a
juros baixos por ACC/ACE e os
aplicam em renda fixa no Brasil,
para ganhar com juros altos.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, o pico das
operações de ACC e de ACE em
março não implica necessariamente uma maior procura de crédito por novos exportadores, já
que essas operações geralmente
são contratadas por exportadores
tradicionais.
"Tudo o que as empresas precisam provar quando obtêm empréstimos é que embarcaram o
produto. Para quem tem fluxo de
exportação, é perfeitamente possível fazer o empréstimo para
aplicar os recursos, o que é normal e legal, além de ajudar os exportadores a compensar perdas
com a variação do câmbio."
O BB nega que tenha ocorrido
um aumento nas operações de arbitragem, mas concorda com a
idéia de que, com os elevados juros praticados no Brasil, créditos
como o ACC e o ACE -em que a
taxa pode chegar a menos de 10%
ao ano, dependendo do perfil da
empresa que recebe o empréstimo- se tornam mais vantajosos.
"Mesmo que os juros internacionais estejam em alta, o custo de
uma linha externa é menor do
que o de uma linha interna", afirma Panazollo.
Para Eduardo Cotrim, diretor
de Tesouraria da Modal Asset
Management, o reflexo da alta do
dólar nas operações de ACC e
ACE ocorre porque as exportações no Brasil são muito concentradas. Cerca de 40 grandes corporações são responsáveis por
43% dos embarques, segundo a
Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior).
"Essas empresas se sofisticaram
e possuem mesas de operação para acompanhar os movimentos
do mercado, por isso podem
aproveitar melhor as oportunidades de mercado", diz Cotrim.
Embora em proporção menor
do que as indústrias que exportam manufaturados, os exportadores de produtos básicos também podem ter adiantado empréstimos para garantir o dólar
alto antes de embarcar seus produtos, segundo Cotrim, já que a
maior parte da safra agrícola brasileira se concentra entre os meses
de maio e agosto.
Além de mais empréstimos, os
exportadores aproveitaram a desvalorização do real em março para também comprar dólares no
mercado à vista. No mês passado,
essas aquisições chegaram a US$
12,3 bilhões, total que superou até
o valor das mercadorias embarcadas para o exterior no mesmo período, que foi de US$ 11,3 bilhões
-o maior já registrado no país
em um único mês.
Esse tipo de comportamento,
segundo analistas de mercado,
mostra que muitos exportadores
aproveitaram o dólar alto de março para vender os dólares referentes à venda de produtos que ainda
nem foram embarcados, numa
tentativa das empresas de aproveitar a momentânea desvalorização do real para aumentar lucros.
Esse tipo de comportamento
também pode ser entendido como um sinal de que a cotação do
dólar não deve apresentar altas
muito fortes no curto prazo, pois,
sempre que isso acontecer, a ação
dos exportadores no mercado de
câmbio tenderá a conter a desvalorização do real.
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