|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ÁSIA
"Tigre" sai de recessão com crescimento de 3,1% no primeiro trimestre; consumo aumenta e inflação fica sob controle
Juros baixos fazem Coréia crescer após crise
OSCAR PILAGALLO
Editor de Dinheiro
A Coréia do Sul, país frequentemente comparado ao Brasil, conseguiu emergir da profunda recessão do ano passado puxada por
uma política de juros baixos e declinantes que não provocou o descontrole da inflação.
A retomada do crescimento é
mais forte do que se esperava. No
primeiro trimestre, a expansão foi
de 3,1% em relação ao mesmo período de 1998, informou ontem o
Banco Central da Coréia.
No ano passado, a economia do
país havia encolhido 5,8%. Essa recessão -a maior desde a Guerra
da Coréia, entre 1950 e 1953- foi
consequência da crise cambial do
final de 1997, quando o país esteve
à beira da insolvência, tendo sido
resgatado por um pacote de ajuda
internacional liderado pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional).
Papel dos juros
Com o resultado surpreendente
dos primeiros três meses (o mercado estimava crescimento de até
2,5%), o governo prevê agora expansão de 3,8% no ano (a projeção
anterior era de 3,2%).
O que permitiu a recuperação da
economia coreana foi a substancial
redução dos juros.
No início do ano passado, depois
de a moeda nacional, o won, ter sofrido forte desvalorização, o governo foi obrigado a elevar os juros. A
taxa que o banco central cobra dos
bancos comerciais nos empréstimos de um dia chegou a 30% ao
ano. Essa taxa é equivalente, no
Brasil, à Selic, que está em 39,5%.
A partir de meados de 1998,
quando a crise deu sinais de estar
sob controle, o banco central começou a reduzir drasticamente a
taxa. Hoje ela está em 4,85% ao
ano, e a expectativa oficial é de nova queda ainda neste mês.
A redução continuada dos juros
foi possível porque a inflação manteve-se sob controle. No mês passado, o índice de preços ao consumidor subiu a um ritmo anual de
apenas 0,7%, quando a meta oficial
para o ano é 3%.
Nesse aspecto, o quadro é semelhante ao do Brasil, se não em magnitude, pelo menos na natureza.
Aqui também foi a redução das
projeções de inflação que levou o
presidente do Banco Central, Armínio Fraga, a cortar os juros no
início desta semana.
Na Coréia, os juros baixos estimularam o consumo e a produção
industrial, as duas principais alavancas do PIB (Produto Interno
Bruto, a riqueza gerada pelo país).
O consumo aumentou 2,2% no
primeiro trimestre, depois de ter
caído 9,6% no ano passado.
A retomada do crescimento precisa ser relativizada pelo fato de a
base de comparação ser muito baixa. Mas a tendência é de o fôlego
aumentar. Neste semestre, a expansão esperada do PIB é de 3,6%.
No próximo, é de 4,0%.
A Coréia, que se tornou um dos
principais Tigres Asiáticos, cresceu, desde a década de 60, a taxas
anuais por vezes superiores a 10%.
Medo da valorização
O governo coreano, como o brasileiro, está preocupado com a valorização excessiva da moeda devido à entrada de capital estrangeiro,
o que poderia prejudicar a balança
comercial do país. Por isso, intervém no mercado, comprando dólares, em operações comparáveis
às realizadas no Brasil.
As duas crise cambiais tiveram
trajetórias paralelas. As desvalorizações do real e do won foram seguidas do "overshooting" da cotação do dólar. Mais tarde, as moedas nacionais se recuperaram, a
ponto de preocupar, ameaçando
parte das vantagens obtidas com
as desvalorizações.
Na Coréia, o governo tenta manter alguma vantagem comparativa.
Ontem, com um dólar compravam-se 1.223,10 wons em Seul, a
capital. Em 1997, a cotação média
foi de 950 wons. A desvalorização
no período foi de 22,3%.
A taxa de câmbio, ao contrário
do que se imagina, não foi suficiente para fazer as exportações
coreanas deslancharem.
Mesmo com seus produtos mais
competitivos no exterior, em 1998
as exportações caíram quase 5%,
para pouco mais de US$ 130 bilhões. Foi a queda ainda maior das
importações, de 36%, a responsável pelo superávit da ordem de US$
40 bilhões (após déficit de US$ 8,5
bilhões no ano anterior).
No primeiro trimestre, as exportações continuaram caindo (5,4%
em relação ao mesmo período de
1998), mas as importações, com o
fim da recessão, subiram 8,3%.
Texto Anterior: Grupo faz proposta a funcionários de TV Próximo Texto: Banco Central Europeu reduz juro para 2,5% Índice
|