São Paulo, Sexta-feira, 09 de Abril de 1999
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ÁSIA
"Tigre" sai de recessão com crescimento de 3,1% no primeiro trimestre; consumo aumenta e inflação fica sob controle
Juros baixos fazem Coréia crescer após crise

OSCAR PILAGALLO
Editor de Dinheiro

A Coréia do Sul, país frequentemente comparado ao Brasil, conseguiu emergir da profunda recessão do ano passado puxada por uma política de juros baixos e declinantes que não provocou o descontrole da inflação.
A retomada do crescimento é mais forte do que se esperava. No primeiro trimestre, a expansão foi de 3,1% em relação ao mesmo período de 1998, informou ontem o Banco Central da Coréia.
No ano passado, a economia do país havia encolhido 5,8%. Essa recessão -a maior desde a Guerra da Coréia, entre 1950 e 1953- foi consequência da crise cambial do final de 1997, quando o país esteve à beira da insolvência, tendo sido resgatado por um pacote de ajuda internacional liderado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

Papel dos juros
Com o resultado surpreendente dos primeiros três meses (o mercado estimava crescimento de até 2,5%), o governo prevê agora expansão de 3,8% no ano (a projeção anterior era de 3,2%).
O que permitiu a recuperação da economia coreana foi a substancial redução dos juros.
No início do ano passado, depois de a moeda nacional, o won, ter sofrido forte desvalorização, o governo foi obrigado a elevar os juros. A taxa que o banco central cobra dos bancos comerciais nos empréstimos de um dia chegou a 30% ao ano. Essa taxa é equivalente, no Brasil, à Selic, que está em 39,5%.
A partir de meados de 1998, quando a crise deu sinais de estar sob controle, o banco central começou a reduzir drasticamente a taxa. Hoje ela está em 4,85% ao ano, e a expectativa oficial é de nova queda ainda neste mês.
A redução continuada dos juros foi possível porque a inflação manteve-se sob controle. No mês passado, o índice de preços ao consumidor subiu a um ritmo anual de apenas 0,7%, quando a meta oficial para o ano é 3%.
Nesse aspecto, o quadro é semelhante ao do Brasil, se não em magnitude, pelo menos na natureza. Aqui também foi a redução das projeções de inflação que levou o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, a cortar os juros no início desta semana.
Na Coréia, os juros baixos estimularam o consumo e a produção industrial, as duas principais alavancas do PIB (Produto Interno Bruto, a riqueza gerada pelo país).
O consumo aumentou 2,2% no primeiro trimestre, depois de ter caído 9,6% no ano passado.
A retomada do crescimento precisa ser relativizada pelo fato de a base de comparação ser muito baixa. Mas a tendência é de o fôlego aumentar. Neste semestre, a expansão esperada do PIB é de 3,6%. No próximo, é de 4,0%.
A Coréia, que se tornou um dos principais Tigres Asiáticos, cresceu, desde a década de 60, a taxas anuais por vezes superiores a 10%.

Medo da valorização
O governo coreano, como o brasileiro, está preocupado com a valorização excessiva da moeda devido à entrada de capital estrangeiro, o que poderia prejudicar a balança comercial do país. Por isso, intervém no mercado, comprando dólares, em operações comparáveis às realizadas no Brasil.
As duas crise cambiais tiveram trajetórias paralelas. As desvalorizações do real e do won foram seguidas do "overshooting" da cotação do dólar. Mais tarde, as moedas nacionais se recuperaram, a ponto de preocupar, ameaçando parte das vantagens obtidas com as desvalorizações.
Na Coréia, o governo tenta manter alguma vantagem comparativa. Ontem, com um dólar compravam-se 1.223,10 wons em Seul, a capital. Em 1997, a cotação média foi de 950 wons. A desvalorização no período foi de 22,3%.
A taxa de câmbio, ao contrário do que se imagina, não foi suficiente para fazer as exportações coreanas deslancharem.
Mesmo com seus produtos mais competitivos no exterior, em 1998 as exportações caíram quase 5%, para pouco mais de US$ 130 bilhões. Foi a queda ainda maior das importações, de 36%, a responsável pelo superávit da ordem de US$ 40 bilhões (após déficit de US$ 8,5 bilhões no ano anterior).
No primeiro trimestre, as exportações continuaram caindo (5,4% em relação ao mesmo período de 1998), mas as importações, com o fim da recessão, subiram 8,3%.


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