São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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CONJUNTURA

Mercado devolve as críticas que o país fez das análises pessimistas

Para Wall Street, brasileiros rebaixaram Brasil primeiro

HUGH BRONSTEIN
DA REUTERS

Os estrategistas do mercado de títulos da dívida dos bancos de Wall Street sofreram críticas no Brasil pela publicação de advertências quanto aos riscos políticos e econômicos que o país enfrenta. Depois das reações iradas contra suas análises, agora devolvem as críticas: foram investidores nacionais, e não estrangeiros, que primeiro fizeram com que soassem os alarmes sobre o Brasil.
Na semana passada, os bancos de investimentos Morgan Stanley, Merrill Lynch, Santander e ABN Amro recomendaram que os investidores reduzissem seus investimentos em títulos da dívida brasileira. Os motivos apontados pelos analistas eram a inflação elevada, as dúvidas sobre o superávit fiscal e a crescente preocupação com a possibilidade de que um candidato de oposição vença a eleição presidencial de outubro.
Políticos e funcionários do governo lastimaram o que foi descrito como "reação exagerada" de Wall Street. O presidente das operações brasileiras do banco ABN Amro fez publicar um anúncio em jornal dizendo discordar da posição dos analisas do banco em Nova York. Mas Wall Street avalia que os investidores locais brasileiros foram os primeiros a começar a elevar as taxas de juros e a atacar as Bolsas e o mercado de câmbio do país no mês passado.
"A reação brasileira foi de fato irônica", disse Paulo Vieira da Cunha, economista sênior do Lehman Brothers, que recomendou aos investidores que mantivessem uma posição ligeiramente inclinada em favor dos títulos brasileiros. "Eles deveriam olhar para o seu quintal porque, muito antes que os bancos estrangeiros surgissem com avaliações negativas, os mercados domésticos vinham sinalizando uma piora nas expectativas", disse.
Desde 19 de abril, pouco antes que preocupações políticas começassem a prejudicar os mercados brasileiros, a Bolsa de Valores de São Paulo, dominada por investidores locais, teve uma baixa de notáveis 8,4% até o fechamento da terça-feira. Os títulos da dívida brasileira caíram em 6,2% durante o mesmo período.
"Inflação superior à esperada, resultados fiscais abaixo do esperado e o atraso do Legislativo na aprovação de uma prorrogação do crucial imposto sobre transações financeiras, CPMF, contribuíram para a inquietação local", diz Lenora Suki, estrategista de mercados soberanos no Santander Investment.
Arturo Porzecanski, diretor de estratégia de dívida e mercados soberanos no ABN Amro, avalia que não foi só a política mas "diversas coisas que acabaram dando errado para o Brasil em abril".
"Existe um sentimento unânime do mercado, expresso nos mercados de câmbio, ações, bônus e monetário, de que as coisas não estão parecendo tão boas quanto todos esperavam", diz.

Otimistas
Graham Stock, diretor de estratégia para mercados soberanos da América Latina na JP Morgan Securities, uma das empresas mais influentes do mercado, não parece hesitar muito ao contrariar a tendência e continuar recomendando os papéis brasileiros.
"O Brasil é o país que mais recomendamos. Acreditamos que o risco político tenha sido exagerado, no presente estágio", disse Stock. "Não há informação suficiente, nas pesquisas de opinião pública, para que acreditemos que um governo hostil ao mercado será eleito em outubro."
Os títulos brasileiros vêm sendo negociados com ágio de cerca de 9% em relação aos do Tesouro dos EUA, indicando risco mais alto do que o da Venezuela, onde o presidente perdeu seu cargo por dois dias depois de um golpe de Estado no mês passado.
"O Brasil é uma ótima oportunidade de investimento, com esse ágio de 900 pontos básicos", diz Stock (fazendo referência ao nível atual de risco-país).



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