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CONJUNTURA
Mercado devolve as críticas que o país fez das análises pessimistas
Para Wall Street, brasileiros rebaixaram Brasil primeiro
HUGH BRONSTEIN
DA REUTERS
Os estrategistas do mercado de
títulos da dívida dos bancos de
Wall Street sofreram críticas no
Brasil pela publicação de advertências quanto aos riscos políticos
e econômicos que o país enfrenta.
Depois das reações iradas contra
suas análises, agora devolvem as
críticas: foram investidores nacionais, e não estrangeiros, que primeiro fizeram com que soassem
os alarmes sobre o Brasil.
Na semana passada, os bancos
de investimentos Morgan Stanley,
Merrill Lynch, Santander e ABN
Amro recomendaram que os investidores reduzissem seus investimentos em títulos da dívida brasileira. Os motivos apontados pelos analistas eram a inflação elevada, as dúvidas sobre o superávit
fiscal e a crescente preocupação
com a possibilidade de que um
candidato de oposição vença a
eleição presidencial de outubro.
Políticos e funcionários do governo lastimaram o que foi descrito como "reação exagerada" de
Wall Street. O presidente das operações brasileiras do banco ABN
Amro fez publicar um anúncio
em jornal dizendo discordar da
posição dos analisas do banco em
Nova York. Mas Wall Street avalia
que os investidores locais brasileiros foram os primeiros a começar
a elevar as taxas de juros e a atacar
as Bolsas e o mercado de câmbio
do país no mês passado.
"A reação brasileira foi de fato
irônica", disse Paulo Vieira da
Cunha, economista sênior do
Lehman Brothers, que recomendou aos investidores que mantivessem uma posição ligeiramente
inclinada em favor dos títulos
brasileiros. "Eles deveriam olhar
para o seu quintal porque, muito
antes que os bancos estrangeiros
surgissem com avaliações negativas, os mercados domésticos vinham sinalizando uma piora nas
expectativas", disse.
Desde 19 de abril, pouco antes
que preocupações políticas começassem a prejudicar os mercados
brasileiros, a Bolsa de Valores de
São Paulo, dominada por investidores locais, teve uma baixa de
notáveis 8,4% até o fechamento
da terça-feira. Os títulos da dívida
brasileira caíram em 6,2% durante o mesmo período.
"Inflação superior à esperada,
resultados fiscais abaixo do esperado e o atraso do Legislativo na
aprovação de uma prorrogação
do crucial imposto sobre transações financeiras, CPMF, contribuíram para a inquietação local",
diz Lenora Suki, estrategista de
mercados soberanos no Santander Investment.
Arturo Porzecanski, diretor de
estratégia de dívida e mercados
soberanos no ABN Amro, avalia
que não foi só a política mas "diversas coisas que acabaram dando errado para o Brasil em abril".
"Existe um sentimento unânime do mercado, expresso nos
mercados de câmbio, ações, bônus e monetário, de que as coisas
não estão parecendo tão boas
quanto todos esperavam", diz.
Otimistas
Graham Stock, diretor de estratégia para mercados soberanos da
América Latina na JP Morgan Securities, uma das empresas mais
influentes do mercado, não parece hesitar muito ao contrariar a
tendência e continuar recomendando os papéis brasileiros.
"O Brasil é o país que mais recomendamos. Acreditamos que o
risco político tenha sido exagerado, no presente estágio", disse
Stock. "Não há informação suficiente, nas pesquisas de opinião
pública, para que acreditemos
que um governo hostil ao mercado será eleito em outubro."
Os títulos brasileiros vêm sendo
negociados com ágio de cerca de
9% em relação aos do Tesouro
dos EUA, indicando risco mais alto do que o da Venezuela, onde o
presidente perdeu seu cargo por
dois dias depois de um golpe de
Estado no mês passado.
"O Brasil é uma ótima oportunidade de investimento, com esse
ágio de 900 pontos básicos", diz
Stock (fazendo referência ao nível
atual de risco-país).
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