São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Negociadores se reunirão com presidente venezuelano para, depois, iniciar negociação sobre gás com Bolívia

Missão brasileira vê Chávez antes de Morales

PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA

A Petrobras inicia amanhã negociação direta com a Bolívia sobre o aumento de preço do gás, mas o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, antes se encontra com o venezuelano Hugo Chávez, principal apoiador da nacionalização feita por Evo Morales.
Gabrielli disse que irá à Bolívia amanhã em missão conjunta com com o ministro Silas Rondeau (Minas e Energia) para iniciar discussões sobre o preço do gás, mas, apesar das informações de que Chávez ajudou e influenciou a decisão boliviana de nacionalizar o petróleo e o gás, Gabrielli negou que o tema Bolívia esteja na pauta da visita a Chávez. "Tenho outros negócios com a Venezuela para tratar", disse o executivo.
Gabrielli reiterou que na negociação defenderá a posição de que o preço do gás não deve subir (como pretende a Bolívia), mas evitou falar em possíveis repasses para o consumidor.
"Quem está falando em fazer repasse? Eu estou dizendo que vai ser discutido primeiro o aumento. A posição da Petrobras é discutir e negociar. O presidente da [estatal boliviana] YPFB, Jorge Alvarado, diz que vai propor aumento e vamos dizer que não queremos aumento. Vamos sentar e discutir como dois representantes de empresas", disse Gabrielli, indagado sobre as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o aumento não chegará ao consumidor.
Gabrielli afirmou ainda que "não há diferença" entre sua posição e a do presidente Lula. "Há igualdade de posição: o que o presidente está dizendo é que não vai ter aumento. E eu estou dizendo que nós vamos discutir para não ter aumento."
Segundo Gabrielli, toda a negociação será conduzida respeitando os termos do contrato, que fixa que as partes têm 45 dias para chegar a um acordo sobre o preço. Se essa etapa não tiver resultado, a Petrobras e a YPFB -que compra o gás produzido na Bolívia- podem recorrer à arbitragem nos tribunais de Nova York.
"Vamos estabelecer uma discussão técnica com a YPFB e, dentro dos termos do contrato, defender a idéia que não há necessidade de aumento de preço." O contrato define que o preço do gás seja corrigido trimestralmente com base numa cesta de óleos, além de prever revisão nas regras de reajuste a cada cinco anos.
Gabrielli disse que são esses termos que quer ver cumpridos, embora não tenha fechado as portas para a negociação. "O presidente Jorge Alvarado falou em [um aumento de] US$ 1, US$ 2, US$ 3, US$ 4 [por milhão de BTU]. Eu estou falando em zero. Isso é um processo negocial normal", disse Gabrielli em Vitória (ES), após a inauguração do navio de produção e estocagem de petróleo FPSO Capixaba (no Espírito Santo).
Anteontem, o presidente boliviano Evo Morales defendeu um aumento de US$ 2 por milhão de BTU (unidade de gás) -ou 61% a mais do que os US$ 3,26 de hoje. Gabrielli evitou dizer se esse seria um aumento factível: "As negociações ainda não começaram. Não dá para fazer esse tipo de negociação pela imprensa".
A Petrobras prevê gastar neste ano US$ 1,2 bilhão com a importação de gás da Bolívia. Se o reajuste for de 61%, sua despesa saltará para US$ 1,932 bilhão, sendo mais US$ 732 milhões o valor que a empresa teria de absorver, caso o preço não seja repassado.
Além da questão do preço, Gabrielli disse a missão irá tratar de outras questões, como o caso das duas refinarias bolivianas nacionalizadas. Segundo ele, a Constituição boliviana prevê "indenização prévia e justa", o que não foi contemplado no decreto presidencial de nacionalização do gás.

Gás no ES
Inaugurado ontem, o FPSO (sistema de produção e escoamento de óleo) Capixaba (bacia do Espírito Santo) produzirá 100 mil barris/dia de óleo leve e 3,5 milhões metros cúbicos de gás por dia a ser escoado por um duto que ficará pronto em 45 dias. A produção, porém, não suprirá a demanda por gás nacional, que só será atendida a partir de 2008 com o início da produção da Bacia de Santos.


Texto Anterior: Expansão: Zona do euro crescerá menos, diz UE
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.