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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Negociadores se reunirão com presidente venezuelano para, depois, iniciar negociação sobre gás com Bolívia
Missão brasileira vê Chávez antes de Morales
PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA
A Petrobras inicia amanhã negociação direta com a Bolívia sobre o aumento de preço do gás,
mas o presidente da empresa, José
Sérgio Gabrielli, antes se encontra
com o venezuelano Hugo Chávez,
principal apoiador da nacionalização feita por Evo Morales.
Gabrielli disse que irá à Bolívia
amanhã em missão conjunta com
com o ministro Silas Rondeau
(Minas e Energia) para iniciar discussões sobre o preço do gás, mas,
apesar das informações de que
Chávez ajudou e influenciou a decisão boliviana de nacionalizar o
petróleo e o gás, Gabrielli negou
que o tema Bolívia esteja na pauta
da visita a Chávez. "Tenho outros
negócios com a Venezuela para
tratar", disse o executivo.
Gabrielli reiterou que na negociação defenderá a posição de que
o preço do gás não deve subir (como pretende a Bolívia), mas evitou falar em possíveis repasses para o consumidor.
"Quem está falando em fazer repasse? Eu estou dizendo que vai
ser discutido primeiro o aumento. A posição da Petrobras é discutir e negociar. O presidente da
[estatal boliviana] YPFB, Jorge Alvarado, diz que vai propor aumento e vamos dizer que não
queremos aumento. Vamos sentar e discutir como dois representantes de empresas", disse Gabrielli, indagado sobre as declarações do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva de que o aumento
não chegará ao consumidor.
Gabrielli afirmou ainda que
"não há diferença" entre sua posição e a do presidente Lula. "Há
igualdade de posição: o que o presidente está dizendo é que não vai
ter aumento. E eu estou dizendo
que nós vamos discutir para não
ter aumento."
Segundo Gabrielli, toda a negociação será conduzida respeitando os termos do contrato, que fixa
que as partes têm 45 dias para
chegar a um acordo sobre o preço. Se essa etapa não tiver resultado, a Petrobras e a YPFB -que
compra o gás produzido na Bolívia- podem recorrer à arbitragem nos tribunais de Nova York.
"Vamos estabelecer uma discussão técnica com a YPFB e, dentro dos termos do contrato, defender a idéia que não há necessidade de aumento de preço." O
contrato define que o preço do
gás seja corrigido trimestralmente com base numa cesta de óleos,
além de prever revisão nas regras
de reajuste a cada cinco anos.
Gabrielli disse que são esses termos que quer ver cumpridos, embora não tenha fechado as portas
para a negociação. "O presidente
Jorge Alvarado falou em [um aumento de] US$ 1, US$ 2, US$ 3,
US$ 4 [por milhão de BTU]. Eu
estou falando em zero. Isso é um
processo negocial normal", disse
Gabrielli em Vitória (ES), após a
inauguração do navio de produção e estocagem de petróleo FPSO
Capixaba (no Espírito Santo).
Anteontem, o presidente boliviano Evo Morales defendeu um
aumento de US$ 2 por milhão de
BTU (unidade de gás) -ou 61% a
mais do que os US$ 3,26 de hoje.
Gabrielli evitou dizer se esse seria
um aumento factível: "As negociações ainda não começaram.
Não dá para fazer esse tipo de negociação pela imprensa".
A Petrobras prevê gastar neste
ano US$ 1,2 bilhão com a importação de gás da Bolívia. Se o reajuste for de 61%, sua despesa saltará para US$ 1,932 bilhão, sendo
mais US$ 732 milhões o valor que
a empresa teria de absorver, caso
o preço não seja repassado.
Além da questão do preço, Gabrielli disse a missão irá tratar de
outras questões, como o caso das
duas refinarias bolivianas nacionalizadas. Segundo ele, a Constituição boliviana prevê "indenização prévia e justa", o que não foi
contemplado no decreto presidencial de nacionalização do gás.
Gás no ES
Inaugurado ontem, o FPSO (sistema de produção e escoamento
de óleo) Capixaba (bacia do Espírito Santo) produzirá 100 mil barris/dia de óleo leve e 3,5 milhões
metros cúbicos de gás por dia a
ser escoado por um duto que ficará pronto em 45 dias. A produção,
porém, não suprirá a demanda
por gás nacional, que só será atendida a partir de 2008 com o início
da produção da Bacia de Santos.
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