São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

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Lula descarta "retaliação" e reajuste e diz que negocia de forma "carinhosa"

EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além de mais uma vez prometer que o preço do gás no Brasil não vai aumentar com a nacionalização das reservas bolivianas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil não fará "provocações" nem adotará "retaliações" nas negociações com o vizinho sul-americano.
Lula quer agora a redução da dependência brasileira do gás da Bolívia. Segundo ele, que tratou do tema em seu programa semanal de rádio veiculado ontem, o país irá resolver a questão de forma "carinhosa" e "civilizada".
"Eu conheço a realidade da Bolívia, eu conheço a realidade do meu Brasil, e nós vamos, de forma muito, mas muito carinhosa, nos sentar em uma mesa de negociação, e qualquer problema que tivermos nós vamos resolver como tem que ser resolvido, de forma civilizada", disse o presidente.
"Não vamos fazer provocação, não vamos fazer retaliação a um país que é infinitamente mais pobre que o Brasil, um povo mais faminto que o povo brasileiro, então, nós estamos tratando isso com carinho. Eu sei que tem gente que gostaria que o Brasil fosse virulento, e a nossa política é de paz, é de acordo e é de sensatez."
Ontem, em reunião de quase três horas com a coordenação política do governo, Lula dividiu suas atenções entre a crise com os bolivianos e o retorno da turbulência do "mensalão" por conta das declarações do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira.
Segundo auxiliares, o presidente está mais preocupado com as reservas de hidrocarbonetos (petróleo e gás) da Bolívia. O Planalto tem trabalhado com cautela diante da crise pois sabe que a Bolívia tem menos alternativas que o Brasil diante de um eventual conflito diplomático. Os bolivianos, avalia o governo, teriam dificuldades para comercializar seu gás com outros países.
"O fato de a Bolívia nacionalizar o gás não significa que vai faltar gás no Brasil. Nem vai faltar gás e nem vai aumentar o preço do gás. Ele vai aumentar quando tiver que fazer a renovação de contrato [...] Você começa a barganhar e, aí, você encontra um número."

Pulso firme
Apesar das críticas da oposição, que sugere a falta de pulso do governo nas negociações com Evo Morales, Lula afirma estar tranqüilo diante das conversas brasileiras com a Bolívia. "Eu estou certo, estou tranqüilo, que o Brasil está fazendo o que deve ser feito. O Brasil não quer ser uma ilha de desenvolvimento cercada de países pobres ao lado. Nós queremos que todos tenham chance de crescer um pouco. O Brasil pode ajudar, e naquilo que nós pudermos ajudar, nós vamos ajudar."
A assessoria da Presidência informou ontem que Lula tem deixado claro à Petrobras seu aval para que a estatal busque opções para reduzir a dependência brasileira ao gás boliviano -responsável atualmente pela metade do que é consumido no Brasil.
"Nós estamos trabalhando agora, eu dei orientação ao ministro de Minas e Energia, ao presidente da Petrobras que nós precisamos trabalhar para que o Brasil seja independente. O Brasil não pode ficar dependendo de nenhum país, quando se tratar de uma questão energética importante para o desenvolvimento do Brasil. Nós temos condições de trabalhar nisso", disse, no programa "Café com o Presidente".


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