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Lula descarta "retaliação" e reajuste e
diz que negocia de forma "carinhosa"
EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Além de mais uma vez prometer
que o preço do gás no Brasil não
vai aumentar com a nacionalização das reservas bolivianas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
afirmou que o Brasil não fará
"provocações" nem adotará "retaliações" nas negociações com o
vizinho sul-americano.
Lula quer agora a redução da
dependência brasileira do gás da
Bolívia. Segundo ele, que tratou
do tema em seu programa semanal de rádio veiculado ontem, o
país irá resolver a questão de forma "carinhosa" e "civilizada".
"Eu conheço a realidade da Bolívia, eu conheço a realidade do
meu Brasil, e nós vamos, de forma
muito, mas muito carinhosa, nos
sentar em uma mesa de negociação, e qualquer problema que tivermos nós vamos resolver como
tem que ser resolvido, de forma
civilizada", disse o presidente.
"Não vamos fazer provocação,
não vamos fazer retaliação a um
país que é infinitamente mais pobre que o Brasil, um povo mais faminto que o povo brasileiro, então, nós estamos tratando isso
com carinho. Eu sei que tem gente
que gostaria que o Brasil fosse virulento, e a nossa política é de paz,
é de acordo e é de sensatez."
Ontem, em reunião de quase
três horas com a coordenação política do governo, Lula dividiu
suas atenções entre a crise com os
bolivianos e o retorno da turbulência do "mensalão" por conta
das declarações do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira.
Segundo auxiliares, o presidente está mais preocupado com as
reservas de hidrocarbonetos (petróleo e gás) da Bolívia. O Planalto
tem trabalhado com cautela diante da crise pois sabe que a Bolívia
tem menos alternativas que o Brasil diante de um eventual conflito
diplomático. Os bolivianos, avalia
o governo, teriam dificuldades
para comercializar seu gás com
outros países.
"O fato de a Bolívia nacionalizar
o gás não significa que vai faltar
gás no Brasil. Nem vai faltar gás e
nem vai aumentar o preço do gás.
Ele vai aumentar quando tiver
que fazer a renovação de contrato
[...] Você começa a barganhar e,
aí, você encontra um número."
Pulso firme
Apesar das críticas da oposição,
que sugere a falta de pulso do governo nas negociações com Evo
Morales, Lula afirma estar tranqüilo diante das conversas brasileiras com a Bolívia. "Eu estou
certo, estou tranqüilo, que o Brasil
está fazendo o que deve ser feito.
O Brasil não quer ser uma ilha de
desenvolvimento cercada de países pobres ao lado. Nós queremos
que todos tenham chance de crescer um pouco. O Brasil pode ajudar, e naquilo que nós pudermos
ajudar, nós vamos ajudar."
A assessoria da Presidência informou ontem que Lula tem deixado claro à Petrobras seu aval
para que a estatal busque opções
para reduzir a dependência brasileira ao gás boliviano -responsável atualmente pela metade do
que é consumido no Brasil.
"Nós estamos trabalhando agora, eu dei orientação ao ministro
de Minas e Energia, ao presidente
da Petrobras que nós precisamos
trabalhar para que o Brasil seja independente. O Brasil não pode ficar dependendo de nenhum país,
quando se tratar de uma questão
energética importante para o desenvolvimento do Brasil. Nós temos condições de trabalhar nisso", disse, no programa "Café
com o Presidente".
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