|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Das Bahamas para a Suíça
Está praticamente consumada a venda do Banco
Pactual para o UBS. Diferentemente das negociações com o
Goldman Sachs, desta vez a
venda contemplará 100% das
ações. O valor acertado foi de
US$ 1 bilhão. Alguns sócios ficarão como executivos, com
participação nos lucros. Outros, do grupo de Gilberto Sayão, pretendem sair para montar um fundo de "private
equity" como o da GP investimentos.
André Esteves e Gilberto Sayão controlavam 50% do capital votante cada um. De acordo
com informações do meio, Gilberto atua mais tecnicamente,
cuidando da área do "private
equity". Já Esteves atuava nas
operações mais controvertidas.
Além de ambos, cerca de 30 sócios participavam das ações
não-votantes do banco.
A UBS aceitou comprar só o
banco no Brasil. Com isso, ficam de fora da venda (e da tributação pela Receita) US$ 800
milhões acumulados fora do
país, com o POBT (Pactual
Overseas Bank & Trust), que
tem escritórios em Bahamas,
mas com atividades diretamente ligadas às atividades
brasileiras do Pactual. O Goldman não aceitou esse desenho
por considerar que essas atividades poderiam configurar lavagem de dinheiro e evasão fiscal. Em 2000, o Banco Central
do Brasil enviou correspondência ao Pactual em que pedia a
consolidação das operações de
Bahamas com a brasileira, mas
jamais foi atendido e não insistiu mais. Assim, a tributação de
apenas 15% (sobre ganhos de
capital) provavelmente incidirá sobre a parte declarada no
Brasil.
Já o UBS tem um apetite muito maior para essas estruturas
de fundações e "offshores" em
paraísos fiscais, mesmo porque
muitas delas são da Suíça e os
controles dos bancos suíços são
bastante frouxos. O Goldman
não aceitava, temerosa dos
efeitos da Lei Sarbanes-Oxley
- que visa coibir crimes fiscais
e práticas ilícitas de corporações americanas.
Outro ponto central é que o
UBS concordou com um "disclosure" (abertura de informações) limitado da operação. O
Pactual sempre quis fazer o
"disclosure" segmentado, ou
seja, a operação brasileira para
o Banco Central, a operação
das Bahamas para o Banco
Central de lá. O Goldman pretendia um "disclosure" único,
até para atender aos princípios
fiscais e regulatórios americanos, que consideram que só se
pode analisar uma operação
vendo o seu conjunto. Depois,
que cada autoridade nacional
se preocupasse com aquilo que
lhe fosse pertinente. A análise
consolidada poderia comprovar (ou não) se o Pactual usava
o POBT para operações de evasão fiscal.
Com o "disclosure" segmentado, será muito mais difícil
para as autoridades brasileiras
identificar eventuais aspectos
de evasão fiscal e lavagem de
dinheiro. Em 2000, o BC exigiu
que as duas operações fossem
consolidadas, mas se satisfez
com explicações superficiais do
Pactual para não insistir na
exigência.
O UBS também concordou
em deixar André Esteves como
presidente (CEO) do banco no
Brasil. O Goldman estava relutante em fazê-lo devido ao histórico de operações questionadas e da suspensão aplicada pelo Banco Central -que foi revogada no Conselhinho, apesar
das evidências de que as operações condenadas continuavam
a ser praticadas.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Lucro da Petrobras sobe 145% na Argentina Próximo Texto: Balanço: Bradesco lucra R$ 1,53 bi e bate recorde para trimestre Índice
|