São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

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Após negociações tensas, decisão sobre Itaipu é adiada

Lula e presidente paraguaio firmam posições e não chegam a acordo sobre energia

Para Brasil, paraguaios "ideologizam" negociações; Lugo insiste em receber mais pela energia produzida em hidrelétrica na fronteira


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A CAMPO GRANDE

Apesar das declarações e gestos públicos de simpatia mútua de ontem, foi o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva quem se irritou com o seu colega do Paraguai, Fernando Lugo, e suspendeu a reunião da véspera de ministros e assessores dos dois países.
As equipes passaram quase três horas no Itamaraty, mas nem chegaram a discutir o pacote de mais de US$ 1,5 bilhão do Brasil para o Paraguai.
Lula vinha recebendo um bolo diário de notícias da imprensa paraguaia, classificando o Brasil de "imperialista e explorador". Um jornal chegou a publicar que ele havia "afrouxado" e cederia às pressões.
Lula já chegou para o encontro com Lugo de mau humor. Antes da reunião de trabalho, trancou-se com ele no gabinete do chanceler Celso Amorim (que ficou do lado de fora) e, conforme a Folha apurou, reclamou da "ideologização" das negociações. Lugo reafirmou que só aceitaria um pacote com mudanças em Itaipu. Lula respondeu que não havia acordo.
Os ministros Amorim e Edison Lobão (Minas e Energia), o secretário-exetivo da Fazenda, Nélson Machado, e os presidentes e diretores de BNDES, Itaipu Binacional e Eletrobrás ficaram numa sala ao lado, com seus correspondentes paraguaios, sem saber o que fazer. O clima era de constrangimento.
Quando saíram do gabinete, os dois presidentes tinham um discurso diferente. Lugo insistiu em dizer que a revisão de Itaipu era uma questão de honra para o Paraguai e que ele recebia muitas pressões internas. Lula reagiu afirmando que "nenhum brasileiro aceita a acusação de que a dívida do Paraguai com o Brasil é espúria".
Em seguida, o chanceler paraguaio, Hector Lacognata, voltou à carga, admitindo que "Itaipu é uma bandeira" e criticando o Brasil por não reconhecer um "erro histórico" (ao fazer o tratado, que, na visão deles, seria contrário aos interesses paraguaios).
Amorim tentou contemporizar, falando na "boa vontade" brasileira e do pacote de mais de uma dúzia de convênios e programas de cooperação que o governo havia preparado. Mas o ministro da Fazenda paraguaio, Dionísio Borda, voltou ao tema Itaipu.

"Para o jantar"
Lula, então, olhou para ministros e assessores brasileiros: "Não temos mais o que fazer, vamos para o jantar".
Todos saíram sem reunião e sem assinatura de atos, pronunciamento e entrevista.
O jantar foi no Palácio da Alvorada, com Lula falante, contando reminiscências de sua época de sindicalista, e Lugo calado, quase taciturno.
Conforme a Folha apurou, Lula considera que Lugo está "refém" de suas promessas da campanha eleitoral, de que falaria duro com o Brasil e mudaria o tratado para aumentar o preço da energia excedente que vende ao sócio no empreendimento. Fragilizado politicamente por causa das notícias de paternidade enquanto ainda era bispo católico, ele estaria se "agarrando" a essa bandeira para manter popularidade.
O Brasil não aceita mudar os termos do tratado para permitir que o Paraguai venda o excedente de energia (mais de 90% da sua parte) para a Argentina e o Chile nem concorda com a argumentação de que paga pouco pela energia. O preço é de US$ 45, mas US$ 42 entram como abatimento da dívida do Paraguai com o Brasil, que financiou sozinho a construção da usina.
O impasse empurrou as negociações, que já duram meses, para a estaca zero. Os dois presidentes, porém, anunciaram ontem que terão encontro entre 14 e 15 de junho, em Assunção, para fechar um "pacote".
Lula disse que o Brasil aceita duas reivindicações paraguaias: a direção paritária e a finalização de obras complementares. Para Lugo, porém, esses compromissos são pouco e não resolvem o impasse.


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