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Próximo presidente já tem R$ 12 bi a pagar
Valor representa o impacto das medidas de aumento de gastos anunciadas pelo governo e que só entrarão em vigor em 2007
Elevação das despesas,
como reajuste de servidores
e do salário mínimo, ameaça
o cumprimento da meta de
ajuste fiscal no ano que vem
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou outro candidato
que vier a vencer as eleições começará o mandato com uma
conta de R$ 12,2 bilhões para
pagar. Esse é o impacto das medidas de aumento de gastos
anunciadas pelo governo e que
só entrarão em vigor em 2007.
Essas despesas vão engordar
a conta dos gastos primários do
governo, que excluem apenas o
pagamento de juros, e ameaçam o cumprimento da meta de
ajuste fiscal do ano que vem.
Entre os gastos que o governo está jogando para o Orçamento de 2007 estão R$ 5,3 bilhões de salários dos servidores
e R$ 3,4 bilhões do reajuste do
salário mínimo para R$ 350.
Como essas medidas não entraram em vigor no início de 2006,
o impacto calculado para este
ano acaba sendo subestimado.
No caso do salário mínimo, o
impacto de R$ 5,3 bilhões nas
contas da Previdência Social é
referente ao período entre
maio e dezembro deste ano.
Caso o governo corrija o mínimo em 2007 de acordo com as
regras estabelecidas pela LDO
(Lei de Diretrizes Orçamentárias), que garante a reposição
da inflação no período mais o
percentual da expansão do PIB
per capita, o governo terá que
arrumar mais R$ 3,4 bilhões.
O aumento dos gastos primários não é uma novidade deste
ano, nem do governo Lula. Sobe
há dez anos. Em 1995, primeiro
ano do governo FHC, as despesas do Tesouro, da Previdência
e do Banco Central somavam
16,5% do PIB. Neste ano, devem chegar a 22,8% do PIB.
O que chama a atenção em
2006 e que acende a luz amarela entre os analistas econômicos é que o crescimento da despesa está concentrado em gastos que não podem ser reduzidos, os chamados gastos correntes. É o caso do reajuste do
mínimo e dos servidores. "O
governo não pode aumentar as
despesas em termos reais em
2007 ou não cumprirá a meta
de superávit primário", diz o
economista-chefe do Banco
Itaú, Tomás Málaga.
Segundo cálculos do economista Guilherme Loureiro, da
Consultoria Tendências, a parcela das despesas que o governo
pode cortar para compensar os
aumentos de gastos ou um
frustração na arrecadação é de
só 1,5% do PIB, e, para cumprir
a meta de superávit primário de
4,25% do PIB, será necessário
cortar despesas em valor equivalente a 0,26% do PIB. O superávit primário é a economia
que o governo faz para pagar
parte do juro da dívida pública.
"A situação está ficando apertada, mesmo", diz Loureiro.
Deixar de investir
Sempre que o governo eleva
seus gastos obrigatórios, está,
na verdade, deixando de investir. Com os R$ 5,3 bilhões que
serão gastos para pagar o reajuste do funcionalismo em
2007, o governo poderia, por
exemplo, dobrar o investimento em transportes e ainda sobraria R$ 1,1 bilhão.
A dificuldade em cortar gastos não implica problemas só
no curto prazo. As projeções
feitas por Loureiro mostram
que a capacidade de o governo
cumprir a meta de 4,25% do
PIB se esgotará em 2011. Com
os gastos engessados e sem
conseguir elevar a carga tributária, a saída está nas reformas,
entre elas a da Previdência.
A desvinculação das receitas
e a redução de transferências
para Estados e municípios são
defendidas pelos economistas,
mas os obstáculos políticos inviabilizam sua adoção.
"Estamos numa encruzilhada fiscal. O modelo de ajuste
que aumenta receitas, mantém
o investimento baixo e eleva os
gastos correntes está se esgotando. O próximo governo vai
ter que agir", diz o economista
Raul Velloso, especialista em
contas públicas.
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