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CUT promete dar "apoio crítico" a Lula
Com novo dirigente, maior central sindical do país diz que pressionará governo por mais investimentos na área social
Redução de juros, jornada de trabalho mais curta e combate à terceirização
estão na lista de prioridades
da nova liderança da CUT
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sob o comando de Artur
Henrique da Silva Santos, 44, a
CUT (Central Única dos Trabalhadores) vai apoiar a reeleição
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, mas pretende ser mais
"crítica" em relação ao governo
petista. Em congresso realizado no início de junho, Santos
foi eleito o novo presidente da
maior central sindical da América Latina. A CUT representa
cerca de 3.000 sindicatos e 21
milhões de trabalhadores.
Sociólogo de formação e representante dos eletricitários,
ele diz que a central quer mobilizar os trabalhadores para
pressionar o governo a mudar a
política econômica, investir em
áreas sociais e negociar a pauta
dos trabalhadores. "É preciso
reduzir a jornada de trabalho
sem reduzir salários, limitar as
horas extras e combater a terceirização". Leia os principais
trechos da entrevista:
FOLHA - A CUT anunciou em seu
congresso apoio à reeleição de Lula.
Como será esse apoio?
ARTUR HENRIQUE DA SILVA SANTOS -
No congresso, decidimos que é
preciso impedir o retrocesso e a
volta de um projeto neoliberal
de privatização. Mas tem de haver mobilização dos movimentos sociais para pressionar por
mudanças. Não basta apenas
dizer que apoiamos a reeleição
de Lula. Queremos mobilizar
os trabalhadores para poder
pressionar o governo. Sem
pressão, não haverá mudanças.
É preciso apoiar, mas com uma
visão crítica.
FOLHA - Como a central vai pressionar por mudanças? A CUT foi acusada de ter uma atuação "chapa-branca" em relação ao governo.
SANTOS - Em vez de levantar
bandeiras contra isso ou aquilo,
vamos continuar fazendo propostas para convencer a sociedade e os movimentos sociais a
pressionar o governo por mudanças. Em relação à conduta
da CUT, durante o governo Lula, os sindicatos não fizeram
greves apenas em empresas
privadas. As greves ocorreram
em empresas públicas, nas que
são controladas pelo Estado.
Houve paralisações de bancários, metalúrgicos, eletricitários e do funcionalismo. Foram
greves de enfrentamento com o
governo em relação às propostas apresentadas.
FOLHA - Na prática, como será o
apoio à reeleição?
SANTOS - Os sindicatos vão discutir com os trabalhadores o
que representa o projeto do
PSDB e do PFL e o que representa o projeto de Lula. Isso
não quer dizer que votar no Lula significa que todos os nossos
problemas estão resolvidos.
Não basta reeleger Lula. Os
movimentos sociais têm de retomar com força as mobilizações para implementar as reivindicações dos trabalhadores.
É preciso reduzir a jornada de
trabalho sem reduzir salários,
limitar as horas extras, combater a terceirização. A CUT, no
próximo período, tem de retomar um processo muito forte
com as demais centrais sindicais e fazer uma grande campanha de mobilização. É preciso
colocar a massa na rua para
pressionar [o governo].
FOLHA - Onde o governo Lula falhou, na sua avaliação?
SANTOS - O ponto positivo deste governo foi abrir espaço de
diálogo e negociação com os
movimentos sociais. Durante o
governo FHC, e mesmo em São
Paulo, não se conseguia nem
sequer conversar e negociar. A
CUT mobilizava os trabalhadores e colava cartazes do tipo
"diga não a isso" ou "não àquilo". Agora, é obrigada a apresentar alternativas, tem de ser
propositiva. Em várias áreas,
como na reforma agrária, na
questão da Previdência, da saúde, é preciso haver mudanças
claras de rumos quando se fala
no papel do Estado. Falta sair
dessa armadilha da política macroeconômica para garantir
mais investimentos nas políticas públicas e sociais. Faltou investir na saúde, na educação e
na contratação de trabalhadores por concurso público. Não
para inchar a máquina, mas é
preciso acabar com a terceirização. Pretendemos fazer uma
campanha nacional para mostrar os prejuízos da terceirização e trabalhar essa questão
nas negociações coletivas e mudando a legislação. Queremos
que os terceirizados possam ser
representados por aqueles sindicatos que estão na chamada
categoria principal.
FOLHA - O que é necessário mudar
na política econômica?
SANTOS - É preciso implementar no Brasil uma política de redução mais acentuada da taxa
de juros e do superávit primário, além de ampliar o Conselho
Monetário Nacional. Não é
possível continuar, num segundo mandato do governo Lula,
com somente três pessoas tomando decisões na questão
macroeconômica: o presidente
do Banco Central, o ministro da
Fazenda e o ministro do Planejamento. Tem de democratizar
o conselho com a participação
de empresários e trabalhadores. E incluir, além da meta de
inflação, metas de crescimento
e emprego. Apesar de o governo
Lula ter gerado empregos, o número ainda é insuficiente para
a quantidade de pessoas que estão fora do mercado. Quando se
estabelecem metas de crescimento e emprego, você força a
discussão do Orçamento. Precisamos de mais dinheiro para
investir em políticas públicas e
infra-estrutura.
FOLHA - O que muda na CUT com
essa nova gestão?
SANTOS - É preciso mudar a estrutura da central, formar novos dirigentes e ampliar a organização no local de trabalho. Na
década de 80, o novo sindicalismo tirou os dirigentes do castelo da estrutura sindical e foi para a porta das empresas. Agora,
para poder acompanhar as mudanças no mundo do trabalho,
é preciso organizar os trabalhadores no interior da fábrica, do
banco, da escola e ocupar esse
espaço de representação. Isso
exige uma mudança cultural
muito forte no Brasil. Grandes
empresas já chegaram à conclusão de que, quando há mais
organização no local de trabalho, surgem menos processos
na Justiça porque os conflitos
são resolvidos no local de trabalho. Mas poucos empresários
pensam assim.
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