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POLÍTICA MONETÁRIA
Devido a dificuldades fiscais, governo é levado a aumentar taxa em leilão interno e captação externa
BC paga juro alto para rolar a dívida
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
O governo brasileiro pagou ontem juros considerados altos para
rolar sua dívida tanto no mercado
interno como no externo.
O Banco Central deu início ao
plano de alongar a dívida interna,
lançando títulos prefixados com
prazo de um ano. Desde abril de
98 não colocava papéis com esse
prazo. Também fez a estréia dos
bônus da República no mercado
de títulos denominados em euro.
A avaliação de analistas é que,
ao aceitar juros elevados, o BC optou por sancionar a percepção do
mercado de que existem dificuldades para equacionar o déficit
fiscal do país.
As muitas liminares contra a cobrança da CPMF, os problemas
ainda pendentes sobre a contribuição dos funcionários públicos
inativos, o repique da inflação em
junho, as crises na base aliada do
governo e novos temores com relação à Argentina foram alguns
dos principais fatores que tornaram o ambiente desfavorável a
novas captações do governo nesta
semana. São vistos como obstáculos ao cumprimento do ajuste.
A alternativa do governo, ao
menos na emissão interna, seria a
de rejeitar os juros pedidos pelos
bancos. Nesse caso, o BC corria o
risco, talvez mais sério, de alimentar especulações sobre a capacidade de rolagem da dívida.
No mercado interno, o BC vendeu R$ 500 milhões em títulos
prefixados com vencimento em
um ano. Pagou taxa média de
25,65% e máxima de 26,08%, enquanto a Selic (taxa básica do
mercado) está em 21%.
Na Europa, foram colocados
bônus da República de três anos
no valor de 700 milhões de euros
(US$ 714 milhões), que pagaram
taxa de 9,7% ao ano.
"Ao pagar esses prêmios, o governo reconhece que a área fiscal
gera incertezas. Tanto lá fora como aqui dentro, a opção do governo foi reconhecer que a situação fiscal é ruim", disse Octávio
de Barros, economista-chefe do
Banco Bilbao Vizcaya.
Barros lembrou que, na segunda-feira, a Telefónica da Argentina emitiu bônus de mesmo prazo
no mercado europeu pagando taxa de 7,25% ao ano.
"Quando transformamos os valores de euros para dólares, percebemos que o custo da captação
em euros foi alta mesmo", disse
Marco Maciel, analista de renda
fixa do Banco Bozano, Simonsen.
Em dólares, o bônus brasileiro
pagou taxa de 12,46%, apenas um
pouco inferior ao Brasil 27, que
tem vencimento em 2007, e está
com juros de 13,4%.
Por ser um papel de duração
muito mais curta, o bônus emitido ontem deveria pagar taxa bem
mais baixa, diz ele. Títulos de
maior prazo, em tese, representam risco maior para o investidor,
pois significa que terá de esperar
mais para receber o dinheiro.
O economista Marcelo Allain,
do Banco BMC, considerou preocupante o prêmio pago nos títulos
prefixados de um ano. Segundo
ele, aceitar cinco pontos sobre a
taxa atual do overnight é prêmio
muito alto, principalmente porque a previsão é de queda dos juros de curto prazo.
Ele disse que não foi o dia ideal
para colocar títulos prefixados de
longo prazo. "A suspensão da
CPMF no Rio Grande do Sul trouxe dúvidas sobre o ajuste e os juros subiram no mercado futuro."
O prêmio maior pago para rolar
a dívida pública -o título externo também tem essa função; os
recursos devem servir para amortizar os empréstimos do Banco do
Japão e do BIS- não necessariamente significa um aumento do
risco do país.
"O "risco Brasil" continua o mesmo de um mês atrás. Obviamente, as contas públicas e a balança
comercial preocupam, mas o
mercado aproveitou o cenário para pedir taxas mais altas e conseguiu", diz Maciel, do Bozano.
Apesar do ceticismo do mercado, o governo foi unânime em comemorar tanto a estréia do país
no mercado em euro quanto a
volta dos títulos de um ano.
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, considerou que o
lançamento de bônus denominados em euros superou as expectativas.
"Essa emissão foi um sucesso. A
qualidade da distribuição foi excelente, atingindo base ampla de
investidores com perfil de longo
prazo", disse Fraga, por meio da
assessoria de imprensa do BC.
Na avaliação do secretário do
Tesouro Nacional, Fábio Barbosa,
a venda das LTN de um ano (vencimento em 5 de julho de 2000) foi
uma "boa reestréia", apesar das
taxas de juros mais altas.
Barbosa explicou que havia
consenso do mercado em torno
da taxa de juros reivindicada. O
atendimento a essa demanda,
apesar do custo maior para o governo, deverá "reforçar a credibilidade" do mercado nos leilões do
mesmo papel que devem se repetir nas próximas três semanas de
R$ 500 milhões cada.
"Se adotássemos uma iniciativa
errática e oportunista, a credibilidade nos próximos leilões poderia ser afetada", afirmou Barbosa,
referindo-se à opção de suspender o leilão à espera de redução da
pressão do mercado. "Se há consenso do mercado sobre os juros,
temos de atendê-lo."
O diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Daniel
Gleizer, e o secretário de Política
Econômica do Ministério da Fazenda, Edward Amadeo, que
anunciaram o resultado em Londres, consideraram o lançamento
dos bônus da República na Europa "missão cumprida".
"Estamos reconstituindo a credibilidade dos investidores estrangeiros, não dá para transformar água em vinho da noite para
o dia", disse Gleizer, que fez várias
apresentações sobre a situação
econômica do país a investidores
europeus.
Colaboraram Marcelo Diego, da Reportagem Local, Gabriel J. de Carvalho, da Redação, Sylvia Colombo, de Londres, e a Sucursal de Brasília.
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