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ANÁLISE/MEGAPACOTE
FMI aposta seu futuro no Brasil -e vice-versa
DO "FINANCIAL TIMES"
Esqueçam a retórica de que
os grandes pacotes de resgate
nacional eram coisa do passado. É
difícil que surjam pacotes maiores do que o empréstimo de US$
30 bilhões que o Fundo Monetário Internacional (FMI) está oferecendo ao Brasil. Se o resgate fracassar, ele destruirá não só a frágil
economia brasileira mas a razão
de ser mesma do Fundo.
A recente crise de confiança na
economia brasileira deixou poucas opções para as autoridades.
Elas poderiam ter escolhido a inação, e permitir que o real caísse e
causasse um número elevado de
falências, porque as empresas não
seriam capazes de pagar suas dívidas denominadas em dólares. O
resultado: recessão e moratória.
As autoridades brasileiras poderiam ter defendido a moeda
com taxas de juros muito mais altas, e causado a falência de um
conjunto diferente de empresas
nacionais. Elas poderiam ter reduzido seus prejuízos por meio de
uma moratória imediata da dívida. Mas, sem que um sistema para
falências nacionais esteja em vigor, isso teria sido caótico, provavelmente conduziria ao mesmo
resultado desagradável e causaria
contágio, espalhando os problemas brasileiros por toda a América Latina.
O empréstimo do FMI oferece a
única esperança de um desfecho
feliz para o Brasil. Ele dá ao país
uma chance de restaurar sua confiança e de obter crescimento econômico que reduza os problemas
de solvência do governo.
O resgate do Brasil pode funcionar. Um dos fatores que deflagrou
a recente crise de confiança foram
as declarações impensadas e quase caluniosas de Paul O'Neill sobre a corrupção na América Latina, de modo que o apoio firme
dos Estados Unidos a esse empréstimo deve reparar boa parte
dos danos que ele causou.
O Brasil, diferentemente da Argentina, também aderiu às metas
acertadas em seus acordos com o
FMI para a limitação de seu déficit
público. E o risco político que afetaria o pacote depois das eleições
de outubro foi evitado ao menos
em parte pela concepção inteligente do pacote de assistência.
Cerca de 80% do valor do empréstimo foi adiado até 2003, e o
desembolso foi vinculado à manutenção do controle do déficit
público. Se um candidato oposicionista conquistar a Presidência
e decidir gastar descontroladamente, o dinheiro do FMI não
chegará ao Brasil.
Mas o sucesso não está garantido. A solvência brasileira está no
fio da navalha. O crescimento
econômico sempre lento (que
não é estimulado em nada pelos
cortes de gastos dos governos),
um aumento no déficit público ou
uma nova alta das taxas de juros
poderiam facilmente deflagrar
nova crise de confiança. E não resta dúvida de que esse plano de resgate acarreta o risco de estimular
empréstimos bastante irresponsáveis ao Brasil.
Outro fato ominoso é que não
há como negar que os motivos para que o FMI concedesse esse empréstimo foram essencialmente
políticos. O Fundo queria demonstrar que ainda continua a ter
uma função, e o governo dos Estados Unidos estava desesperado
para reparar os danos que a língua solta de O'Neill causou na região. Se assim for, aumentam as chances de que o plano fracasse.
O benefício da dúvida deveria ser concedido ao FMI e ao Brasil.
A economia brasileira é importante demais para que seu colapso
seja permitido, e não está condenada ao fracasso e à moratória.
Mas os argumentos favoráveis e contrários ao plano estão equilibrados de maneira precária: permitir que a Argentina passasse por mais alguns meses de incerteza antes de sua moratória não ajudou ninguém. O FMI fez uma aposta gigantesca.
Tradução de Paulo Migliacci
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