São Paulo, sexta-feira, 09 de agosto de 2002

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Em seminário, economista defende manutenção da política da era FHC

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Qualquer que seja o resultado da eleição presidencial, significaria um ""erro" para o próximo governo se desviar das linhas gerais da política econômica da era Fernando Henrique Cardoso.
Em síntese, foi esse o discurso praticado ontem pelos economistas Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia (EUA), Paulo Leme, diretor do banco Goldman Sachs, e por Robert Berges, estrategista da agência de investimentos Merrill Lynch, durante seminário em São Paulo.
Por "linhas gerais" entenda-se a manutenção de regime de metas de inflação, do superávit primário nas contas públicas, do respeito a contratos (em outras palavras, se abster de propostas de moratória ou reestruturação voluntária da dívida), além de continuidade do sistema de câmbio flutuante.
Incisivo, Leme, do Goldman Sachs, sustentou que, não bastassem esses compromissos, o próximo governo terá que em 2003 aumentar dos atuais 3,75% para 5% do PIB (Produto Interno Bruto) o nível de superávit primário. Seriam dois os objetivos: conter o crescimento da relação dívida/ PIB e sinalizar para os investidores a "seriedade" da nova gestão.
De qualquer forma, pelo menos os atuais 3,75% de superávit primário o sucessor de FHC terá que manter até 2005. Isso se quiser ter direito aos desembolsos previstos no pacote de US$ 30 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional), anunciado anteontem. Pelo pacote, o Brasil receberá só US$ 6 bilhões este ano. Os demais US$ 24 bilhões serão desembolsados ao longo de 2003, desde que cumprida a meta de superávit.
""Dinheiro não cai do céu. O custo político de Ciro ou Lula de aderirem ao pacote é menor do prejuízo de ficar sem o acordo", diz Leme. ""As restrições do Orçamento do ano que vem são muito grandes e o fluxo de investimento hoje é um terço do que era em 1998", completa, em referência às dificuldades que o país teria para fechar suas contas sem o FMI.
""O povo brasileiro vai determinar o resultado da eleição. E o novo presidente é quem decidirá se vale a pena seguir linha diferente (da atual). A meu ver, seria um engano", disse Fishlow, ex-professor do ministro Pedro Malan.
Segundo Fishlow, o acordo com o FMI permitirá ao Brasil se livrar ""de um movimento especulativo, que obriga o governo a pagar juros altos". ""Haverá possibilidades de voltar a focalizar atenção nas coisas relevantes", disse ele.
Para o professor, as prioridades do sucessor de FHC devem ser o aumento do nível das exportações e da poupança interna, como forma de minimizar a necessidade de investimento estrangeiro.
""Se agirem com responsabilidade e tomarem medidas adequadas, o mercado pode conceder o benefício da dúvida", disse Robert Berges, da Merrill Lynch, ao comentar uma eventual vitória de Lula ou Ciro Gomes.



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