São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Emergentes vão impedir recessão, diz "pai" do Bric

Para O'Neill, do Goldman Sachs, socorro deve impedir "recessão forte" nos EUA

Economista elogia BC do Brasil e diz que queda da Bovespa, muito dependente das commodities, não deveria causar surpresa


FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Jim O'Neill, economista-chefe do banco Goldman Sachs e criador da expressão Bric (em referência a Brasil, Rússia, Índia e China), afirma que o plano de resgate do Tesouro norte-americano para o setor imobiliário deve livrar os EUA de uma "recessão severa".
Já o mundo como um todo, na sua opinião, não entrará em recessão, mesmo que as economias avançadas o façam, unicamente por causa do desempenho dos emergentes, em especial dos Brics. "Nunca tivemos uma situação como essa na história moderna", afirma. Leia a entrevista à Folha:

 

FOLHA - Como o mercado reagirá nos próximos dias ao pacote bilionário para o setor imobiliário dos EUA?
JIM O'NEILL
- É de se esperar uma reação positiva. Diante do temor maior de que haja uma piora no cenário geral, com um recessão global mais profunda, o anúncio é uma grande notícia. Reduz muito o risco de uma recessão forte nos EUA e pode levar as pessoas a começarem a enxergar alguma luz no final do túnel da crise imobiliária.

FOLHA - O sr. crê que os Brics continuarão se saindo bem?
O'NEILL
- São ridículas algumas análises que começam a afirmar que a festa acabou para eles. A China se desacelerou de um longo período de crescimento entre 10% e 12% para algo entre 8% e 10%, as exportações estão se reduzindo de maneira significativa, e os níveis de investimentos amenizaram. Mas o mais importante para o resto do mundo é que o consumo interno da China está crescendo, mesmo que devagar. O que temos na China hoje é um "desaquecimento feliz". Outra notícia importante é que a inflação chinesa está cedendo, de mais de 8% em abril para algo como 5,5%.
A Índia está esfriando um pouco, com os preços altos do petróleo tendo causado alguns problemas no país. Mas a recente queda nesses preços também é boa notícia para a Índia. A economia russa também vem se desacelerando, mas pouco.

FOLHA - No caso do Brasil, alguns indicadores já mostram uma fase de acomodação. Mesmo assim, há uma expectativa de que o Banco Central volte a aumentar os juros nesta semana. Não é exagero?
O'NEILL
- O que mais me impressiona em relação ao Brasil é que o Banco Central está se tornando um dos mais respeitáveis do mundo. Se ele tem uma meta de inflação a seguir, não pode ignorá-la. É muito importante que as autoridades segurem neste momento as expectativas de inflação. Até aqui, apesar dos pesares, o Brasil tem se comportado muito bem.
Por outro lado, muita gente está preocupada com o desempenho da Bolsa brasileira. Mas é preciso ter em conta que ela é muito dependente do setor de commodities [mais de 40% do Ibovespa é vinculado ao setor de produtos básicos].

FOLHA - Quais são as perspectivas para as economias mais maduras agora que a Europa apresenta crescimento negativo e os EUA continuam indefinidos?
O'NEILL
- O mundo hoje é um lugar muito peculiar. Se olharmos para as economias avançadas, para o G7 [EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão], estão todas praticamente em recessão. A despeito disso, a economia mundial cresce em um ritmo superior a 3,5%.
Nunca tivemos uma situação como essa na história moderna. A última vez que o G7 estava assim foi em 2001, e o mundo estava muito próximo de uma recessão.
Por a China e os outros Brics serem hoje tão importantes, a situação não está tão ruim como muita gente vem pintando.
Na minha opinião, a China é o principal país a prestarmos muita atenção daqui em diante. Se as vendas do comércio chinês continuarem a subir, como vêm subindo -e no mês passado aumentaram 23%, um recorde em dez anos-, não há nenhuma chance de o mundo entrar em recessão. Nenhuma chance mesmo.


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